Com as tarifas da energia e água pesando no bolso dos consumidores, 22% da população está trocando o pagamento destas das contas por alimentos básicos, como arroz e feijão, por exemplo.
Os dados são de um levantamento feito pelo Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria), encomendada pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS). O Ipec entrevistou 2.002 pessoas com 16 anos ou mais em todas as regiões do país, entre os dias 11 e 17 de novembro de 2021.
Em 2021, diante dos reajustes e bandeiraço nas contas de luz, a energia elétrica acumulou uma alta de 21,21% no ano. Diante disto, a inflação oficial – que é medida pelo IPCA do IBGE -, fechou o ano em alta acumulada de 10,06%, maior alta desde 2015.
A pesquisa do Ipec destaca que o aumento da energia comprometeu, em média, metade do orçamento de um quarto dos brasileiros de baixa renda (até cinco salários mínimos — hoje, R$ 6.060).
O instituto pontua que a energia corroeu ao menos 25% dos vencimentos de metade da população brasileira. Isto fez com que, no geral, quatro entre dez brasileiros reduzissem despesas com roupas, sapatos e eletrodomésticos, por exemplo, para arcar com a luz. A população de baixa renda é a que mais contribuiu com esse resultado.
Segundo a sondagem ainda, os cortes de despesas foram mais severos no Nordeste e no Centro-Oeste, onde um em cada quatro habitantes (28% e 27%, respectivamente) postergou o pagamento para ir ao supermercado.
Os cálculos do físico e coordenador sênior de energia do instituto, Roberto Kishinami, não levaram em conta as bandeiras tarifárias e as medidas para contornar a crise hídrica que, em ano eleitoral, serão deixadas como herança para o próximo governo.
Desde setembro está em vigor a bandeira tarifária “Escassez Hídrica”, criada pelo governo Bolsonaro, que acrescenta R$ 14,20 na conta de luz a cada 100 kWh consumidos.
Ela repassa aos consumidores brasileiros os altos custos do acionamento das termoelétricas, e a importação de energia da Argentina e do Uruguai – mediadas essas acionadas pelo governo, que não tinha nenhum plano de contingência para o enfrentamento de crises hídricas no país.
Estima-se que Bolsonaro vai deixar um passivo superior a R$ 140 bilhões, custos esse que serão repassados aos consumidores a partir 2023.