O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) pediu nessa quarta-feira (12) que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, reconheça a nova onda da Covid-19 provocada pela disseminação da variante ômicron e apoie medidas como a ampliação da testagem e da cobertura vacinal.
No ofício, o conselho ainda aponta que o Brasil “está vulnerável a uma grande onda de casos”, pois 1 terço da população não tem o esquema vacinal completo. A entidade reivindica também que o governo autorize o atendimento em toda a rede hospitalar de casos de Covid. Solicita ainda aporte de recursos para testagem em massa, levando em conta o valor de R$ 4 para cada teste enviado aos Estados e municípios. O Conass cobra também o monitoramento nacional para evitar a falta de medicamentos, equipamentos de proteção e kits de intubação em unidades de saúde, como já ocorreu em momentos de alta de casos da doença.
“Sendo a ômicron mais transmissível e responsável pelo aumento de pacientes com sintomas leves, os serviços ambulatoriais estarão pressionados por quadros clínicos que exigem testagem imediata, prescrição médica e emissão de atestados para o devido isolamento dos positivo”, justifica a nota.
O órgão destacou ainda o comprometimento dos serviços de saúde em países onde a nova variante já impacta em recordes de casos leves, porém “a rede hospitalar também já se encontra pressionada por casos graves, principalmente em pacientes não-vacinados, incluindo as crianças”, alerta o Conselho.
“Se o sistema hospitalar entrar em colapso, tanto na rede privada, quanto na rede pública, óbitos evitáveis poderão ocorrer pela não garantia de acesso à internação”, diz o documento, assinado pelo presidente do Conass e secretário de Saúde do Maranhão, Carlos Lula. Outra medida reivindicada pelos secretários de saúde, é a “imediata deflagração de campanha pela imunização completa de toda a família brasileira, com destaque para a vacinação infantil”.
Pelo menos 13 Estados tiveram alta no número de internações por Covid-19 ou suspeita da doença em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e enfermarias na comparação com o fim do ano passado. O aumento das hospitalizações ocorre após as festas de fim de ano e em meio ao avanço das contaminações pela variante ômicron, mais transmissível.
O total de hospitalizações agora não se compara ao verificado durante o pico da Covid no primeiro semestre de 2021, graças à vacinação, mas pressiona serviços públicos e privados. Secretários abrem leitos para dar conta da demanda e avaliam cancelar cirurgias eletivas.
Apesar da postura negacionista do presidente Jair Bolsonaro, que desde o início subestimou o potencial de letalidade e de transmissão da Covid-19, dizendo tratar-se de uma “gripezinha”, o governo deve distribuir 20 milhões de doses da Pfizer direcionadas às crianças de 5 a 11 anos no primeiro trimestre. Também é aguardada a liberação da Anvisa, que vem protelando a decisão, para aplicar a CoronaVac no público de 3 a 17 anos.
No dia 16 de dezembro a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a vacinação da população infantil com o imunizante da Pfizer. Entretanto, o governo buscou vários subterfúgios para se esquivar da obrigação. Entre esses, a exigência de receituário médico para os pais imunizarem suas crianças. Tal exigência caiu. Finalmente, após reiteradas críticas de diversos setores, o Ministério da Saúde anunciou, no último dia 5 a vacinação das crianças.
Mesmo com a onda de infecção diária pela nova variante da Covid 19 – e com mais de 600 mil mortes no país em função da doença, – Bolsonaro e seu governo continuam a minimizar a tragédia. Em evento do Ministério da Saúde sobre a ômicron nesta quarta, o titular da pasta, Marcelo Queiroga, disse que a variante traz receio de colapso no atendimento de saúde, mas que a doença ainda não tem pressionado estes serviços.
A disparada de casos da Covid, porém, tem obrigado governos locais a reabrirem leitos. No estado de São Paulo, as internações por Covid-19 em UTI cresceram 91% em oito dias
Já o presidente, insinuou que a nova cepa é “bem-vinda”. “[A] ômicron, que já espalhou pelo mundo todo, como as próprias pessoas que entendem de verdade dizem: que ela tem uma capacidade de difundir muito grande, mas de letalidade muito pequena”, disse Bolsonaro, em entrevista ao site Gazeta Brasil.
“Dizem até que seria um vírus vacinal. Deveriam até… Segundo algumas pessoas estudiosas e sérias — e não vinculadas a farmacêuticas — dizem que a ômicron é bem-vinda e pode sim sinalizar o fim da pandemia”, afirmou ainda Bolsonaro.
Em reação à fala de Bolsonaro, o diretor-executivo do programa de emergências em saúde da OMS (Organização Mundial da Saúde), Michael Ryan, que “este não é o momento de declarar que esse vírus é bem-vindo, nenhum vírus que mata pessoas é bem-vindo”, rebateu o representante da OMS.