
Ele comparou o episódio à tentativa de apaziguamento do ‘Acordo de Munique’, de 1938, que foi traído logo depois de assinado. Segundo o ex-ministro do STF, Bolsonaro tem “personalidade autocrática” e “comprovada disposição” de “ultrajar a Constituição e de ignorar os limites que a Carta
O ex-ministro Celso de Mello, que foi decano do Supremo Tribunal Federal (STF), fez uma alerta neste fim de semana para a semelhança entre a “declaração à nação”, assinada por Jair Bolsonaro, mas redigida por Michel Temer, na última quinta-feira (9), ao acordo de Munique, assinado por Adolf Hitler em 1938 na Alemanha.
É necessário se organizar para “resistir e frustrar qualquer subversão da ordem democrática”
A declaração de Celso de Mello foi feita ao jornalista Diego Escosteguy, da newsletter “O Bastidor“. Segundo o ex-ministro do STF, o recuo de Bolsonaro na carta pode se revelar uma farsa. “Se Bolsonaro revelar infidelidade ao que pactuou, terá dado plena razão à advertência segundo a qual a história, quando se repete pela segunda vez, ocorre como farsa”, disse Mello, que apontou ter dúvida se o recuo do presidente dois dias depois dos ataques de 7 de setembro não foi mera estratégia para iludir os demais poderes e apaziguar a crise institucional.
Celso de Mello disse que é necessário se organizar para “resistir e frustrar qualquer subversão da ordem democrática”, já que, segundo ele, Bolsonaro despreza a supremacia da Constituição e pode dar um golpe “daqueles que nutrem visceral desapreço pelo regime das liberdades fundamentais e pelo texto da Constituição”.
TRATADO DE MUNIQUE
O Tratado de Munique foi acordado entre os líderes das principais potências europeias à época. Ele foi uma iniciativa de Hitler. O “acordo” tinha, além da Alemanha Nazista, a Itália fascista de Benito Mussolini, Neville Chamberlain, do Reino Unido e Édouard Daladier, da França. Assinado em setembro de 1938, há 83 anos, ele foi visto pelos apaziguadores como uma garantia de que a guerra não ocorreria. Pelo menos contra eles. Em troca, as potências aceitaram que parte da Tchecoslováquia passasse a ser um território da Alemanha.
Alguns meses depois, em março de 1939, Hitler invadiu o restante do território tcheco, rasgando o acordo feito com as demais potências, traídas, e levando, junto com uma série de outros fatores, à Segunda Guerra Mundial, que durou até 1945 e acabou com a derrota dos nazistas pela URSS e seus aliados, mas deixou milhões de mortos pela Europa.
PERSONALIDADE AUTOCRÁTICA
Segundo o ex-decano do Supremo, Bolsonaro tem “personalidade autocrática” e “comprovada disposição” de “ultrajar a Constituição e de ignorar os limites que a Carta Política impõe aos seus poderes”.