“Muita gente que tomou a segunda dose está morrendo”, disse o ‘capitão cloroquina’. Ele segue em sua cruzada a favor do vírus. Mais de 90% das pessoas que morreram nos últimos meses não estavam vacinadas, mas ele insiste em negar papel da ciência
Jair Bolsonaro segue em sua campanha a favor do coronavírus. Voltou a atacar as vacinas, nesta segunda-feira (11), durante conversa com apoiadores e jornalistas na praia da Enseada, em Guarujá, no litoral paulista. Sua sabotagem à compra dos imunizantes colocou o Brasil como o campeão mundial de mortes por Covid-19. O país já perdeu mais 600 mil vidas desde o início da pandemia.
Em mais um grave equívoco, fruto de seu negacionismo, Bolsonaro tentou minimizar os efeitos da vacinação na redução das mortes. “Os caras tentam desqualificar você por qualquer coisa. Agora, por que não divulgam o número de mortes de pessoas vacinadas? Não divulgam. Muita gente que tomou a segunda dose está morrendo”, disse o presidente.
Ele se baseia em dados parciais de internação para justificar sua posição anticiência. Com o aumento da cobertura vacinal, é natural que aumente a quantidade de pessoas imunizadas entre as internadas ou mesmo entre as que venham a morrer, já que nenhuma vacina tem proteção de 100%. Mas, dado que os imunizantes são eficazes, a probabilidade de complicação entre os vacinados vai ser menor do que entre os sem proteção.
Os dados confirmam isso. Mais de 90% das mortes estão entre os não vacinados. entre os internados esse percentual está por volta de 80%. Estudos estimam que a imunização no país evitou no mínimo 40.000 mortes. Há dados conclusivos mostrando que os grupos que primeiro foram vacinados também experimentaram, antes dos outros, queda na mortalidade por Covid. Nenhuma vacina, no entanto, é 100% eficaz.
Pelo menos 9.878 brasileiros que morreram por Covid-19 no Brasil já haviam tomado as duas doses da vacina ou a aplicação única do imunizante da Janssen, revela pesquisa da Info Tracker, plataforma de monitoramento da pandemia das universidades estaduais USP e Unesp. Esses quase 10 mil mortos equivalem a 3,68% do total de óbitos por Covid no período. O levantamento usou dados no Ministério da Saúde e analisou os casos ocorridos entre 28 de fevereiro, quando as primeiras pessoas no Brasil concluíram a janela de imunização, e 27 de julho.
Esses dados confirmam que a vacinação contra a Covid-19, seja com o imunizante que estiver disponível, contribui radicalmente para reduzir o número de casos graves, internações e mortes causadas pela doença, mas não protegem contra infecção e não impedem que o vírus seja transmitido. Ou seja, enquanto o SARS-CoV-2 continuar circulando livremente como acontece hoje no país, as pessoas vão continuar ficando doentes e nem todos vão resistir à infecção – mesmo estando vacinados.
“Por que muitos governadores e prefeitos vacinaram jovens entre 12 a 17 anos? Baseados em quê? Recomendação da Anvisa? Da Saúde? De quem? Estamos mexendo com vidas. A molecada abaixo de 20 anos, a chance de não ter nada, uma vez contaminada, é de 99,99%. Compensa o custo benefício da vacina?”, disse Bolsonaro, pouco após se irritar ao ser questionado sobre a marca de 600 mil óbitos pela doença no país, atingida no último dia 8. “Qual país não morreu gente? Responda. Não vem me aborrecer aqui, por favor”, retrucou sobre o assunto, sem se basear em nada.
Contrariando Bolsonaro, a Anvisa recomendou a vacinação das pessoas de 12 a 17 anos no Brasil, e países como os Estados Unidos já analisam liberar a imunização de crianças com menos de 12 anos. A declaração de Bolsonaro, de crítica à vacinação de adolescentes, contraria, portanto, a orientação do próprio Ministério da Saúde, que, após idas e vindas, fruto das pressão do Planalto, acabou decidindo que os benefícios da imunização desse grupo são maiores que os riscos de efeitos adversos.