“No Estado nós atualizamos a Agenda de Resposta Rápida da Atenção Primária, um conjunto de medidas de mobilização da atenção básica no SUS para ampliar o diagnóstico, o isolamento, o monitoramento e a testagem nos bairros”, disse o secretário, em entrevista ao HP
O Secretário de Saúde do Espírito Santo, Nésio Fernandes, afirmou, em entrevista ao HP, neste domingo (7), que o governo do Estado tem seguido rigorosamente o planejamento e as orientações técnicas emanadas pelo comando do SUS e que isso garantiu uma ação coordenada e eficaz durante a crise. “Já havíamos abraçado a estratégia de “Leitos para todos” e com isso foi possível acolher nos leitos do SUS no Espírito Santo os pacientes do Amazonas, Rondônia e de Santa Catarina”.
“Na saúde, atualizamos a Agenda de Resposta Rápida da Atenção Primária, um conjunto de medidas de mobilização da atenção básica no SUS para ampliar a capacidade de diagnóstico, isolamento, monitoramento e testagem nos bairros”, disse o secretário. “Nunca fizemos lockdown”, destacou. Ele afirmou que, semanalmente, o governador Renato Casagrande lidera e reúne a Sala de Situação que avalia a situação da Pandemia no Estado e atualiza as decisões no enfrentamento a mesma.
O chefe da Saúde do Espírito Santo, avalia como desastroso o ritmo da vacinação no Brasil. “Vivemos em 2021 o reflexo do colapso da experiência brasileira no enfrentamento à pandemia em 2020. Sem coordenação nacional, com todas as medidas sanitárias sendo combatidas pela principal liderança da nação. Perdemos o tempo das decisões oportunas”, observou o secretário. Leia a entrevista na íntegra.
HORA DO POVO: O agravamento da pandemia está se dando em praticamente todo o território nacional. Mesmo assim, o Espírito Santo está prestando ajuda e até recebendo pacientes de Santa Catarina. Como vocês estão conseguindo prestar essa ajuda?
NÉSIO FERNANDES: Vivemos etapas distintas da pandemia no Brasil. No início da pandemia o Espírito Santo foi o terceiro Estado a diagnosticar casos de coronavírus no País. No segundo semestre de 2020 investigações feitas pelo nosso Laboratório Central identificaram anticorpos para SARS-COV-2 em pacientes doadores de sangue com data de coleta do início de fevereiro e de sintomas em janeiro. Paciente sem relato de viagem ao exterior, de região turística do litoral capixaba. Vivemos em todo o território estadual duas expansões bem desenhadas da doença, uma iniciada na segunda quinzena de abril e outra em novembro. A partir da segunda quinzena de janeiro, vivemos nova fase de recuperação da segunda expansão.
“O Espírito Santo foi o terceiro Estado a diagnosticar casos de coronavírus no país”
Em dezembro, previmos que, pela sazonalidade das doenças respiratórias, deveríamos viver nova fase de aceleração da curva de casos nos meses de março e abril. Esses três cenários foram previstos com meses de antecedência pelo comando do SUS no Espírito Santo. Em abril de 2020, abraçamos a iniciativa da ABRASCO (Associação Brasileira de Saúde Coletiva) e lançamos a estratégia “leitos para todos”, na primeira onda disponibilizamos 715 leitos de UTI-COVID, na segunda 694 e, agora, projetamos mais de 900 leitos de UTI-COVID para resistir à terceira expansão da doença. A partir da segunda quinzena de janeiro, vivemos a fase de recuperação da segunda expansão, que coincidiu com a fase de aceleração de outros Estados. Dessa forma foi possível acolher nos leitos do SUS no Espírito Santo os pacientes do Amazonas, Rondônia e de Santa Catarina.
HP: Quais medidas vocês, no Espírito Santo, estão tomando diante do agravamento da pandemia?
NF: Somos um Estado com 78 municípios e com 4 milhões de habitantes, sendo 3 milhões população SUS-dependente. Semanalmente, o governador Renato Casagrande lidera e reúne a Sala de Situação que avalia a situação da Pandemia no Estado e atualiza as decisões no enfrentamento da mesma. Adotamos desde abril de 2020 uma matriz de risco que reconhece o risco de cada município e define medidas qualificadas de restrição das atividades econômicas e sociais dependendo do risco ser baixo, moderado, alto ou extremo. Nunca fizemos lockdown.
“Nunca fizemos lockdown”
Na saúde, atualizamos a Agenda de Resposta Rápida da Atenção Primária, um conjunto de medidas de mobilização da atenção básica no SUS para ampliar a capacidade de diagnóstico, isolamento, monitoramento e testagem nos bairros. Além de ampliar a capacidade do LACEN-ES para realizar 3.500 RT-PCR/dia e credenciar seis laboratórios da rede privada, estamos comprando 250 mil testes rápidos de antígenos que serão distribuídos em todos os níveis de atenção à saúde no Estado. Decidimos antecipar as expansões do SAMU-192 para todo o Estado. No início do governo, somente 18 municípios tinham a cobertura do mesmo e podemos alcançar 100% de cobertura até abril.
Além disso, em dezembro deliberamos novas obras e a ampliação de leitos na rede própria, filantrópica e privada, antes da pandemia tínhamos 660 leitos de UTI no SUS, já são 1.300 hoje, e até abril passaremos a 1.500 leitos de UTI disponíveis para a rede pública, sendo 900 para atender pacientes respiratórios suspeitos de COVID-19.
Outro movimento é o de comprar vacinas. Desde o ano passado. o governador Renato Casagrande autorizou a negociação para compra de vacinas e temos diversas negociações em aberto. Estão reservados 200 milhões de reais para a compra, que poderão representar de 2 a 3,5 milhões de doses, dependendo do valor. Também decidimos comprar os equipamentos para a realização da vigilância genômica no Estado, o que permitirá reconhecer com maior velocidade o comportamento futuro da pandemia e de suas potenciais variações.
“Desde o ano passado, o governador Renato Casagrande autorizou a negociação para compra de vacinas”
HP: Como você está vendo o ritmo de vacinação no Brasil e como avalia a atuação do governo federal e, particularmente, os últimos posicionamentos de Jair Bolsonaro?
NF: É desastroso o ritmo da vacinação. Vivemos em 2021 o reflexo do colapso da experiência brasileira no enfrentamento a pandemia em 2020. Sem coordenação nacional, com todas as medidas sanitárias sendo combatidas pela principal liderança da nação, fracassamos como país.
Chegamos a 2021 com muitas vacinas anunciadas e poucas distribuídas. Perdemos o tempo das decisões oportunas. Aqui no Espírito Santo podemos vacinar um milhão de pessoas por mês, até agora foram 160 mil doses aplicadas, 80% das doses que recebemos. Podemos muito mais, mas falta o insumo.
“Não houve coordenação nacional”
HP: Que recado você mandaria para a população num momento grave como este?
NF: Acredite na ciência, nas autoridades sanitárias, não subestime a doença. Independente da variante, usar máscaras, higienizar superfícies e as mãos, o distanciamento social, a avaliação médica com isolamento e testagem de suspeitos e contatos deve ser feita. Muitas pessoas deixaram de dar valor aos sintomas leves da doença e acabam não se isolando e procurando devida avaliação médica e testagem.
Diante de qualquer sintoma é fundamental procurar um serviço de saúde. Não tomem medicamentos sem evidência cientifica. Eles dão falsa sensação de tratamento/cura e os pacientes acabam evoluindo com dano pulmonar em casa e chegando tardiamente ao hospital com insuficiência respiratória já estabelecida piorando o prognóstico da internação. Combata fake news e defenda as vacinas.
SÉRGIO CRUZ