Mais de um ano após o registro do primeiro óbito Covid-19, o Brasil ultrapassou, nesta quarta-feira (24), a triste marca de 300 mil vidas perdidas em consequência da Covid-19. A marca de óbitos foi alcançada na tarde desta quarta, apesar de o Ministério da Saúde ter alterado as fichas para reduzir o número de óbitos informados pelos estados e municípios.
Segundo o Conselho Nacional de Secretários de Saúde, o país registra hoje um total de 300.675 mortes pela doença e atinge a marca assombrosa um dia depois de registrar, pela primeira vez, mais de três mil mortes em apenas 24 horas.
De acordo com o Conass, nas últimas 24h foram registrados 1.999 óbitos.
O número de novos casos diagnosticados foi de 89.414, totalizando 12.219.433 pessoas infectadas pelo novo coronavírus.
Com a falta de coordenação federal para combate a pandemia, o governo Bolsonaro torna a situação crítica e, infelizmente, longe de terminar, dando poucos sinais de superação da crise.
O Brasil enfrenta uma avassaladora segunda onda da pandemia. Com recordes de óbitos sendo batidos diariamente. Por todo o país, o que se vê são leitos de UTI lotados e a ameaça de falta de medicamentos para intubação e de oxigênio para as vítimas da pandemia.
Com este cenário devastador, Jair Bolsonaro não se conteve em suas mentiras no pronunciamento à nação realizado ontem. O governante que preferiu negar a ciência, promover atos das turbas espalha vírus, vender a ideia de remédios milagrosos como o seu “tratamento precoce”, negar socorro à cidade de Manaus (que sofreu com a falta de oxigênio) e sabotar a vacinação desde o início, agora diz que “não poupou esforços” para combater a pandemia.
A mentira de Bolsonaro, em cadeia nacional, foi repelida pela população. Nas principais cidades brasileiras, houve panelaço em repúdio ao seu discurso mentiroso.
VACINA
Em seu discurso, Bolsonaro teve o descaramento de prometer que “2021 será o ano da vacinação”. Sua conduta, no entanto, foi a de negar a vacinação até o último momento. Além de sabotar as negociações e as doses de vacinas oferecidas ao povo brasileiro, o negacionista chegou a mentir sobre a origem da vacina aplicada em sua própria mãe, colocando em risco a saúde de sua progenitora.
Importante ressaltar que a vacinação no Brasil só está acontecendo de fato a partir da articulação realizada pelo governo de São Paulo e pelo Instituto Butantan, que garantiu a produção de 100 milhões de doses da vacina CoronaVac e já entregou 22 milhões ao Plano Nacional de Imunização.
A Frente Nacional dos Prefeitos (FNP), que se articula agora para comprar vacinas contra o coronavírus para garantir a imunização dos brasileiros, criticou a fala desavergonhada de Bolsonaro:
“É importante ressaltar que as novas cepas não são as causas do descontrole no país. O descontrole é que acelera o surgimento de variantes do vírus. De cada dez brasileiros vacinados, nove são imunizados com vacinas que ele não só menosprezou, como rechaçou, a exemplo da CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan”, lembrou a FNP em nota publicada nesta quarta-feira.
Ainda de acordo com os prefeitos, os brasileiros estão abandonados pelo governo federal. “Muitos nas suas casas, nos leitos dos hospitais e outros tantos, infelizmente, nos morgues das casas de saúde ou em covas coletivas. É lamentável, mas o cenário de enfrentamento à pandemia da Covid-19 tomou contornos catastróficos, levando o país ao epicentro sanitário mundial”.
“Ontem o presidente declarou que ‘em nenhum momento o governo deixou de tomar medidas importantes tanto para combater o coronavírus como para combater o caos na economia, que poderia gerar desemprego e fome’. Evidentemente que as consequências econômicas e sociais da pandemia são visíveis, mas as atitudes governamentais empurram para um cenário ainda pior. Controlar a pandemia é que proporcionará a retomada econômica”, salientaram os prefeitos.
CLOROQUINA
Menos de 24 horas depois do seu pronunciamento, Bolsonaro voltou a defender o uso do “tratamento precoce” como medida para pacientes com (ou sem) Covid. Em discurso após um jogo de cena junto a poucos governadores aliados, ele defendeu o chamado “kit covid”. “Tratamos também de possiblidade de tratamento precoce. Isso fica a cargo do ministro da Saúde, que respeita o direito e o dever do médico off-label tratar os infectados”, argumentou Bolsonaro ao término da reunião.
Nesta semana, médicos do Hospital das Clínicas de São Paulo e da Universidade de Campinas detectaram casos de hepatite medicamentosa, em decorrência da superdosagem dos medicamentos do “kit covid”. Cinco pacientes estão na fila de transplante de fígado e outros três não resistiram e faleceram após o uso de remédios como a ivermectina e a cloroquina.
CENÁRIO DESOLADOR
Infelizmente, o Brasil chega aos 300 mil mortos com poucas perspectivas de melhora do cenário da pandemia em curto prazo. O país vivencia o colapso do sistema de saúde com leitos de UTI superlotados, profissionais de saúde esgotados, escassez de medicamentos para intubação em toda a rede e o risco real de falta de oxigênio para os leitos de pacientes com Covid-19.
Segundo o último Boletim do Observatório Covid-19 da Fiocruz, publicado nesta terça-feira (23), o colapso do sistema de saúde ampliará ainda mais o número de óbitos para o coronavírus.
“O cenário é preocupante, pois indica que pode estar havendo uma situação de desassistência e falhas na qualidade do cuidado prestado para pacientes com quadros graves de Covid-19″, apontam os especialistas. “A incapacidade de diagnosticar correta e oportunamente os casos graves, somado à sobrecarga dos hospitais, em um processo que vem sendo apontado como o colapso do sistema de saúde, pode aumentar a letalidade da doença, dentro e fora de hospitais”, complementa o boletim.
“A continuidade dos cenários em que temos o crescimento de todos os indicadores para Covid-19, como transmissão, casos, óbitos e taxas de ocupação de leitos de UTI resulta em colapso que afeta todo o sistema de saúde no país e no aumento das mortes por desassistência”, alertam os pesquisadores.
“Trata-se de um cenário que não é só de uma crise sanitária, mas também humanitária, se considerarmos todos seus impactos”, argumentam.
Para combater a pandemia, o Brasil precisa de uma ação articulada nacionalmente, que garanta a vacinação e assistência aos estados e municípios que enfrentam o colapso. O governo Bolsonaro, apesar de toda tragédia que se acentua a cada dia, continua demonstrando resistência e incapacidade para cumprir essa tarefa.