As agressões físicas, ofensas e intimidações contra jornalistas cresceram 168% de 2019 para 2020, aponta levantamento feito pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert). Jair Bolsonaro e seus seguidores são os maiores responsáveis pelo aumento.
O relatório “Violações à Liberdade de Expressão” registrou 150 casos de agressões, físicas ou verbais, e intimidações contra 189 jornalistas e meios de comunicação. Em 2019, foram 59 casos contra 658 jornalistas.
O próprio Bolsonaro foi quem agrediu verbalmente jornais e jornalistas por diversas vezes.
Para a Abert, “a postura abertamente hostil do governo Bolsonaro em relação a jornalistas e veículos de comunicação tornou-se marca registrada”.
Em um dos casos de ofensa e difamação, Jair Bolsonaro foi condenado a pagar R$ 20 mil de indenização à jornalista Patrícia Campos de Mello, da Folha de S. Paulo, que investigava o envio ilegal de mensagens em massa durante as eleições de 2018.
Bolsonaro disse que ela teria se insinuado sexualmente para uma fonte para conseguir material contra o governo. “Ela queria dar o furo”, disse em tom sarcástico e completamente desrespeitoso.
O registro das mensagens apresentado por Patrícia prova que, na verdade, ela que recusou as investidas da fonte.
Em 23 de agosto, depois de ter sido questionado por um jornalista porque a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, recebeu depósitos de R$ 89 mil de Fabrício Queiroz, investigado por desvio de dinheiro, Bolsonaro ameaçou o repórter.
“Minha vontade é eu encher a tua boca de porrada, tá? Seu safado”, disse.
Seguindo o exemplo de seu líder, os bolsonaristas chegaram a agredir fisicamente jornalistas.
No dia em que o ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, prestou depoimento por conta de sua denúncia de que Jair Bolsonaro queria interferir politicamente na Polícia Federal, manifestantes bolsonaristas bateram em um repórter que fazia a cobertura.
Os ataques a jornalistas ficaram insustentáveis e eles reagiram.
Tanto assim que jornalistas que acompanhavam uma entrevista coletiva de Bolsonaro na saída do Palácio da Alvorada, na manhã da terça-feira do dia 31 de março, deixaram o local da entrevista após ele mais uma vez estimular sua claque de apoiadores, presente no local, a hostilizar e xingar os repórteres.
A ação ocorreu após Bolsonaro se irritar com uma pergunta sobre as recomendações do então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e que Bolsonaro tem desrespeitado.
Bolsonaro reagiu à pergunta sobre Mandetta insuflando seus apoiadores. Um deles começou a gritar que a imprensa “coloca o povo contra o presidente”. “É ele que vai falar, não é vocês não”, disse Bolsonaro.
No início daquele mês, as lideranças dos jornalistas também convocaram um ato em repúdio às ofensas.
A cena de um humorista fantasiado de presidente da República distribuindo bananas e debochando dos jornalistas, na saída do Palácio Alvorada, foi a “gota d’água” para os profissionais da imprensa.
Um ato em protesto foi convocado pelos jornalistas que faziam a cobertura do Planalto e do Congresso Nacional no dia 18 de março. “O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do DF (SJPDF) convoca a categoria a participar da manifestação no dia 18/3, em defesa dos serviços públicos, da educação, pela democracia e contra os ataques que os jornalistas e as jornalistas vêm sofrendo. Basta!”, convocou a entidade, acompanhado de um vídeo com várias cenas de insultos de Bolsonaro contra os jornalistas no ano passado e início desse.