“Kit Covid” foi mais uma fraude usada pelo presidente para se dar bem politicamente
Em 31 de março do ano passado, mal a pandemia chegara por aqui, o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, alertou publicamente sobre o elevado número de mortes de idosos registrados no hospital Sancta Maggiore, em São Paulo, uma das joias da coroa da operadora Prevent Senior.
Talvez, desconhecia que àquela altura a empresa atuava em parceria com o governo federal na aplicação do chamado “Kit Covid”, estimulando as pessoas a desrespeitarem o isolamento social para evitar danos à economia.
Essa era a obsessão de Bolsonaro, que queria se mostrar eficaz para o mercado.
Mandetta se posicionou contra o chamado “tratamento precoce”, porque não funcionava. Ele, então, contrariou o presidente da República e foi demitido 16 dias depois.
O governo emudeceu depois do depoimento da advogada Bruna Morato, terça-feira (28), na CPI, sobre a aplicação em cobaias humanas do “Kit Covid”.
CFM AUTORIZOU USO DE FÁRMACOS INEFICAZES
No dia em que ele saiu, o CFM (Conselho Federal de Medicina) aprovou parecer que autorizava médicos a prescreverem a cloroquina e a hidroxicloroquina a pacientes com sintomas leves e moderados da Covid-19, além do uso em quadros críticos.
Sucessor de Mandetta, o médico Nelson Teich ficou no cargo apenas 29 dias.
Ouvido pela CPI da Covid-19 no Senado, Teich disse porque:
“O pedido específico [de demissão] foi pelo desejo [do governo] de ampliação do uso de cloroquina. Esse era o problema pontual. Mas isso refletia uma falta de autonomia e uma falta de liderança”.
“MANDA QUEM PODE, OBEDECE QUEM TEM JUÍZO”
No lugar de Teich entrou o general Eduardo Pazuello. Depois de tanto obedecer a Bolsonaro, acabou caindo, e em depoimento à CPI negou pelo menos três vezes que o governo tivesse recomendado o uso de cloroquina e de outras drogas ineficazes no combate ao vírus.
Pazuello, além de obediente e subserviente, não entendia nada de saúde. Médicos do chamado “gabinete paralelo”, como Nise Yamaguchi e Paulo Zanotto, davam ordens dizendo a Bolsonaro o que ele queria ouvir — que as drogas eram eficazes e que a pandemia só começaria a ceder quando 70% das pessoas fossem infectadas —, a tese da chamada “imunidade de rebanho” ou “coletiva”.
Quando ministro da Saúde, em outubro de 2020, Pazuello protagonizou uma das cenas mais patéticas do governo Bolsonaro, um dia depois de o presidente da República tê-lo desautorizado a comprar vacinas da CoronaVac, do Instituto Butantan.
Em “live”, ainda se recuperando da Covid-19, o então ministro da Saúde, fez transmissão ao lado do presidente Jair Bolsonaro, em que disse: “é simples assim: um manda e o outro obedece”.
M. V.