Manifestações contra a Federação de Futebol estadual de jogadores de dois grandes clubes do Rio de Janeiro ocorreram no último domingo (28), em apoio aos profissionais de saúde que lutam contra o Covid-19 e movimentos que combatem o racismo.
Nesta segunda-feira, o estado registrou um total de 111.883 casos confirmados da doença e 9.848 mortes.
Botafogo e Fluminense, contrários ao retorno do futebol neste momento da pandemia da Covid-19, mas ambos cumpriram a tabela definida pela federação após muitas idas e vindas e atuaram no Engenhão.
Os jogadores do Botafogo entraram em campo pela manhã, para enfrentar a Cabofriense pela quarta rodada da Taça Rio, com uma faixa que dizia “PROTOCOLO BOM É O QUE RESPEITA VIDAS”, em alusão às medidas adotadas pelas autoridades do futebol e de saúde para evitar a propagação do vírus. O clube criticou a decisão de reiniciar o futebol durante as reuniões realizadas pela federação estadual e no Tribunal de Justiça Desportiva.
Os atletas apareceram com camisas pretas em homenagem ao movimento “Black Live Matter” (Vidas Negras Importam), que pede igualdade racial e denuncia a brutalidade policial. Logo após o apito inicial, eles se ajoelharam no gramado por dois minutos, outro gesto identificado com os protestos. A equipe venceu por 6 a 2.
Por criticar, em entrevista ao jornal ‘O Globo’, a atitude da federação do Rio, o técnico da equipe, Paulo Autuori, foi suspenso por 15 dias. Ele chamou a entidade de “federação dos espertos”.
“Fui punido por ter expressado aquilo que tenho como convicção. Talvez muita gente gostasse de expressar as mesmas ideias”, disse Autuori, que acabou liberado por instância superior para comandar o time neste domingo. Em protesto, porém, ele preferiu não ficar no banco de reservas.
A equipe alvinegra jogou sem vários titulares, que não estavam em condições físicas. Cinco haviam tido resultado positivo no teste para identificar a Covid-19. Os nomes não foram revelados. O elenco teve oito dias de treinos antes de enfrentar a Cabofriense.
Luan Santos foi o único jogador do clube de Cabo Frio a se juntar aos 11 do alvinegro no protesto antirracista em referência ao movimento “Black Livers Matter”. O jovem que já sofreu racismo, se viu como único jogador adversário ajoelhado diante de um estádio Nilton Santos vazio na volta da Campeonato Carioca em meio à pandemia de coronavírus.
Luan explica que o gesto não foi premeditado, e seus companheiros de clube não sabiam do protesto. Mas ele sentiu que deveria se juntar ao time adversário, que aos dois minutos se ajoelhou e paralisou o jogo com a bola rolando. O restante da equipe da Cabofriense seguiu de pé, mas respeitou o momento dos botafoguenses, sem oferecer perigo ao adversário.
“Essa luta não é só do Botafogo, é uma coisa que existe e afeta os negros de todos os lugares. É uma doença que deveria ser eliminada da nossa sociedade”, disse o jogador de 19 anos.
O Fluminense também mostrou uma faixa, mas de agradecimento aos profissionais de saúde do Rio de Janeiro. Os jogadores usaram camisas negras na entrada em campo em luto pelas mortes causadas pela Covid-19.
Mario Bittencourt, presidente do Fluminense, postou mensagem de protesto no Instagram contra o retorno do torneio. A equipe perdeu por 3 a 0 em sua reestreia na competição.
“Milhares de pessoas ainda morrem no Brasil, enquanto somos obrigados a jogar futebol sem nenhuma segurança. Mais uma triste página da história do futebol do Rio de Janeiro, já tão combalido e defasado”, reclamou o dirigente.
Três jogadores do Volta Redonda, adversário do clube tricolor neste domingo, não puderam atuar porque foram infectados pelo coronavírus.
O Estadual foi retomado no último dia 18, com a partida entre Flamengo e Bangu, no Maracanã. Um hospital de campanha para tratar pacientes infectados pelo vírus está instalado ao lado do estádio.
Foi a data com o terceiro maior número de mortes no Rio causados pela doença desde o início da pandemia: 274. O Flamengo apoiou o reinício do torneio.
“Vamos fazer um jogo do lado de um hospital de campanha com 60 doentes de coronavírus. Cada gol do Gabigol amanhã, com zero público, pode significar uma morte do lado”, ironizou, em entrevista ao SporTV, Carlos Augusto Montenegro, integrante do comitê executivo do Botafogo.