Área técnica, na gestão Pazuello, no Ministério da Saúde, foi ignorada para aquisição dos imunizantes. A palavra final era do coronel Élcio Franco, que era o secretário executivo da pasta
Ao responder questionamento do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), na CPI da Covid-19 no Senado, nesta quinta-feira (8), Francieli Fantinato afirmou que a Coronavac tinha ficado de fora do primeiro PNI (Programa Nacional de Imunizações) por determinação de Élcio Franco, à época, secretário-executivo do Ministério da Saúde.
“A senhora sabe esclarecer a motivação de a Coronavac não constar no primeiro PNI apresentado pelo general Pazuello?”, indagou o senador a Francieli Fantinato, que coordenou o PNI.
“A Coronavac é uma vacina que a gente queria que fosse introduzida [no processo de imunização] desde o começo, não é? Então, a gente também fez manifestação em relação a qualquer vacina que estivesse disponível. Então, nós éramos a favor”, explicou Fantinato.
A CPI, instalada no Senado em 27 de abril, investiga as ações, omissões e inações do governo federal, sob a liderança do presidente da República Jair Bolsonaro, no combate à pandemia do novo coronavírus.
SECRETARIA EXECUTIVA DECIDIA
“Agora, a negociação era na secretaria executiva [sob o comando do coronel Élcio Franco]”, acrescentou.
“Então, a gente dependia daquela conversa, daquela discussão, lembrando que o primeiro quantitativo de vacinas foi no dia 19 de junho, o que não limitava fornecedor. A única condição, as únicas condições eram que tivessem resultados satisfatórios e aprovação pela Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária]”, asseverou.
Fantinato é enfermeira e coordenou o PNI de maio de 2019 até o início desta semana. Ela reconheceu que “existia um cenário de escassez mundial” de vacinas. Mas disse que o PNI organizou plano para iniciar a campanha de vacinação mesmo com número reduzido de doses, atendendo inicialmente aos grupos prioritários.
VETO À CORONAVAC
“A clara decisão do governo federal brasileiro de não fazer a aquisição de um grande volume de vacinas num primeiro momento, que é exemplificada pela decisão de aderir ao Covax Facility apenas em 10%, na menor cota, essa decisão teve respaldo do grupo técnico do PNI ou foi uma decisão a partir da Secretaria Executiva?”, questionou Vieira.
“Nós fizemos uma nota inicial da Covax Facility pedindo já o quantitativo diante daqueles cenários que eu já apontei aqui. Eram cenários ainda de incerteza, nós fizemos uma modelagem, um cálculo, e entendemos naquele momento que precisaríamos de ‘x’ doses”, explicou a enfermeira.
“Se não pudéssemos ser atendidos naquele quantitativo de ‘x’ doses, que a gente fizesse a vacinação pelos grupos prioritários. Então, havia um quantitativo superior ao quantitativo definido na Covax”, disse.
OPÇÃO POR MENOS DOSES
“Só para deixar mais claro para quem está acompanhando a gente e para os registros da CPI. A sugestão técnica foi de um volume maior do que foi efetivamente contratado?”, indagou o senador a Fantinato.
“Do dia 19 de junho, o nosso quantitativo variava, com os cenários de incerteza, de 140 a mais ou menos 242 milhões de doses, tendo em vista uma única dose, porque não se tinha, na época, nenhum préprint ‘falando’ que as vacinas seriam de duas doses. Não tinha ainda estudos com essa definição. Então, foi um quantitativo superior”, explicou.
Alessandro Vieira: “O número efetivamente contratado de vacinas pelo Covax foi uma coisa em torno de 40 milhões? É isso?”.
“Eu acho que são 42 milhões [doses]”, respondeu a ex-coordenadora do PNI.
“Cerca de 100 milhões de doses abaixo daquilo que foi desenhado pela equipe técnica, mesmo considerando que fossem vacinas de uma dose única”, ponderou Vieira.
M. V.