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Ministro da Justiça declarou em entrevista coletiva que já foram identificados “todos os ônibus que se dirigiram a Brasília e os financiadores de tais ônibus”
O ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB), condenou os ataques terroristas dos bolsonaristas contra o Congresso, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Palácio do Planalto ocorridos neste domingo (8) em Brasília.
Em entrevista coletiva nesta noite, horas após forças de segurança retomarem a praça dos Três Poderes em Brasília, Dino afirmou que “nós chegaremos nos financiadores” dos terroristas. Segundo ele, já foram identificados “todos os ônibus que se dirigiram a Brasília e os financiadores de tais ônibus”.
O ministro disse que a ordem é prender os golpistas em flagrante. “Faço questão de reiterar que as pessoas que participaram desses eventos, que neste momento ainda estão em flagrante, estejam onde estiverem serão presas. Se estarão na frente do quartel, perto do quartel, ao lado do quartel, pouco importa porque elas estão tecnicamente em flagrante”, afirmou.
O titular da Justiça ressaltou que os vândalos cometeram crimes graves, cuja pena vai até 12 anos, no caso de golpe de Estado. “Se nós colocarmos os crimes de dano, inclusive ao patrimônio histórico, e de agressões físicas, falamos de penas que com certeza podem ultrapassar até 20 anos”, lembrou.
Na tarde deste domingo, os criminosos aterrorizaram e invadiram os prédios do Supremo Tribunal Federal (STF), do Palácio do Planalto e do Congresso. Destruíram móveis, rasgaram obras de arte e quebraram vidraças destes locais.
“Isso é terrorismo, é golpismo. Temos a certeza de que a imensa maioria da população não quer a implementação dessas trevas”, afirmou o ministro da Justiça, acompanhado do secretário das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, na entrevista.
Dino enfatizou que os bandoleiros bolsonaristas “não conseguirão destruir a democracia brasileira”. “É preciso dizer isso cabalmente, com toda firmeza e convicção”, completou.
Na entrevista, Flávio Dino criticou a atuação omissa e conivente com o crime. “Há, sim, objetivamente, preferências ideológicas nas instituições atrapalhando o cumprimento de deveres constitucionais”, apontou.
“Vamos ter que separar o joio do trigo. Uma coisa é preferência eleitoral, todo mundo tem direito. Usar a preferência eleitoral para se omitir, prevaricar, para ser conivente com o crime, não é compatível com a função de servidor público”, continuou.
Flávio Dino confirmou que 200 pessoas já foram presas em flagrante por participação nos atos golpistas e de invasão e depredação das sedes dos poderes da República. O ministro avisou que o número pode aumentar, já que é possível que a prisão em flagrante ainda ocorra. “A prisão em flagrante ocorre durante ou logo após cometimento do crime”, disse Flávio Dino.
O ministro da Justiça relatou que o governo federal cumpriu sua parte na proteção ao patrimônio público, mas acusou as omissões do governo do Distrito Federal por permitir os ataques covardes dos bolsonaristas fanáticos que destruíram as sedes dos três poderes na capital.
Em resposta aos atos terroristas, o presidente Lula decretou intervenção na segurança pública na capital federal. O interventor será o secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Capelli.
“O interventor vai amanhã [segunda-feira] dirigir um expediente ao Ministério da Defesa pedindo também a cessão de militares para poderem apoiar esse esforço de manutenção da ordem pública sob comando do interventor”, esclareceu Dino.
De acordo com Dino, o governo do DF achou que situação estaria “sob controle”, apesar de saber que os criminosos estavam chegando em caravana de ônibus desde o sábado e se preparando para atos golpistas.
“O complemento [do governo federal] foi feito, mas infelizmente por conta dessa mudança de planejamento e omissões que serão apuradas, esse complemento se mostrou insuficiente diante da gravidade do que ocorreu”, disse Dino a jornalistas.
Ele informou que, em reuniões de preparação entre o Ministério da Justiça e o governo do DF, os representantes do governador Ibaneis Rocha (MDB) garantiram que a situação estava sob controle.
O ministro contou que houve uma “anomalia” na atuação da Secretaria de Segurança do DF e o que foi combinado não foi cumprido. Ele afirmou que o combinado não previa a circulação de pedestres na Esplanada dos Ministérios.
“Nos dias que antecederam esses episódios, inéditos no Brasil, houve uma preparação que se baseou nas responsabilidades constitucionais do governo do Distrito Federal. Não obstante, a esse entendimento, nós tivemos uma mudança de orientação administrativa ontem, em que o planejamento que não comportava a entrada de pessoas na Esplanada foi alterado na última hora”, contou Dino à imprensa.
Ele disse ainda que soube pela imprensa sobre a permissão dada pela Segurança Pública do Distrito Federal para a entrada de pessoas na Esplanada.
“Não houve comunicação da mudança de planejamento. Soube por um órgão de imprensa. Eu li, e [foi algo] para minha surpresa. Imediatamente questionei, e de manhã novamente por escrito. Disse que isso não parecia correto e tive a resposta que tudo estava tranquilo. Antes, eu não tinha autoridade sobre o aparato de segurança. Agora [com a intervenção] eu tenho”, acrescentou.
Dino disse não querer acreditar que o governador Ibaneis foi conivente com o assalto bolsonarista. “Eu diria que ele provavelmente foi iludido, enganado”, afirmou, referindo-se ao ex-ministro bolsonarista Anderson Torres, que foi demitido nesta tarde por Ibaneis. Torres era secretário de Segurança Pública do DF. Ele foi flagrado nos EUA em encontro com Bolsonaro enquanto os bolsonaristas degenerados e alucinados depredavam Brasília neste domingo.
“O Ibaneis precisa responder se alguém se omitiu, se alguém o enganou e o porquê”, frisou o ministro da Justiça.
“Acho que ele [Ibaneis] recebeu informações erradas, o que gerou decisões erradas, como essa de abrir a Esplanada que se mostrou desastrosa. A apuração vai dizer se o erro foi humano ou conivente. Não fazemos juízos precipitados, mas com fatos”, assinalou.
Flávio Dino, no entanto, negou que exista algum planejamento para eventuais pedidos de afastamento do governador Distrito Federal.
“Não há nenhum planejamento nessa direção [de afastamento]. Isso dependerá das investigações da polícia judiciária. O Ibaneis irá prestar o esclarecimento e por parte do governo federal não há qualquer planejamento em relação ao governador. A intervenção restritiva à segurança é suficiente”, sublinhou.
Alexandre Padilha revelou que ônibus gratuitos estavam sendo oferecidos para os criminosos saírem de São Paulo para Brasília. Disse também que, inclusive, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), apreendeu alguns nas estradas do estado, rumo à capital federal.
Padilha disse ter sido informado de que havia, nas invasões, terroristas com a intenção de colocar e deixar artefatos explosivos e bombas nos prédios dos Três Poderes “para afetar ainda mais pessoas”.
“Vamos agora recolher provas materiais visando a responsabilidade criminal. Sabemos que o objetivo de quem financiou esses atos não era apenas o depredar, mas de mobilizar outros atos pelo país, de forma a viabilizar um golpe que não reconhecesse o processo eleitoral. Vamos atrás de quem financia o terrorismo em nosso país”, declarou.