Ele ameaçou o país mais uma vez de tomar providências de outro tipo. “Só digo uma coisa: eu faço o que o povo quiser que eu faça”, insistiu. Há quem suspeite que o que ele quer mesmo é sair no braço com ministros do STF, como ameaçou fazer com o senador da CPI
Na manhã da quarta-feira (14), em conversa com apoiadores, Bolsonaro tentou se esquivar da responsabilidade do governo federal pela maior tragédia sanitária da nossa história e pela violenta crise social que está se abatendo sobre o país há mais de um ano. É óbvio que o assassino é o vírus.
Mas Bolsonaro foi o seu aliado de primeira hora, deu todo apoio à expansão de sua circulação ao lutar contra o uso de máscara, ao estimular e promover aglomerações, ao receitar drogas milagrosas e ineficazes e, principalmente, ao sabotar a compra de vacinas destinadas a debelar a pandemia e fazer campanha contra a vacinação.
Comentando notícias da imprensa sobre pessoas em situação de fome, pela falta de apoio financeiro adequado por parte do governo federal, Bolsonaro atribuiu o problema às políticas de restrições para combate ao vírus. Na contramão de todo o mundo, ele eliminou, no final do ano, a ajuda emergencial aprovada pelo Congresso Nacional no início da pandemia, de R$ 600.
A ajuda destinava-se à finalidade de permitir à população o isolamento social e sobreviver durante a crise. Mas, ele e seu ministro, Paulo Guedes, acharam que não precisava mais. Que estavam gastando demais. Tinham que reservar os recursos públicos para seus patrões, ou seja, os bancos.
Só depois de muita pressão por parte da sociedade, é que ele apareceu com uma proposta de retorno do auxílio emergencial. No entanto, o que veio foi uma ajuda ínfima dirigida para muito menos pessoas e com um valor muito menor do que o original, entre R$ 150 e R$ 375. Além desses valores, que não compram nem uma cesta básica, a maioria ainda vai receber mesmo apenas os R$ 150.
Ou seja, ao negar ajuda a quem precisa, a chapa esquenta, e ele tira o corpo fora. Tenta jogar a culpa pelo agravamento da crise nos governadores que estão fazendo o que podem para enfrentar o coronavírus. Não satisfeito, ele ainda voltou a ameaçar o país com seus ridículos arroubos fascistóides.
“Olha, o Brasil está no limite. O pessoal fala que eu devo tomar providências. Estou aguardando o povo me dar uma sinalização. Porque a fome, a miséria, o desemprego estão aí. Só não vê quem não quer, quem não está nas ruas”, afirmou. O “povo” a quem ele se refere são suas milícias, cada vez mais esvaziadas e compostas de elementos fanatizados que vivem pedindo a volta da ditadura e do AI-5.
“Esse pessoal, amigos do Supremo Tribunal Federal, daqui a pouco vamos ter uma crise enorme aqui. Eu vi que um ministro baixou lá um processo para me julgar por genocídio”, disse Bolsonaro. Foi a ministra Cármen Lúcia quem solicitou ao presidente do STF, ministro Luiz Fux, que marque uma data para o julgamento de uma notícia-crime contra Bolsonaro, na qual ele é acusado de genocídio. O incômodo de Bolsonaro está mesmo é na instalação da “CPI da Pandemia” que vai investigar suas insanidades e omissões diante da maior crise sanitária que já atingiu o Brasil em toda a sua história.
“Olha, quem fechou tudo, quem está com a política na mão não sou eu. Agora, eu não quero aqui brigar com ninguém, mas estamos na iminência de ter um problema sério no Brasil. O que vai nascer disso tudo? Onde vamos chegar? Parece que é um barril de pólvora que está aí. E tem gente com paletó e gravata que não quer enxergar isso aí”, voltou a ameaçar o capitão cloroquina. Numa coisa ele está certo. O Brasil está mesmo chegando ao seu limite. E este limite está chegando porque ninguém aguenta mais as suas insanidades, as suas confusões e o seu apego pelo coronavírus.
Além de agredir a ministra Cámen Lúcia, citou diretamente o ministro Edson Fachin, que, segundo ele, no ano passado, determinou que a Força Nacional de Segurança deixasse os acampamentos do MST na Bahia. Bolsonaro disse que isso tem trazido riscos a moradores da região. O propagandista da cloroquina ainda lembrou que Fachin proibiu operações da polícia em comunidades do Rio de Janeiro em meio à pandemia.
E não ficou por aí. Atacou também o ministro Luís Roberto Barroso, que determinou a instalação da CPI da pandemia. “É uma interferência, sim, desse ministro junto Senado para me atingir”, criticou, elevando o tom da voz, dizendo que isso tem criado animosidade. “Agora, repito, a temperatura está subindo, a população está cada vez em situação mais complicada. Só digo uma coisa: eu faço o que o povo quiser que eu faça”, insistiu.
Hoje, diante do recrudescimento da pandemia a níveis insuportáveis e dramáticos, o povo só quer uma coisa: vacina no braço e comida no prato, algo que o presidente da República vem sabotando desde o início da pandemia.