Jair Bolsonaro divulgou nesta quinta-feira (9), depois das fortes repercussões negativas às suas declarações golpistas e ao evidente crescimento do movimento pelo seu impedimento, nota pública em que tenta, de forma cínica, covarde e pusilânime, negar que tenha agredido o Supremo Tribunal Federal.
Bolsonaro é, notoriamente, um incapaz. Assim, para escrever a nota, mandou buscar, no avião presidencial, o sr. Michel Temer. Mas isso apenas tornou a nota, assinada por Jair Bolsonaro, ainda mais falsa.
Não por acaso, a reação nos meios políticos e na mídia foi de incredulidade – o que, se precisasse de confirmação, rapidamente aconteceu, com a “live” de Bolsonaro, algumas horas depois da nota assinada por ele.
Na nota, ele tenta passar ataques criminosos à democracia por “divergências”.
Não são a mesma coisa.
É falsa também sua afirmação de que esses ataques contra as instituições e às leis foram feitos no “calor do momento e dos embates que sempre visaram o bem comum”.
Pelo contrário, durante os últimos dois meses, foi somente o que ele fez – o que pode ser extensivo, aliás, aos últimos dois anos, desde que tomou posse. E nenhum de seus ataques às instituições teve nada a ver com o “bem comum”, exceto que foram contra ele, contra a democracia, isto é, contra o poder do povo.
Bolsonaro é useiro e vezeiro em se dizer “arrependido” de seus arroubos e depois repetir as suas agressões em diversas outras ocasiões. O golpista só está dizendo isso agora porque, como ele mesmo deu a entender, quando falava na Paulista, começou a vislumbrar até mesmo a sua prisão.
Em suma, Bolsonaro fracassou no Sete de Setembro. Daí, essa nota estelionatária.
Não deixa de ser uma vitória do movimento democrático, que o golpe tenha sido, por ora, impedido.
Porém, na noite da mesma quinta-feira, poucas horas após a nota supostamente apaziguadora, Bolsonaro, em “live”, atacou os que denunciaram o cunho antidemocrático dos seus atos de Sete de Setembro – e, especialmente, do que ele mesmo falou.
Disse ele, na “live”: “Que manifestação antidemocrática? Alguém levantou lá a plaquinha pedindo o artigo 142? Se levantou, parabéns”. O artigo 142 da Constituição é aquele que Bolsonaro alega, distorcendo o seu conteúdo, que seria suposto legitimador do golpe de Estado no país.
Esse é o mesmo Bolsonaro que, horas antes, mentiu, em sua nota: “Reitero meu respeito pelas instituições da República, forças motoras que ajudam a governar o país”.
No dia anterior, ele berrava contra essas mesmas instituições na frente de seus seguidores. O que fez ele dar essa meia volta e mais uma vez dizer que não disse o que havia dito, foi o fracasso de suas mobilizações e a forte reação da sociedade.
Bolsonaro, que está com 68% de rejeição pela população, mentiu mais algumas vezes, em sua nota, antes de agradecer demagogicamente “o extraordinário apoio do povo brasileiro, com quem alinho meus princípios e valores, e conduzo os destinos do nosso Brasil”.
E terminou a nota com o slogan “Deus, Pátria, Família”, lema do integralismo de Plínio Salgado – isto é, da versão do nazismo que apareceu por aqui na década de 30 do século passado.
Esse é o democrata Bolsonaro, que, mesmo quando tenta se fantasiar de cordeiro, não dispensa o lema nazi-integralista de Plínio Salgado.
A farsa de Bolsonaro, portanto, ficou mais evidente quando ele mentiu ao reverenciar a democracia, até porque todos sabem do seu ódio às instituições democráticas e seu apego à ditadura.
“Democracia é isso: Executivo, Legislativo e Judiciário trabalhando juntos em favor do povo e todos respeitando a Constituição”, blasfemou, pois ele nem trabalha junto aos outros poderes, nem respeita a Constituição.
E, por fim, Bolsonaro, sem a menor cerimônia, afirmou cinicamente que “sempre estive disposto a manter diálogo permanente com os demais Poderes pela manutenção da harmonia e independência entre eles”.
Por óbvio, ninguém acreditou nestas palavras jogadas ao vento.
Leia a íntegra da nota de Bolsonaro
Declaração à Nação
No instante em que o país se encontra dividido entre instituições é meu dever, como Presidente da República, vir a público para dizer:
1. Nunca tive nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes. A harmonia entre eles não é vontade minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar.
2. Sei que boa parte dessas divergências decorrem de conflitos de entendimento acerca das decisões adotadas pelo Ministro Alexandre de Moraes no âmbito do inquérito das fake news.
3. Mas na vida pública as pessoas que exercem o poder, não têm o direito de “esticar a corda”, a ponto de prejudicar a vida dos brasileiros e sua economia.
4. Por isso quero declarar que minhas palavras, por vezes contundentes, decorreram do calor do momento e dos embates que sempre visaram o bem comum.
5. Em que pesem suas qualidades como jurista e professor, existem naturais divergências em algumas decisões do Ministro Alexandre de Moraes.
6. Sendo assim, essas questões devem ser resolvidas por medidas judiciais que serão tomadas de forma a assegurar a observância dos direitos e garantias fundamentais previsto no Art 5º da Constituição Federal.
7. Reitero meu respeito pelas instituições da República, forças motoras que ajudam a governar o país.
8. Democracia é isso: Executivo, Legislativo e Judiciário trabalhando juntos em favor do povo e todos respeitando a Constituição.
9. Sempre estive disposto a manter diálogo permanente com os demais Poderes pela manutenção da harmonia e independência entre eles.
10. Finalmente, quero registrar e agradecer o extraordinário apoio do povo brasileiro, com quem alinho meus princípios e valores, e conduzo os destinos do nosso Brasil.