“Esse que pode se configurar no maior escândalo da República”, diz o Sindifisco
A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) fez pelo menos dois relatórios para ajudar o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho “01” de Jair Bolsonaro, em sua defesa no caso da “rachadinha” que tinha seu assessor Fabrício Queiroz como operador do esquema.
Um dos relatórios diz explicitamente que a “finalidade” é “defender FB [Flávio Bolsonaro] no caso Alerj demonstrando a nulidade processual resultante de acessos imotivados aos dados fiscais de FB”.
O Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Sindifisco) emitiu uma nota afirmando que a ação conjunta da Abin e da defesa de Flávio Bolsonaro “é inaceitável em todos os sentidos”.
“Ao estar a serviço de uma causa que não é republicana, a atuação da Abin passou de qualquer limite”.
Em agosto, Flávio Bolsonaro entrou em contato com o diretor da Abin, Alexandre Ramagem, para que a Agência o ajudasse, ilegalmente, a se defender na Justiça. Depois de uma reunião e troca de documentos, Ramagem começou a usar a Abin para produzir os relatórios, segundo apurou a revista Época.
A intenção de Flávio Bolsonaro é se livrar das denúncias sob o argumento de que o processo foi iniciado de forma irregular pela Receita Federal. Ele quer que a Advocacia-Geral da União (AGU) e a Controladoria-Geral da União (CGU) ajuízem o caso.
Alexandre Ramagem foi o nome indicado por Bolsonaro para a diretor-geral da Polícia Federal em abril, quando o ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro saiu do governo denunciando a interferência do presidente na PF. A nomeação foi suspensa pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Os dois relatórios indicando como o filho de Bolsonaro deve se defender das acusações foram passados para Flávio através do WhatsApp, que os transmitiu para sua advogada, Luciana Pires.
A Agência de Inteligência orientou a defesa de Flávio Bolsonaro a fazer uma “manobra tripla” para conseguir os documentos que seriam úteis para ele.
Os relatórios da Abin falam que “três elementos-chave dentro do grupo criminoso da RF (…) devem ser afastados in continenti”. O auditor-fiscal Christiano Paes Leme Botelho, apontado pela defesa de Flávio como um dos que o “perseguiu”, foi exonerado na semana passada.
A Agência afirma que a defesa de Flávio deveria “tomar um cafézinho” com José Tostes Neto, chefe da Receita Federal, e informá-lo que sua defesa iria ajuizar uma ação importante no processo em questão.
Além disso, o relatório sugeriu que Flávio pedisse ao chefe do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) que fosse aberta uma apuração especial sobre os dados da Receita Federal, através da Lei de Acesso à Informação. Esse passo também foi seguido pela defesa do senador.
Procurados pela revista Exame, a Abin não respondeu sobre a origem dos documentos, nem assumiu a responsabilidade sobre os relatórios. O chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, afirmou que a Abin não foi usada para defender o filho do presidente e negou a existência dos documentos.
Flávio foi denunciado por lavagem de dinheiro, peculato e organização criminosa no caso. Ele, quando era deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), se apropriava de parte dos salários de seus assessores.
Depois que os assessores passavam parte de seus salários, Flávio lavava o dinheiro através de operações imobiliárias, na loja de chocolates e também no pagamento de despesas pessoais com dinheiro vivo, o que oculta a sua origem.
AUDITORES
O Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Sindifisco) emitiu uma nota afirmando que a ação conjunta da Abin e da defesa de Flávio Bolsonaro “é inaceitável em todos os sentidos”.
Os auditores pediram que a Receita Federal e o Congresso Nacional se mobilizem contra “esse que pode se configurar no maior escândalo da República”.
O presidente do Sindifisco, Kleber Cabral, também criticou a sugestão da Abin de que servidores da Receita fossem demitidos.
“Se não bastasse a gravidade de se ter uma agência de inteligência mobilizada para defender o filho do presidente da República, acusado de atos ilícitos, como a ‘rachadinha’ na Alerj, não se pode admitir que um órgão de governo busque interferir num órgão de Estado, protegido pela Constituição Federal, sugerindo afastamentos de servidores públicos”, sentenciou.
Está claro que o Bolsonaro queria o Ramagem como Diretor Geral da Polícia Federal para interferir em investigações de seus familiares e amigos como o Queiroz, portanto, isto têm que ser investigado até as últimas consequências e punir todos os envolvidos. A verdade acima de tudo e a Constituição acima de todos. Acorda Brasil.