A Justiça do Chile condenou na última terça-feira a 18 anos de prisão os oito ex-oficiais que sequestraram, torturaram e assassinaram, no dia 16 de setembro de 1973 – 3 dias após o golpe dos EUA contra Salvador Allende -, o renomado cantor e compositor Victor Jara, um dos 30 mil mortos e desaparecidos pelo regime de Augusto Pinochet.
Com a decisão do juiz Miguel Vázquez Plaza, os militares terão de cumprir 15 anos de prisão pela autoria dos homicídios de Jara e de Littré Carvajal, diretor da empresa estatal de ferrovias durante o governo socialista de Salvador Allende (1970-1973), e outros três anos pelo sequestro das duas vítimas. O Estado chileno terá ainda que indenizar seus familiares em 2,1 milhões de dólares.
Destacado militante comunista, com 40 anos Jara era um artista reconhecido, diretor de teatro, professor universitário e defensor do governo socialista de Allende. Detido na universidade onde lecionava, em Santiago, Jara foi levado com alunos e colegas ao Estádio Nacional, transformado em centro de prisão e torturas para democratas e nacionalistas.
Autor de músicas de protesto, Jara foi reconhecido pelos militares e “agredido fisicamente, de forma permanente, por vários oficiais”, conforme a Justiça. No dia 16 de setembro, os prisioneiros foram retirados do estádio, com exceção de Jara e de Carvajal. Levados ao subterrâneo, foram executados. Somente Jara levou 44 tiros.
Durante o julgamento, o recruta Víctor Pontigo, ajudante dos oficiais acusados, detalhou o momento do assassinato do músico. “Eu levei Victor Jara para falar com os tenentes e depois de umas três horas escutei disparos, perguntei ao recruta José Cáceres de onde vinham os disparos e ele me disse que haviam matado Victor Jara”, relatou.
O principal acusado, Pedro Barrientos Nuñez, vive nos Estados Unidos desde 1990 e é alvo de uma ordem internacional de captura e de um pedido de extradição. Conforme a denúncia, “os soldados sob a direção de Barrientos vendaram os olhos de Jara, algemaram, interrogaram, agrediram brutalmente e o torturaram para castigá-lo por suas crenças políticas e seu apoio ao presidente Allende”. Depois das torturas, Barrientos pôs “uma pistola atrás da cabeça de Jara” e brincou de “roleta russa” com sua pistola, colocando várias balas de forma aleatória no tambor do revólver. “Durante este ‘jogo’, Barrientos disparou na parte detrás da cabeça de Jara. Depois ordenou a outros cinco recrutas sob seu comando que disparassem repetidamente”.