Jair Bolsonaro chamou a jornalista Driele Veiga, da TV Aratu, de Salvador, de “idiota” depois de ser questionado sobre a foto do presidente segurando uma placa que dizia “CPF cancelado”.
“O senhor foi criticado por uma foto postada dizendo ‘CPF cancelado’ num momento em que tantas pessoas estão morrendo. O que o senhor tem a dizer?”, perguntou a jornalista.
“Você não tem o que perguntar, não? Deixa de ser idiota”, respondeu Jair Bolsonaro.
A foto em questão foi tirada quando Bolsonaro estava em Manaus, depois de ter participado de um programa de TV apresentado por Sikêra Junior. A expressão “CPF cancelado” é utilizada pelas milícias depois de terem executado alguém.
Bolsonaro e seus ministros da Saúde, da Educação e do Turismo, Marcelo Queiroga, Milton Ribeiro e Gilson Machado, respectivamente, seguram a placa que diz “CPF cancelado” e sorriem.
Em nota, o Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba) condenou o ataque.
“O Sinjorba (Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado da Bahia) lamenta mais uma vez ter que emitir nota para criticar o comportamento do presidente da República, Jair Bolsonaro. Mas não pode deixar de manifestar seu repúdio ao xingamento proferido por ele contra a jornalista Driele Veiga, da TV Aratu, chamada de “idiota” somente por estar exercendo seu ofício que é entrevistar aquele investido em cargo público”, afirma o comunicado assinado pelo presidente da entidade, Moacy Neves.
“Mais do que nunca precisamos defender a democracia brasileira, ameaçada por títeres e viúvas da ditadura militar, que usam leis anacrônicas e os cargos que ocupam para intimidar o exercício da liberdade de imprensa e o ofício de seus trabalhadores”, concluiu.
No Instagram, a jornalista escreveu que “uma mulher em pleno exercício da função ser chamada de idiota por um presidente da República, é um fato a se lamentar”.
“A mim o xingamento não ofendeu. Só mostrou que estava no caminho certo. Sou jornalista e estou aqui para perguntar, por mais que a indagação incomode. Se fosse para agradar o entrevistado eu não seria jornalista e sim publicitária”, completou.
O governador da Bahia, Rui Costa (PT), disse que Bolsonaro, “ao invés de trabalhar, ele ataca governadores, ameaça as instituições, provoca aglomerações, despreza as vacinas. E continua agredindo a jornalista. Lamentável. Minha solidariedade a Driele Veiga e a todos os jornalistas que têm convivido com essa rotina de ofensas do presidente”.
“A imprensa é um pilar fundamental da democracia. Tem que ser preservada e defendida”, continuou.
ACM Neto (DEM), ex-prefeito de Salvador e presidente nacional do DEM, também se solidarizou com Driele Veiga, “a quem conheço bem e sei da seriedade, competência e educação. É fundamental que, em uma democracia, o presidente da República compreenda e respeite o papel da imprensa”.
Bolsonaro já atacou outros jornalistas que fizeram perguntas para as quais ele não tem uma resposta que não deixe claro que ele cometeu crimes.
Perguntado sobre o depósito de R$ 89 mil feito por Fabrício Queiroz, que comandava a “rachadinha” no gabinete de Flávio Bolsonaro, Jair respondeu que “minha vontade é encher tua boca com uma porrada, tá? Seu safado”.
Jair Bolsonaro foi condenado a pagar R$ 20 mil de indenização à jornalista Patrícia Campos de Mello por ter falado que ela se insinuou sexualmente a uma possível fonte em sua investigação sobre os envios criminosos de mensagens em massa durante as eleições de 2018.
“Ela queria um furo. Ela queria dar o furo a qualquer preço contra mim”, disse Bolsonaro a seus apoiadores.