Ignorou pedido de reunião feito pelos chefes de executivos estaduais
Bolsonaro voltou confrontar os governadores e a mentir em relação à atuação deles nos Estados.
Em entrevista à rádio Farol, de Alagoas, na terça-feira (24), ele responsabilizou os governadores pelo aumento do desemprego, devido às medidas de restrição de circulação de pessoas durante a pandemia.
“A partir de março do ano passado, praticamente todos os governadores do Brasil lançaram a campanha do ‘Fique em Casa e a economia a gente vê depois’. E o depois veio, aquilo que eu considero um abuso, que foram as medidas de lockdown, confinamento, toque de recolher”, disse.
Contra a confrontação de Bolsonaro, os 24 governadores que participaram na segunda-feira (23) da reunião ordinária de seu fórum decidiram pedir um encontro com o presidente na próxima semana para tentar abrir diálogo. Mas Bolsonaro decidiu ignorar o pedido dos chefes dos executivos estaduais.
Eles temem o esgarçamento institucional e o seu impacto ainda mais grave sobre a economia do país.
“O presidente flerta com o autoritarismo permanentemente, e muitos de seus ministros endossam isso. Nós, que fomos eleitos, temos obrigação de nos manifestar em favor da liberdade do Supremo”, afirmou Doria, lembrando que os bolsonaristas “estimulam pessoas a ir armadas para as ruas”, afirmou o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
“O Brasil vive um momento tenso, precisa de um ambiente de diálogo”, defendeu Wellington Dias (PT), um dos organizadores da reunião.
“Tratamos da situação em que vive o país, as discórdias que existem e da necessidade de se fortalecer a nossa democracia. Surgiu a proposta e foi decidido, por um consenso, o estabelecimento de uma linha direta de contato com o presidente da República. Uma linha de entendimento com a Câmara dos Deputados e do Senado Federal, e também no STF. Nessas pautas também tratamos a questão da governança climática e sobre o interesse dos Estados”, explicou o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), anfitrião do encontro.
Jair Bolsonaro voltou a falar mal da urna eletrônica, dizendo que o voto é apurado em um “quartinho secreto” e por “meia dúzia de pessoas”, mesmo depois de sua proposta de voltar para o voto impresso ter sido rejeitado na Câmara dos Deputados.
Bolsonaro havia se comprometido com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que iria respeitar o resultado da votação no plenário.
Em entrevista à Rádio Regional, de Eldorado (SP), disse que “o povo quer que você, ao votar, tenha a certeza de que o teu voto vai para o João ou para a Maria. Não quer que, num quartinho secreto, meia dúzia de pessoas conte os seus votos”.
“A gente espera que tenhamos eleições limpas, democráticas e com contagem pública de votos no ano que vem. Não podemos conviver com essa suspeição”, continuou.
O governo apresentou uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para voltar a voto impresso. A PEC foi rejeitada por 15 partidos e não atingiu os 308 votos necessários para aprovação.
Ao final da votação, Arthur Lira disse que o assunto estava “encerrado”.
Ainda na entrevista, Bolsonaro falou que existe uma “caça às bruxas” contra seus aliados. Ele reclamou da prisão de Roberto Jefferson, presidente do PTB, do deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) e do blogueiro Oswaldo Eustáquio por terem ameaçado diretamente os ministros do STF.
“A gente não pode aceitar passivamente isso dizendo ‘ah, não é comigo’. Vai bater na sua porta”, disse Bolsonaro.