O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), apontou como “erro gravíssimo” a decisão do Ministério da Saúde de centralizar a compra e a distribuição dos medicamentos que compõem o kit intubação usado por pacientes graves de Covid-19.
Doria também reforçou o protesto do secretário de Saúde do Estado, Jean Gorinchteyn, pelo descaso do governo federal com a falta dos medicamentos como anestésicos, sedativos e bloqueadores neuromusculares — necessários para relaxar a musculatura durante o processo de intubação.
Sem essas drogas não é possível realizar de forma satisfatória a intubação, que garante a chegada de oxigênio aos pulmões nos quadros mais críticos dos pacientes de Covid-19.
“O Ministério da Saúde cometeu um erro gravíssimo ao confiscar os insumos que as empresas produzem. Isso foi realizado na gestão do ministro anterior, Eduardo Pazuello, mas ainda não foi suspenso”, disse Doria.
“Nenhum governo estadual, municipal ou instituições privadas pode adquirir esses insumos porque as empresas receberam um confisco, um sequestro do Governo Federal. Gostaríamos de saber por que o Ministério da Saúde não faz a distribuição desse material aos Estados, que podem levar até a ponta, nos hospitais”, completou.
Neste ano, em março, quando a pandemia voltou a agravar e ultrapassou os índices de 2020, o Ministério da Saúde tomou uma série de medidas administrativas para centralizar a compra dos remédios do kit intubação.
Com isso, todo o excedente de produção dos laboratórios farmacêuticos que fabricam esses anestésicos, sedativos e bloqueadores neuromusculares foi encaminhado para o Governo Federal, que ficou responsável por realizar a distribuição para os Estados por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).
Porém, a logística não funcionou. De acordo com Gorinchteyn, o número de doses enviadas até o momento é “ínfima”.
Gorinchteyn afirmou que “há 40 dias envia ofícios para o Ministério da Saúde fazendo esse alerta e pedindo ajuda. (…) São medicamentos importantes para a sedação dos pacientes” que têm que enfrentar uma intubação.
Ainda de acordo com o secretário, nenhuma resposta foi enviada. “À medida que o Governo Federal fez essa requisição emergencial, nós perdemos a possibilidade de adquirir esses produtos. Nós atendemos os nossos hospitais estaduais, mas os municípios também estão pedindo ajuda e nós precisamos acolhê-los”, afirmou Gorinchteyn
Sem esses medicamentos, o secretário evidencia que a situação é “gravíssima” e ressalta que o sistema de saúde está na “iminência do colapso”.
RESPOSTAS
Doria compartilhou, nesta quinta-feira (15), em seu perfil no Twitter, cópia dos 9 ofícios enviados ao Ministério da Saúde.
“Esses são os 9 ofícios enviados pelo Governo de São Paulo ao Ministério da Saúde apontando, desde o dia 03/03, a necessidade de medicamentos que compõem o “Kit Intubação”. Não tivemos nenhuma resposta. É omissão e descaso do Governo Federal com a população”, escreveu o governador.
“Precisamos que o governo nos responda, mas de forma ativa. É necessário que o país tenha um estoque desses medicamentos por muito mais tempo, pois estamos num momento muito dramático”, completou.
Doria fez um apelo direto ao novo ministro da Saúde. “O ministro Marcelo Queiroga tem mostrado boa vontade e sensibilidade na defesa da ciência. Que ele se sinta compelido pela situação e resolva o envio dos insumos”.
Nesta quinta, Gorinchteyn informou que um novo carregamento de medicamentos deve chegar ainda hoje, mas reiterou que é crucial agilizar o fornecimento de insumos devido à demanda gerada pelo alto número de casos de covid-19, e responsabilizou o Ministério da Saúde por impossibilitar a compra de insumos diretamente dos fabricantes.
O Brasil registra há meses um aumento dos casos e mortes por covid-19.
São Paulo, o estado mais populoso (45,9 milhões), apresenta uma média móvel de 15.000 casos e 773 mortes por dia, segundo o Ministério da Saúde. O estado acumula 2,6 milhões de casos e 85.475 óbitos, com uma taxa de 186 mortes a cada 100 mil habitantes, maior que a média nacional de 172 mortes a cada 100 mil habitantes.
Nesta quinta, 86,4% dos leitos de UTI estão ocupados, enquanto alguns hospitais anunciaram a redução de leitos devido à falta do kit intubação.
Porém a situação não é critica quanto à falta do kit intubação só em São Paulo. Nos últimos dias, representantes de Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Bahia e outros Estados também fizeram manifestações e alertas sobre a escassez dessas medicações.
O Ministério da Saúde emitiu nota dizendo que “já distribuiu aos estados e municípios mais de 8 milhões de medicamentos para intubação de pacientes ao longo da pandemia. Nesta semana, um grupo de empresas vai doar mais de 3,4 milhões de medicamentos, que serão distribuídos imediatamente aos entes federativos. Além disso, está em andamento dois pregões e uma compra direta via OPAS [Organização Pan-Americana de Saúde]”.
“A pasta esclarece que todos os acordos feitos para aquisição de medicamentos de intubação orotraqueal (IOT) respeitam a realidade de cada fabricante, os contratos fechados anteriormente e a necessidade do Brasil, contemplando hospitais públicos e privados nas regiões com maior risco de desabastecimento”, finaliza a nota.
O Brasil, com 212 milhões de habitantes, superou nesta quinta-feira (15) as 365.000 mortes por coronavírus e continua sendo o segundo país com o maior número absoluto de mortes, atrás dos Estados Unidos (564.400).