“Defendo uma candidatura própria para apresentar o nosso projeto e a nossa diferença seja com a extrema direita bolsonarista, seja com a direita tradicional brasileira”, disse Boulos, em entrevista ao DCM
Na última quinta-feira (17), Guilherme Boulos (Psol-SP) defendeu, em entrevista ao site Diário do Centro do Mundo (DCM), que os partidos de esquerda devem ter candidato próprio no primeiro turno da eleição para a presidência da Câmara dos Deputados. Indiferente à possibilidade de vitória ou não do candidato de Bolsonaro, ele disse que “a esquerda tem que marcar posição”.
No dia seguinte a essa declaração, todos os partidos da oposição, com exceção do Psol, anunciaram a criação de uma frente ampla, composta por 11 partidos, para a disputa contra o candidato de Jair Bolsonaro já no primeiro turno. A posição de formar a frente contra Bolsonaro reflete a consciência desses partidos de que o fascismo representado pelo atual ocupante do Planalto é o inimigo principal a ser derrotado.
A posição defendida por Boulos ao DCM, reflete a discussão ocorrida na terça-feira (15), onde parte da bancada adotou esta visão. No entanto, essa posição não é consensual e vem recebendo críticas até dentro do próprio partido. A deputada Fernanda Melchionna (Psol-RS), por exemplo, defendeu neste sábado (19) que o partido participe da frente ampla contra Bolsonaro. Ela disse que confundir Maia com o candidato do fascismo é facilitar a vitória do fascista. “O Psol não vai cair nessa e vamos discutir isso”, disse a deputada gaúcha.
Ao apresentar o manifesto da frente, na sexta-feira (18), Rodrigo Maia lembrou que “enquanto alguns buscam corroer e lutam para fechar nossas instituições, nós aqui lutamos para valorizá-las. Enquanto uns cultivam o sonho torpe do autoritarismo, nós fazemos a vigília da liberdade. Enquanto uns se encontram nas trevas, nós celebramos a luz”.
E, ao apresentar, da tribuna da Câmara, a decisão unitária da oposição, Orlando Silva (PCdoB-SP) afirmou, também na sexta-feira, que “Bolsonaro representa o fascismo” e que “vamos trabalhar por um nome que possa expressar a luta pela democracia e que possa impedir que o Palácio do Planalto anexe a Câmara dos Deputados”.
Em defesa da manutenção da proposta de candidatura isolada do Psol, Boulos se afastou da avaliação do conjunto da oposição e insistiu que “o nosso campo, o campo progressista, o campo de esquerda tem que ter uma candidatura para marcar posição”.
“Essa candidatura será em defesa, não apenas da democracia, não apenas como forma de bloquear o autoritarismo do Bolsonaro, mas também em defesa das pautas populares, contra o neoliberalismo, em defesa dos direitos sociais e uma agenda popular para o Brasil”, afirmou.
Apesar de concordar com a avaliação de seu entrevistador, o comentarista do site 247, André Constantine, de que os dois candidatos, Arthur Lira e o candidato da frente ampla, “representam o mesmo projeto de aprofundamento do neoliberalismo”, Boulos admitiu que, se houver um segundo turno, aí sim “a esquerda deve trabalhar para barrar a candidatura apoiada por Jair Bolsonaro”.
“Eu concordo contigo que no primeiro turno da eleição da Câmara os partidos de esquerda devem buscar construir uma candidatura própria para apresentar o nosso projeto e a nossa diferença seja com a extrema direita bolsonarista, seja com a direita tradicional brasileira”, disse Boulos. Ou seja, Boulos e alguns outros integrantes de seu partido subestimam os riscos do fascismo e não acham um problema importante se o candidato de Bolsonaro vencer o primeiro turno da eleição para a mesa da Câmara.