Bolsonaro, “que não gosta do povo, não respeita ninguém, diz o seguinte: ‘O meu partido é o Brasil’. E eu queria dizer para ele que o Brasil não é partido”, disse o presidenciável em Florianópolis
Em geral, os farsantes se escudam em discursos de um suposto “patriotismo” ou “religioso” para tentar capturar uns incautos.
Isto está bem evidente na campanha à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL). Foi o que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse em campanha em Florianópolis (SC) neste domingo (18).
Lula subiu ao palanque com a bandeira do Brasil e a do PT para criticar as falas pseudopatrióticas do chefe do Executivo.
No comício, Lula rebateu frase habitual do adversário na disputa eleitoral. Bolsonaro, na tentativa de engajar eleitores em torno do seu patriotismo de fancaria e da aversão ao que já chamou de “velha política”, costuma dizer que seu “partido é o Brasil”.
“Normalmente, um fascista que não tem partido político, que nunca organizou partido político, que não gosta do povo, não respeita ninguém, diz o seguinte: ‘O meu partido é o Brasil’. E eu queria dizer para ele que o Brasil não é partido, é o nosso país”, afirmou Lula em campanha em Santa Catarina.
“Esta bandeira aqui não é bandeira de um partido. É a bandeira de 215 milhões de brasileiros que amam este país”, completou o presidenciável.
Lula disse que seu objetivo é reconstruir o país destruído pelo atual governo. “Nós temos que assumir a responsabilidade, mais uma vez, de devolver ao país a alegria, a esperança, a felicidade, o direito de sorrir, de comer três vezes ao dia, de sonhar com universidade. Nós não queremos tirar nada de ninguém. O que nós queremos é ter uma casa, criar nossos filhos em paz e harmonia, que eles possam estudar, tirar um diploma de doutor, porque não é privilégio dos ricos, é direito de todos”, declarou.
“DAR UM JEITO NO CENTRÃO”
Lula completou o giro de campanha pelos Estados da região Sul do país, neste domingo, com comício em Florianópolis. Em discurso, ele afirmou que, se eleito, vai ter que “dar um jeito no Centrão” e mexer no orçamento secreto.
Na última sexta-feira (16), Lula participou de atos eleitorais em Porto Alegre e, no sábado (17), em Curitiba.
Na capital de Santa Catarina, Lula subiu em palanque montado na Praça Tancredo Neves, no Centro, em frente à Assembleia Legislativa. Ele estava acompanhado de aliados e correligionários, como o candidato a vice, Geraldo Alckmin (PSB).
Alckmin começou informando em seu discurso que perguntou às pessoas qual foi a obra do “tchutchuca” em Santa Catarina, arrancando risos e aplausos. “Nenhuma”, respondeu.
O ex-governador, candidato a vice na chapa de Lula, relatou o que Bolsonaro fez contra o país durante a sua gestão.
“O que foi feito no Brasil inteiro: desemprego entre os jovens mais de 30%; fome, que já tinha ido embora, 33 milhões de pessoas. Inflação do café da manhã – do pão, do leite, da manteiga – mais de 30%. Negacionismo, o Brasil tem 3% da população do mundo, teve 10,5% de mortes por covid. Contra o SUS, nomeou um general que não sabia o que era o SUS. Retrocesso na educação”, declarou.
O candidato a governador de Santa Catarina, o ex-prefeito de Blumenau, Décio Lima (PT), disse que Lula estava ali “para trazer a esperança para o povo catarinense”. “Vamos com certeza resgatar a esperança do nosso povo”. Décio Lima foi prefeito de Blumenau entre 1997 e 2005 e deputado federal de 2007 até 2019.
O senador Dário Berger (PSB), que disputa a reeleição, citou a importância do pleito de outubro para reestabelecer a ordem democrática e ajudar a enterrar qualquer tentativa golpista.
“Talvez essa seja uma das eleições mais importantes das últimas décadas, o que está em jogo é o futuro de Santa Catarina, do Brasil, da democracia e do estado democrático de direito. De fato, o Brasil piorou muito nos últimos 4 anos, retrocedeu, voltou ao mapa da fome. O Brasil que estamos vivendo hoje não é o que queremos, e para reconstruir este país nós só temos uma oportunidade, e essa pessoa se chama Lula”, completou.
Também participaram do ato o senador do Amapá, Randolfe Rodrigues, da Rede Sustentabilidade, Manuela D’ávila, representando o PCdoB, Bia Vargas, candidata à vice-governadora de Santa Catarina, além de candidatos a deputados e lideranças regionais.
VOTAR EM ALIADOS
No comício, Lula pediu para os eleitores votarem em candidatos aliados, porque, segundo ele, vai precisar de ajuda no Congresso caso seja eleito. Foi quando Lula mencionou o Centrão e o chamado “orçamento secreto”.
Centrão é o nome dado a grupo informal de partidos, sobretudo, na Câmara Federal. São siglas de orientação de direita e de centro-direita que, ao longo dos últimos governos, aliaram-se ao Palácio do Planalto, independentemente, da posição política do presidente da República de plantão.
Em troca de oferecer ao governo governabilidade no Congresso, o Centrão ocupa cargos estratégicos na gestão federal, cooptados pelo mandatário de plantão.
“ORÇAMENTO SECRETO”
“Orçamento secreto”, por sua vez, é como ficaram conhecidas as emendas de relator. São emendas parlamentares, com recursos previstos no Orçamento da União que não são distribuídos igualmente entre todos os parlamentares — ao contrário das demais emendas (individuais, de bancada ou de comissão).
Os repasses do orçamento ficam, na prática, a critério de conversas informais e acertos com o relator e o governo. São consideradas menos transparentes.
“Se a gente ganhar, a gente vai ter que dar um jeito no Centrão, vai ter que mexer no orçamento secreto, vai ter que cumprir o piso da enfermagem, melhorar o piso dos professores”, afirmou o ex-presidente.
M. V.