Não podia ser outro o resultado do encontro “secreto”, no Palácio do Planalto, do submundo da política americana com a escória bolsonarista
Investigado na CPI da Covid pela sabotagem à compra de vacinas e às medidas sanitárias que provocaram a morte de mais de 520 mil brasileiros e, mais recentemente, investigado no STF pelas denúncias do esquema milionário de corrupção do governo na compra do imunizante indiano Covaxin, Jair Bolsonaro se reuniu na quinta-feira (1) com o diretor da CIA, de William J. Burns, no Palácio do Planalto.
ATAQUES À CHINA
Após o encontro com o chefão da CIA, Bolsonaro falou aos seus seguidores confinados no cercadinho do Alvorada e deu a dica sobre os assuntos que foram tratados na reunião secreta – o encontro não estava na agenda e que nem teve pauta pública. Aliás, de um encontro entre o submundo da política americana com a escória bolsonarista não se podia esperar nada além do que saiu, ou seja, e sabujice explícita do capitão cloroquina ao antro de golpistas dos EUA, as ofensas à China e, lógico, as ridículas tramas contra a democracia no Brasil e na América Latina.
Não deu outra. Bolsonaro saiu enchendo a bola da agência de espionagem americana e atacando a China, maior parceiro comercial do Brasil, além de dizer que não vai aceitar o resultado das eleições de 2022. “O interesse do Brasil por [parte de] alguns poucos países é enorme. Alguns países dependem de nós, do que produzimos aqui. E esses países pensam 50, 100 anos à frente. E nós, aqui, infelizmente, quando muito, pensamos poucas semanas ou poucos dias depois”, disse Bolsonaro, numa referência à China. Os EUA estão pressionando o Brasil a não deixar o país asiático ampliar seu intercâmbio com o Brasil e impedir a gigante de comunicação Huawei de entrar no país.
COMO TRUMP, AMEAÇA NÃO RECONHECER RESULTADO DA ELEIÇÃO
Sobre a eleição do ano que vem não houve nenhuma novidade. Ele só voltou a macaquear seu guru, Donald Trump – por ele considerado como o “salvador” da civilização ocidental -, que também bateu o pezinho e disse que não aceitaria o resultado das eleições americanas. “Vocês descubram uma maneira de fazermos uma contagem aberta dos votos e apresentar. Caso contrário teremos problema nas eleições do ano que vem. Eu entrego a faixa para qualquer um que ganhar de mim na urna de forma limpa. Na fraude, não”, afirmou, novamente o capitão cloroquina sem apresentar prova nenhuma de fraude.
E, como está acuado, Bolsonaro voltou a atacar a CPI da Covid, que está desbaratando sua quadrilha. “Uma idiotice na CPI, não serve pra nada, só fofoca. Tentando desgastar o governo a todo momento. Espera 2022 e vão pro voto auditável. Esse voto mandrake não vai dar certo. Ou vamos ter convulsão no Brasil. Estou avisando com antecedência”, declarou Bolsonaro, aproveitando para tentar intimidar as investigações da CPI que apontam para um grande esquema de corrupção na compra de vacinas dentro do Ministério da Saúde.
CHORADEIRA COM MUDANÇAS NA AMÉRICA LATINA
Como o papo foi com a CIA, não podia faltar a choradeira com os resultados eleitorais e guinadas políticas mais recentes na América Latina. “Não vou dizer que isso foi tratado com ele [Burns], mas a gente analisa na América do Sul como estão as coisas. A Venezuela a gente não aguenta falar mais, mas olha a Argentina. Para onde está indo o Chile? O que aconteceu na Bolívia? Voltou a turma do Evo Morales. E mais ainda: a presidente que estava lá no mandato tampão [Jeanine Añez] está presa, acusada de atos antidemocráticos. Estão sentindo alguma semelhança com o Brasil?”, acrescentou.
A passagem de William J. Burns por Brasília foi cercada de mistério. Não houve aviso prévio da delegação, e a agenda de encontros foi mantida em sigilo. Na tarde de quinta (1º), ele foi recebido por Bolsonaro e pelos ministros Augusto Heleno (Segurança Institucional) e Walter Braga Netto (Defesa). O diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Alexandre Ramagem, também participou da audiência no Palácio do Planalto. Só faltou Carlos Bolsonaro, o espião “01” de Bolsonaro.
Ao deixar seu gabinete, o vice-presidente Hamilton Mourão disse que não iria ao encontro, mas que a agenda é “normal”. Ele acabou não sendo convidado por Bolsonaro para participar do encontro. Sem passar recibo por estar sendo escanteado do governo, Mourão tentou minimizar a importância da visita do chefe da espionagem americana. “Isso aí [são] troca de informações. São duas nações amigas. Não é problema”, declarou o general.
JANTAR NO LAGO SUL
Outro compromisso conhecido foi um jantar na residência do embaixador americano em Brasília, Todd Chapman, na região do Lago Sul. O Palácio do Planalto e a embaixada americana não forneceram qualquer informação sobre os temas tratados por Burns com as autoridades brasileiras.
Burns é um diplomata veterano que em 2015 foi um dos negociadores do acordo nuclear entre Irã, EUA e outras grandes potências. Agora, com a crise americana, ele está fazendo um périplo pelo mundo tentando ganhar adeptos para a luta dos EUA contra os avanços da economia chinesa.