Até inaugurar obra já inaugurada vale para fugir de suas obrigações. Enquanto isso o país segue sem ministro da Saúde efetivo na maior tragédia sanitária das últimas gerações. Já morreram mais de 90 mil pessoas até agora
Jair Bolsonaro esteve nesta quinta-feira (30) em São Raimundo Nonato, no Sul do Piauí, e em Campo Alegre de Lourdes, no norte da Bahia, para um ato de inauguração da adutora para captar água do Rio São Francisco em Pilão Arcado.
As imagens são reveladoras de um presidente que não governa o país. Que não está nem um pouco preocupado com os dramas e as necessidades de seu povo. O ministério da Saúde estar há dois meses com um ministro interino em plena pandemia de Covid-19 é só um exemplo da situação.
Também não é só o fato do presidente estar dando gargalhadas montado em um cavalo, girando o chapéu e acenando sem máscara para seus seguidores, no mesmo dia em que o país atinge o número de 91 mil mortos pela Covid-19, que chama a atenção.
É o ridículo dele montar um palanque e convocar funcionários para inaugurar uma obra que já foi inaugurada em 2019. No dia 31 de maio de 2019, em solenidade na Prefeitura da cidade (foto abaixo), era entregue e adutora à população da cidade.
A cidade fica na região que integra o “polígono da seca”, que abrange todos os estados do Nordeste, exceto o Maranhão, além de incluir Minas Gerais. A obra iniciada na década passada e inaugurada no ano passado, criou o sistema de abastecimento de água que beneficiará 40 mil pessoas da região.
Como bem observou esta semana o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), “Bolsonaro não está governando, ele só pensa na eleição de 2022”.
São dois os problemas.
O primeiro é que, enquanto o país afunda numa crise sem precedentes, com milhões de pais de famílias desempregados por conta da pandemia, o presidente anda à cavalo, passeia de jet ski, circula de motocicleta enquanto a administração pública do país está acéfala. Sem falar das “boiadas” do Salles ( Ministro do Meio Ambiente), que estão às soltas, destruindo a Amazônia.
Senão vejamos como o governo não governa. Apenas 29% da verba autorizada pelo Congresso para o ministério da Saúde destinar ao combate à pandemia foi liberado até agora. O país não está fazendo o rastreamento de casos por falta de insumos para os testes que o governo federal deveria fornecer. Pessoas estão morrendo por falta de UTI e a verba não sai dos cofres da União.
Milhões de microempresas estão fechando e o governo não se mexe para fazer o crédito chegar a eles. Ou seja, para Bolsonaro, o país, os empresários, os doentes e os trabalhadores que se danem. Seu negócio é fazer campanha.
O segundo problema está estampado na própria figura do presidente. Sem máscara, ou com a máscara no pescoço, numa localidade onde há um decreto do Poder Público obrigando todos os cidadãos a usarem a proteção para não contaminar outras pessoas.
A medida é adotada no mundo todo por ter demonstrado que reduz a expansão do vírus na sociedade.
Bolsonaro é ridicularizado em todo o planeta como o presidente que diz que a Covid-19 “não passa de uma gripezinha”. Uma gripezinha que passaria logo, dizia ele, e que já matou mais de 90 mil pessoas.
Não é à toa que o Palácio do Planalto hoje é considerado um centro de disseminação da doença na capital. Está difícil achar um ministro que não esteja infectado. O clima de café frio no Planalto não é só porque o governo não tem quase base política e não atrai ninguém para a sua órbita. É também porque as pessoas de bom senso têm medo de pegar o coronavírus neste local que parece intensamente infestado. Nesta quinta-feira, para variar, até a primeira dama testou positivo para a Covid-19.
Após visitar a Bahia, o presidente retornou ao Piauí por volta de meio dia, seguiu para o Parque Nacional da Serra da Capivara e, na visita fechada à imprensa, conheceu as pinturas rupestres e o Museu da Natureza. Na ocasião, o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, o chefe do laranjal do partido do presidente, processado por desvio de dinheiro público, anunciou verbas para São Raimundo Nonato. “Três milhões e oitocentos mil reais para pavimentar ruas de maior fluxo de veículos e mais um milhão e oitocentos mil para pavimentação da avenida que vai até o açude”, disse.