Investigação da CPI sobre o escândalo da Covaxin aterroriza Bolsonaro, que ataca Renan e a comissão
O senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI da Pandemia, afirmou que “Bolsonaro pensa que a Constituição e a Polícia Federal são dele, que delegado é jagunço”.
No sábado, (3 de julho), A PF anunciou que o senador foi indiciado pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.
A manifestação da PF foi enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF) na sexta-feira (2), concluindo inquérito aberto em 2017 para apurar suposto pagamento de R$ 1 milhão em propinas da Odebrecht em troca do apoio do congressista a um projeto de interesse da empreiteira.
O governo Bolsonaro está envolvido num sério caso de corrupção investigado pela CPI. Bolsonaro ataca a CPI e seus membros, como o senador-relator, por incômodo com as investigações que têm apontado irregularidades do seu governo na condução da pandemia. Bolsonaro chamou sete membros da CPI, entre os quais Renan Calheiros, de “bandidos” e tenta desqualificá-la para tentar abafar as investigações.
A CPI desvendou que o governo adquiriu a vacina indiana Covaxin por um preço superfaturado após ter sido negociada por um preço bem menor.
O Ministério Público também está investigando o caso escandaloso.
Segundo os elementos reunidos, há irregularidades no contrato para a entrega de 20 milhões de doses da Covaxin no valor total de R$1,6 bilhão. A dose foi negociada a US$ 15 dólares, preço 1.000% superior ao da negociação inicial e muito mais cara que de outras vacinas no mercado internacional, a exemplo da Pfizer.
O contrato foi firmado entre o Ministério da Saúde e a Precisa Medicamentos, empresa responsável pela ponte entre o governo federal e o laboratório que produz a vacina na Índia.
A denúncia foi apresentada na semana passada pelo deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) e seu irmão, Luis Ricardo Miranda, que é servidor de carreira do Ministério da Saúde, responsável pelo setor de importações.
Segundo o deputado Luis Miranda, Jair Bolsonaro atribuiu as supostas irregularidades na compra da vacina ao envolvimento de seu líder na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR) nas tratativas.
“Isso é coisa do Ricardo Barros”, disse Bolsonaro para os irmãos Miranda, quando foram informar o presidente do esquema de corrupção na compra da vacina Covaxin, em 20 de março.
Bolsonaro se comprometeu a levar o caso para a Polícia Federal investigar, mas não cumpriu o que prometeu.
Novos depoimentos serão tomados pela comissão na semana que vem e isso atormenta o governo.
O senador Renan Calheiros afirmou que a PF não tem competência para indiciar um senador e que estava surpreso com a decisão, “justamente agora, quando a PF, instituição de Estado, abre investigação sobre a Precisa para facilitar Habeas Corpus do vendedor da vacina da propina e garantir seu silêncio na CPI” .
“Todas as vezes que a Polícia Federal indiciou senadores eu desfiz no Supremo o indiciamento, quando fui presidente do Senado. Isso é abuso de autoridade. Vou acionar [o Supremo], não pode. Com relação ao mérito, o diretor [da empresa] me isentou completamente. Não tem nada a ver, não tem prova, é só retaliação”, afirmou Renan ao Estadão.
Renan disse que setores da PF “se prestam à utilização política” ao aceitarem dar encaminhamento a um “indiciamento que não existe”.
“O governo vinha acenando com o uso da Polícia. O ministro da Justiça [Anderson Torres] deu declarações insinuando que iria utilizar a PF como polícia política. A Polícia é uma instituição respeitável, mas, infelizmente alguns setores se prestam à utilização política e à retaliação como esta”, afirmou.
Renan acrescentou que Bolsonaro mandou que a PF investigasse o dono da Precisa para a obtenção de habeas corpus dele. “Mas, a cada dia chegamos mais perto dos seus crimes”, escreveu o senador nas redes sociais.
Em nota, o defensor de Renan Calheiros no inquérito, o criminalista Luís Henrique Machado, afirmou que jamais foram encontrados indícios de ilegalidades nos atos do congressista.