O Brasil registrou 1.041 mortes por Covid-19 e 298.408 novos casos diagnosticados nesta quinta-feira (3). De acordo com os dados divulgados pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), o número de novos casos registrados, devido ao avanço da variante ômicron do coronavírus, é um novo recorde no país.
Com o balanço de hoje, o país contabiliza 630.001 óbitos e 26.091.520 pessoas que já foram diagnosticadas com a doença. Segundo o Conass, a taxa de letalidade do coronavírus no Brasil é de 2,5% e a taxa de mortalidade por cada 100 mil habitantes é de 299,8. A média móvel de óbitos nos últimos sete dias saltou para 702, e a média móvel de novos casos é de 189.526.
O percentual de pessoas vacinadas com duas doses (ou dose única) da vacina contra a Covid-19 no Brasil superou oficialmente a marca de 70% da população nesta quarta-feira (2).
Ao todo, 150.416.056 pessoas receberam a segunda dose do imunizante, o equivalente a 70,02% das pessoas segundo estimativa populacional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nas últimas 24 horas, a segunda dose foi aplicada em 787.869 pessoas, de acordo com dados reunidos pelo consórcio de veículos de imprensa junto a secretarias de 26 Estados e Distrito Federal.
Entretanto, o número de pessoas com a vacinação atrasada também é preocupante. Atualamente, cerca de 20 milhões de brasileiros não tomaram a segunda dose do imunizante.
OCUPAÇÃO DE LEITOS PREOCUPA
O crescimento nas taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos no Sistema Único de Saúde (SUS) demanda atenção e monitoramento contínuo, de acordo com Nota Técnica divulgada nesta quinta-feira, 3, pelo Observatório Covid-19 Fiocruz, que analisa o cenário da pandemia no país.
Segundo a publicação, 13 estados apresentam aumento das taxas de ocupação e nove Unidades Federativas estão na zona de alerta crítico com indicador superior a 80%. Entre as 25 capitais com taxas divulgadas, 13 estão na zona de alerta crítico, nove estão na zona de alerta intermediário e oito estão fora da zona de alerta.
Para os pesquisadores do Observatório Covid-19, o comportamento das taxas de ocupação em estados e capitais parece apontar para a interiorização de casos de covid-19 pela variante ômicron. Algumas capitais já apresentam mais estabilidade ou mesmo queda nas suas taxas, enquanto as taxas dos estados crescem expressivamente.
Os casos mais graves de Covid-19 que demandam atendimento em UTI estão diretamente relacionados à não vacinação. Nas principais emergências do país, a ocupação de leitos por pessoas que não se vacinaram, ou não concluíram a imunização, ultrapassa os 80%.
De acordo com o Observatório da Fiocruz, Mato Grosso do Sul (103%), Goiás (91%) e o Distrito Federal (97%) mantiveram-se na zona de alerta crítico, onde também entraram o Amazonas (80%) e Mato Grosso (91%).
Na zona de alerta intermediário, permaneceram o Pará (74%), Amapá (69%), Tocantins (78%), Ceará (67%), Bahia (74%), Rio de Janeiro (62%), São Paulo (72%), Paraná (72%), e entraram o Alagoas (69%) e Santa Catarina (76%), que estavam fora na zona de alerta.
Fora da zona de alerta mantiveram-se o Acre (57%), Maranhão (59%), Paraíba (41%), Sergipe (37%), Minas Gerais (37%) e Rio Grande do Sul (54%), somando-se Rondônia (58%) e Roraima (52%), que estavam na zona de alerta intermediário.
CAPITAIS
Entre as 25 capitais com taxas divulgadas, 13 estão na zona de alerta crítico: Manaus (80%), Macapá (82%), Teresina (83%), Fortaleza (80%), Natal (percentual estimado de 89%), Maceió (81%), Belo Horizonte (86%), Vitória (80%), Rio de Janeiro (95%), Campo Grande (109%), Cuiabá (92%), Goiânia (91%) e Brasília (97%).
Nove estão na zona de alerta intermediário: Porto Velho (77%), Rio Branco (70%), Palmas (72%), São Luís (64%), Recife (77%, considerando somente leitos públicos municipais), Salvador (68%), São Paulo (75%), Curitiba (71%) e Florianópolis (68%). Boa Vista (52%), João Pessoa (58%) e Porto Alegre (55%) estão fora da zona de alerta.
A Nota Técnica da Fiocruz destaca que o cenário atual não é o mesmo registrado entre março e junho de 2021, considerada a fase mais crítica da pandemia e ressalta que mesmo com o acréscimo de leitos observados nas últimas semanas, a disponibilidade é bem menor.
BAIXA COBERTURA VACINAL
O documento reforça que o crescimento nas taxas de ocupação de leitos de UTI SRAG/Covid-19 para adultos no SUS é preocupante, principalmente frente às baixas coberturas vacinais em diversas áreas do país, onde os recursos assistenciais são mais precários.
Os pesquisadores alertam que uma proporção considerável da população que não recebeu a dose de reforço, e a população não vacinada, são mais suscetíveis a formas mais graves da infecção com a ômicron e voltam a sublinhar que a elevadíssima transmissibilidade da variante pode incorrer em números expressivos de internações em leitos de UTI, mesmo com uma probabilidade mais baixa de ocorrência de casos graves.
Diante desse cenário, a Fiocruz reforça como fundamental a necessidade de avançar com a vacinação, incluindo a exigência do passaporte vacinal.
Os pesquisadores também sugerem a obrigatoriedade do uso de máscaras em locais públicos, campanhas para orientar à população e o auto-isolamento ao apresentar sintomas, evitando a transmissão.
MAIS CONTAMINAÇÃO, MAIS MORTES
O infectologista Pedro Curi Hallal, coordenador da pesquisa sobre coronavírus do Brasil, a Epicovid, da Universidade Federal de Pelotas, alerta que mesmo sendo menos agressiva, a variante ômicron está pressionando o sistema de saúde, lotando hospitais e provocando mortes.
“A variante ômicron vem confirmando tudo que ela prometeu logo que surgiu. Ela é muito mais transmissível que as versões anteriores do vírus e isso já ficava claro nos primeiros dias desde o seu surgimento na África do Sul, aquele crescimento de casos que mais parecia o lançamento de um foguete”, compara.
Para o infectologista, isso se replicou em todos os países. A variante confirmou que é muito mais transmissível e bem menos agressiva. “Com o mesmo número de contaminados ela causa menos mortes que as variantes anteriores. O problema é que nós não temos o mesmo número de contaminados, mas um número muito maior. Mesmo a doença sendo mais leve, se antes, digamos de cada 100 morria um, agora de cada mil morre um. Se tivermos dez vezes mais contaminados nós vamos ter o mesmo número de mortes que a gente tinha anteriormente”, explica.
A ômicron, completa Hallal, tem causado “um estrago muito grande entre não vacinados”. Entre os vacinados, a variante até consegue infectar, mas com menos probabilidade de gravidade e morte.
“Entre os não vacinados, ela está fazendo a festa. O somatório de todas essas informações faz com que os números estejam transbordando. Mesmo ela sendo menos agressiva, consegue pressionar o serviço de saúde, lotar os hospitais e aumentar os óbitos”.