O segundo lote de doses da Coronavac, vacina contra a covid-19 desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantã, chegou a São Paulo nesta quinta-feira (3). A remessa traz 600 litros dos ‘ingredientes’ necessários para a produção de 1 milhão de doses do imunizante, que serão envasados pelo Butantan nos próximos dias. O Estado já havia recebido 120 mil doses da Coronavac em novembro.
“Estou no Aeroporto Internacional de Guarulhos, recebendo nova carga de insumos da Coronavac, para produção de 1 milhão de doses da vacina do Butantan. Agora já temos 1 milhão e 120 mil doses da vacina em solo brasileiro para salvar vidas. Sentimento de esperança na luta pela vida”, afirmou o governador paulista João Doria (PSDB), que esteve no local acompanhado do secretário estadual de Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, e do diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas.
Ainda segundo o governador, até o início do próximo ano, o governo deve receber as mais de 46 milhões de doses previstas.
“Até o final deste mês de dezembro, estaremos aqui recebendo no Aeroporto de Guarulhos mais seis milhões de doses da vacina, totalizando 7 milhões 120 mil doses da vacina. E no próximo mês de janeiro, até o dia 15 de janeiro, mais 40 milhões de doses da vacina. A vacina do Butantan, a vacina que salva vidas.”
Em novembro, o governo de São Paulo anunciou que os estudos da fase três do imunizante, que podem atestar a eficácia da Coronavac, chegaram ao número mínimo de infectados pelo coronavírus. E só após isso, é possível abrir os resultados dos estudos para análise dos dados. Descobrir quem tomou placebo e quem tomou vacina e quais foram os infectados e aí saber o quão eficiente é o imunizante para depois entrar com o pedido de aprovação e registro pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Segundo Gorinchteyn afirmou na terça-feira (1º), os resultados estão sendo analisados e devem ser compartilhados com o governo federal “possivelmente na semana que vem”.
“Na semana passada, foram abertos os trabalhos da fase 3 para saber se a vacina é eficaz e se ela protege contra o vírus. Foram enviados os resultados para um comitê internacional independente, que analisa os dados”, explicou ele.
Dimas Covas disse nesta quinta-feira que a CoronaVac deve estar disponível para ser aplicada na população em janeiro de 2021.
REGISTRO
“A vacina estará disponível e o registro na Anvisa, acredito eu, também estará disponível. Então, poderemos iniciar um programa em janeiro, acredito, de vacinação. E espero [que] com o apoio do Ministério [da Saúde], apesar de todas essas declarações que não citam nominalmente a vacina do Butantan. A nossa expectativa é a de que a vacina seja incorporada, inclusive atendendo ao que o próprio ministro fala, sem citar a vacina, de que a vacina que estiver disponível e registrada, será incorporada”, afirmou.
Ele também ressaltou que a vacina está muito próxima de obter o registro na Anvisa e descartou a necessidade de solicitação para uso emergencial. A agência liberou ontem os protocolos para que as farmacêuticas peçam o registro emergencial.
Em setembro, Dimas Covas chegou a dizer que pediria a liberação para uso emergencial caso a vacina demonstrasse eficácia de pelo menos 50% em análise preliminar.
“Nós estamos muito próximos de solicitar o registro. Nós não teremos a necessidade de solicitar esse registro emergencial, vamos solicitar já o registro da vacina. Estamos muito próximos de que isso aconteça. O registro e a vacina estando disponíveis, nós temos que iniciar a vacinação. É tudo o que nós queremos”, defendeu.
PROGRAMA NACIONAL
Enquanto a Coronavac conclui as etapas necessárias para registro no Brasil, o governo Bolsonaro a ignora no Programa Nacional de Imunizações (PNI)
O governo federal divulgou a estratégia “preliminar” para a vacinação dos brasileiros, nesta quarta-feira, e no calendário apresentado, a CoronaVac não é citada pelo Ministério da Saúde.
Sem ser incorporada ao PNI, a CoronaVac pode encontrar dificuldade para ser distribuída pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em todo país.
Desde outubro, Bolsonaro trabalha para boicotar a vacina desenvolvida em São Paulo, apesar do êxito nos resultados da pesquisa. Naquele mês, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, chegou a anunciar em uma reunião virtual com mais de 23 governadores, a compra do imunizante, mas, menos de 24 horas depois, Bolsonaro desautorizou o ministro e cancelou a aquisição pelo governo federal.
Ainda de acordo com Dimas Covas, o governo de São Paulo trabalha com planos alternativos para vacinar a população, caso Bolsonaro siga com a sabotagem à vacinação.
“Cada dia sem vacina conta. Se a vacina estiver para uso, nós temos que iniciar a vacinação. E isso, pelo simples motivo: a vacina pode poupar a vida de milhares de pessoas. Não faz nenhum sentido, do ponto de vista da responsabilidade pública, atrasar o uso de uma vacina disponível e pronta, já registrada na Anvisa. Iremos trabalhar junto com os estados, se for o caso, junto com os municípios, para que isso aconteça”, disse o diretor.