Bolsonaro ignorou as medidas de prevenção à Covid-19 decretadas pelo governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), e visitou no sábado (20) à tarde, um setor habitacional localizado no Chaparral, comunidade que fica em Taguatinga.
Lá ele fez campanha contra o distanciamento social em um vídeo divulgado nas redes sociais. Bolsonaro aparece fazendo fotos com moradores da região.
“Chaparral, Taguatinga, local onde os efeitos do ‘fique em casa’ são os mais sentidos”, escreveu ele no Twitter.
Bolsonaro tem boicotado as medidas de restrição de circulação de pessoas adotadas pelos governadores para conter a explosão da pandemia de Covid-19. Os Estados estão à beira do colapso com leitos de UTI lotados, boa parte na fila de espera. Muitas pessoas já morreram por falta de leito de UTI.
Ele entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) questionando as medidas decretadas pelos governos do Rio Grande do Sul, Distrito Federal e Bahia.
Bolsonaro também ameaçou implantar um estado de sítio contra as medidas. Sua fala causou uma grande reação contrária no Congresso e no Judiciário.
“Fui contra o decreto de três governadores, que inclusive no decreto o cara bota ali toque de recolher, isso é estado de defesa, estado de sítio que só uma pessoa pode decretar: eu”, disse Bolsonaro.
O presidente do STF, Luiz Fux, telefonou imediatamente para ele cobrando explicações. Bolsonaro recuou e negou que estivesse falando em decretar estado de sítio.
As medidas tomadas pelos governadores diante da disparada de casos e de mortes por Covid-19 estão amparadas na lei 13.979, de 6/2/20, que em sua abertura diz o seguinte: “a lei dispõe sobre as medidas que poderão ser adotadas para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus responsável pelo surto que se iniciou em 2020”. A Lei 13.979 concede às três esferas de governo o direito de adotar medidas restritivas como isolamento, quarentena e restrição a locomoções, entre muitas outras.
Mas Bolsonaro faz um governo pró-contágio do coronavírus. Não se importa que mais de 292 mil pessoas já faleceram vítimas da doença no país e deixaram suas famílias na dor da perda.
Além de boicotar as medidas de prevenção tomadas por governadores e prefeitos, ele sabotou enquanto pôde a vacina no país e só tomou providências para comprá-las quando sentiu no couro a reprovação da população. Em vez da vacina, investiu em remédios, como a cloroquina, que comprovadamente não funcionam contra a Covid-19.
Sabotou os ministros da Saúde e os trocou três vezes e agora vem o quarto. E o terceiro ministro (Eduardo Pazuello) foi um completo inútil que cumpriu à risca sua ordem de não fazer nada pela saúde do povo. Trinta pessoas morreram asfixiadas nos hospitais de Manaus (AM) pela falta de oxigênio e pela inação do governo federal.
Cobrado por essas ações criminosas, Bolsonaro diz que não pode fazer nada porque o STF impediu que ele tomasse medidas. O que é uma grande mentira.
O ministro do STF, Marco Aurélio, rebateu Bolsonaro e sua ação contra as medidas dos governadores. Segundo o ministro, Bolsonaro está na contramão do que o STF decidiu.
“Isso [a ação de Bolsonaro] está na contramão do que nós estabelecemos. Se cuida da saúde nas três esferas, as três são responsáveis: Executivo federal, Estados e municípios. Ele [Bolsonaro] está querendo ter hegemonia nas decisões”, disse Marco Aurélio.
“Li hoje [sobre a ação] e não estou antecipando julgamento, mas não entendi muito o que ele [Bolsonaro] não quer que feche, não quer toque de recolher? Ele quer realmente que todos estejam em atividades plenas, pouco importando esse quadro triste com quase 300 mil mortos. Já somos o primeiro país do mundo em mortes”, continuou o ministro.