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Com uma orquestra de berimbaus, pandeiros e palmas, capoeiristas se reuniram em frente ao 14º Distrito Policial, em Pinheiros (SP), nesta quarta-feira, 26, em protesto contra a ação violenta cometida contra o mestre de capoeira Valdenir Alves dos Santos, conhecido como mestre Nenê.
Mestre Nenê foi vítima de agressão por policiais militares, no último dia 19, em frente à sua casa, com seu filho no colo, enquanto conversava com vizinhos. O motivo da abordagem, segundo os policiais, foi o de que o mestre apresentava aparência semelhante com a de um suspeito de roubo.
A abordagem violenta, em que o mestre foi imobilizado com um mata-leão e jogado ao chão, gerou protestos de diversas entidades da comunidade da capoeira e do movimento negro.
Nesta quarta-feira, o mestre foi prestar depoimento na delegacia, acompanhado pelos amigos, alunos e companheiros de capoeira, que permaneceram em protesto do lado de fora da unidade.
“Mestre Nenê foi tratado não como ser humano que ele é. Sabemos que o mestre Nenê é um arte-educador. Tem transformado a vida de muitos jovens e adolescentes com a arte, com a capoeira, com o samba e toda a cultura de raiz africana. A capoeira está mostrando a força que tem. Isso está acontecendo constantemente. Nosso país está de cabeça para baixo, onde temos uma situação em que um pai de família que se dedica ao ensino da cultura é atacado desse jeito”, declarou mestre Plínio Ferreira.
“Além da capoeira, temos também o Afoxé, deixado pelo nosso mestre Môa, que foi a primeira vítima desse governo. E nós não vamos permitir que aconteça aos nossos a mesma coisa. Porque se o mestre Nenê não estivesse acompanhado no dia da agressão, não sei se estaríamos aqui hoje fazendo essa roda de capoeira”, disse mestre Plínio.
Ao sair da delegacia, mestre Nenê, emocionado, agradeceu o apoio com uma cantiga, acompanhado do coro de todos os capoeiristas presentes.
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“Agradecemos a força da comunidade da capoeira, o que infelizmente não acontece à muita gente que também é vítima dessa violência. O Brasil está desgovernado e a polícia atuando pessimamente. Por isso viemos aqui pedir justiça”, disse Stefania Faro, professora de capoeira, companheira de mestre Nenê e mãe da criança que também presenciou a ação dos PMs.
“Os negros nesse país são maioria”, afirmou o mestre Eduardo Negão. “Temos que ocupar os lugares estratégicos da sociedade. É importante estarmos unidos. A capoeira é um movimento inserido na sociedade brasileira e está totalmente ligado ao movimento negro e às causas dos mais pobres”, ressaltou.
Para a professora Adriana Vansconcellos, “essa agressão ao mestre é também uma agressão à nossa cultura, ao nosso povo, que agora, mais do que nunca, está exposto a qualquer coisa porque nós temos na presidência alguém que legitima essas ações. Mas tem uma questão: nós avançamos e estamos unidos e vamos continuar unidos. Isso não vai continuar acontecendo porque não vamos mais permitir”, afirmou Adriana.
JÚLIA CRUZ