General diz que Bolsonaro se elegeu falando de “combate à corrupção, fazer uma nova política” só que nada mudou e a corrupção continua
O general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência, disse que Jair Bolsonaro traiu as bandeiras com as quais foi eleito e desrespeita as instituições democráticas. O general defendeu uma alternativa a Bolsonaro e a Lula nas eleições de 2022.
Santos Cruz criticou o governo Bolsonaro por não ter “capacidade de mexer na estrutura e modificar os vícios existentes”.
“O governo não mostrou até agora capacidade de modificar essas estruturas problemáticas. É muita preocupação com coisas supérfluas, é uma campanha eleitoral permanente. Você não senta para trabalhar e mudar essa estrutura. A atenção fica desviada para outras questões menos importantes” e isso permite que a corrupção aconteça dentro do governo, como no caso da compra da vacina Covaxin, disse em entrevista à revista Crusoé.
O general disse que Bolsonaro se elegeu falando de “combate à corrupção, fazer uma nova política, que não fosse toma lá dá cá”, “só que, depois, na prática, aquilo não se concretizou”. “Logo os extremistas passaram a ter influência do governo”, relatou.
“A gente mudou o governo para melhorar o nível do nosso relacionamento social e político, não para chegar ao nível daquela escória extremista. Não há mais discussão de ideias. Há apenas ataques pessoais, os mais baixos possíveis”, continuou.
BOLSONARO DESRESPEITA AS INSTITUIÇÕES
Santos Cruz disse que “o Exército não é a única instituição que tem sofrido com esse comportamento” de Jair Bolsonaro.
“Por exemplo, o Ministério da Saúde: um dia o ministro diz que tem de usar máscara e no outro dia o presidente da República sai na rua sem máscara”, avaliou.
“Ou a Anvisa, que é um órgão técnico: aprova a vacina um dia, e no dia seguinte o presidente diz que a vacina não tem amparo técnico”, argumentou.
“É um vício dele desprestigiar as instituições. São muitos os exemplos. É uma falta de noção pessoal. Todas as instituições devem ser valorizadas, não o contrário”, sentenciou.
BOLSONARO AGRAVOU A PANDEMIA
O general criticou ainda a postura e a atuação de Jair Bolsonaro no combate à pandemia.
“Em primeiro lugar, a falta de liderança. Diante de uma situação complexa como essa, a autoridade maior tem de chamar a responsabilidade para ela e conduzir o processo”.
“Nós tivemos politização até de medicamento. Ainda estamos discutindo se tem remédio que funciona ou não funciona. E o pior é que uma discussão que não é técnica. É mais um show no qual escutamos mais coisas absurdas”
“Outra coisa é a falta de união nacional. A autoridade maior tinha de convocar governadores, prefeitos, toda a classe política, para esquecer temporariamente os objetivos partidários e pessoais e se unir. A falta de liderança tem como consequência a falta de união nacional”, acrescentou.
“E daí vem a politização do assunto e a falta de utilização da estrutura existente dentro do governo para um aconselhamento técnico. Nós tivemos politização até de medicamento. Ainda estamos discutindo se tem remédio que funciona ou não funciona. E o pior é que uma discussão que não é técnica. É mais um show no qual escutamos mais coisas absurdas”, afirmou.
NEM LULA, NEM BOLSONARO
O general Santos Cruz disse que rejeita a candidatura de Bolsonaro e a de Lula, em 2022. “Vejo hoje um quadro com duas opções que o Brasil não merece. O Brasil merece uma opção que entregue paz e união. O Brasil está desunido e não é de hoje”.
“Não podemos esquecer que foi o próprio PT que começou a investir na divisão social. E tem outra coisa importante: o Partido dos Trabalhadores teve oportunidade de governar por três mandatos e meio, praticamente. Teve a oportunidade dele. Realizou algumas coisas e outras não realizou, como qualquer governo. Mas terminou o ciclo muito desgastado por escândalos e demagogia. Acho que a volta do PT, sem nenhum exagero, é um retrocesso. Nós precisamos andar para a frente”, afirmou.
Para ele, “sem dúvidas” pode surgir uma outra opção.
“Vejo hoje um quadro com duas opções que o Brasil não merece. Não tem que vir mais nenhum salvador da pátria. Tem que vir alguém que represente um projeto, uma nova opção. Não tem que ter mito, gente em missão divina. Tem que ter uma pessoa que seja menor do que o projeto e que cumpra o projeto”
“A sociedade brasileira está se conscientizando sobre essa necessidade, tirando os extremos. Porque nos extremos há fanatismo, o que não é racional. Fanatismo se alimenta de fanatismo, anda junto com crime e sempre termina em violência. Então, tirando esses extremos, a maior parte da sociedade quer paz, harmonia, tolerância, convivência, desenvolvimento, e vai optar por uma alternativa que traga paz social e união”.
Ele não defendeu nenhum nome, disse que “tem que ver a proposta”. “Alguns já são mais conhecidos, mas acho que ainda pode aparecer gente nova. Não tem que vir mais nenhum salvador da pátria. Tem que vir alguém que represente um projeto, uma nova opção. Não tem que ter mito, gente em missão divina. Tem que ter uma pessoa que seja menor do que o projeto e que cumpra o projeto”.
PAZUELLO É CULPA DE BOLSONARO
Ainda na entrevista, o general Santos Cruz reafirmou que a participação de Eduardo Pazuello na manifestação com Bolsonaro, no Rio de Janeiro, onde chegou a fazer um discurso “é um fato inaceitável na cultura militar”.
Os militares da ativa são proibidos, pelo Estatuto Militar, de participar de manifestações. Mesmo assim, o comandante do Exército, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, não puniu Pazuello.
O caso de Eduardo Pazuello “não é só um caso disciplinar, é muito maior do que isso. É um fato político que tem um responsável maior no cenário, que até faz questão de dizer que é o comandante em chefe. Se ele é o comandante em chefe não pode desprestigiar, colocar em risco e desacreditar a instituição”.
Jair Bolsonaro “atuou de forma completamente irresponsável”, afirmou Santos Cruz.
“Comandante em chefe não deve ficar chamando militar para palanque, deve tomar decisões estratégicas. Toda vez em que faz discurso político e fica tentando envolver os militares, ele é o grande responsável”.
“Houve uma fixação muito grande com o general que foi para o palanque, com a decisão do comandante do Exército, mas o pessoal está perdendo o foco, que é de um presidente que desde o ano passado está querendo arrastar o Exército para a política. Esse é o problema”, defendeu.
Jair Bolsonaro “atuou de forma completamente irresponsável” no caso Pazuello
O general Santos Cruz disse que a cultura do Exército, que é de não participar da política nacional, “não vão mudar. Isso está muito enraizado. O Exército não se envolve com política”.
“Quando houve o incidente com os três comandantes, do Exército, da Aeronáutica e da Marinha (substituídos por Bolsonaro em março), eles saíram sem falar nada. Deve ter sido por alguma discordância. Não adianta, porque não é esse tipo de investida que vai destruir a cultura militar”.
“[Há] várias ameaças [por parte de Bolsonaro] de que vai fazer um decreto para isso ou aquilo. Mas você percebe que aquilo não se concretiza. No geral, porém, o show acaba tendo algum efeito”.
“Em primeiro lugar, eu acho que esse tipo de conversa que estamos tendo faz parte de um alerta para a sociedade. O pessoal da ativa não vai fazer isso, nem pode fazer. A postura militar não permite. Se fizer, gera uma crise maior ainda. Os comandantes trabalham e ficam quietos. Veja que os três comandantes que saíram não falaram nada sobre o episódio, mostraram como é a cultura militar”.