
Em reunião no Palácio do Alvorada, na manhã de sexta-feira (15), Bolsonaro recebeu os ministros Onyx Lorenzoni (Casa Civil) e Santos Cruz (Secretaria de Governo) e a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), em que os três tentavam convencê-lo a não demitir o por enquanto ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno.
Os ministros e a deputada procuravam acalmar Bolsonaro e buscar alternativas para que Bebianno não fosse demitido. Em certo momento Bolsonaro falou para os três: “Ele atua como X9”.
“X9” é uma gíria utilizada pelos criminosos nos cadeias para se referir aos bandidos traidores. Também é designação de agente infiltrado ou informante. Mas os bandidos a utilizam com mais frequência.
“Então, tá. Deixa esse filho da puta lá que eu vou ver o que faço com ele no governo”, disse Bolsonaro, segundo relatos, no fim manhã para interlocutores seus. Mas no fim do dia Bolsonaro mudou de opinião e garantiu que Bebianno estaria fora do governo na segunda-feira (18).
Bolsonaro atribui a Bebianno o vazamento do cancelamento de uma reunião marcada entre o ministro e o vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Globo, Paulo Tonet Camargo. A reunião foi cancelada a mando de Bolsonaro. No áudio, Bolsonaro diz: “como você coloca nossos inimigos dentro de casa?” O vazamento do áudio para a revista Veja deixou Bolsonaro espumando de raiva.
Tal como nos petistas, a Globo está entalada na garganta de Bolsonaro.
É de se imaginar como ele ficou ao ver, no dia 7 de fevereiro, uma reportagem da GloboNews em que Bebianno diz que uma equipe do governo federal sofreu ameaças da milícia ao visitar o Hospital Federal de Bonsucesso no Rio de Janeiro. Num vídeo, Bebianno está reunido com o diretor interino do Hospital, Paulo Roberto Cotrim de Souza. A reunião aconteceu no Departamento de Gestão Hospitalar do Ministério da Saúde, no centro do Rio. A reportagem foi repercutida no dia seguinte pelo Bom dia Brasil, da TV Globo.
“O hospital de Bonsucesso foi o único que tentou intimidar parte da nossa equipe. Eu gostaria de dizer para o senhor (Paulo Cotrim) que há duas formas de fazer as coisas: uma pelo amor e uma pela dor. A nossa campanha, do presidente eleito, teve facada, sangue, suor e lágrimas. Nós não vamos nos intimidar com ameaças veladas, com discursos contrários ao nosso trabalho”, afirma Bebianno na reunião.
“Nós vamos entrar no hospital, nós vamos fazer o trabalho que precisa ser feito. Aqueles que colaborarem estarão conosco. Os que não colaborarem não estarão conosco e responderão pelos seus atos, inclusive criminalmente. A Polícia Federal estará dentro do Hospital de Bonsucesso, o Exército Brasileiro estará dentro do Hospital de Bonsucesso”, disse Bebianno a Cotrim na reunião que contou com a presença do ministro da Saúde, Henrique Mandetta.
À GloboNews, Bebianno declarou que há “fortes indícios e depoimentos” sobre a atuação de milícias no hospital. “Não só suspeitas como fortes indícios e depoimentos. Estamos apurando. Não podemos afirmar, ainda, em definitivo, se há ou não o envolvimento direto de milícias na gestão do hospital de Bonsucesso. O que podemos assegurar é que há muita coisa estranha por lá. Não nos intimidaremos por pressões ou ameaças, veladas ou explícitas”, disse o ministro.
De acordo com relatos divulgados pelo blog de Gerson Camarotti, do portal G1, Bebianno disse para aliados que está arrependido por ter coordenado a campanha de Jair Bolsonaro no ano passado. Bebianno criticou Bolsonaro pesadamente. “Preciso pedir desculpas ao Brasil por ter viabilizado a candidatura de Bolsonaro. Nunca imaginei que ele seria um presidente tão fraco”, teria dito o ministro a um interlocutor.
“Pedir desculpas ao Brasil” agora é tarde. Pode não ter imaginado, mas que os sinais estavam muito claros, estavam. E não só os sinais.
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