É enorme a expectativa nos EUA pelo primeiro debate televisionado da atual campanha presidencial, que colocará nesta terça-feira (29, às 22:00, horário local) cara a cara o presidente norte-americano Donald Trump, do Partido Republicano, que concorre à reeleição, e o candidato pelo Partido Democrata, e ex-vice-presidente norte-americano, Joe Biden. O primeiro debate presidencial de 2016 teve uma audiência de 84 milhões de pessoas, e espera-se que a deste ano seja ainda maior.
O debate será realizado em Cleveland, no estado de Ohio, com duração de 90 minutos, e terá o âncora da Fox News, Chris Wallace, de moderador. Estão programados mais dois debates, em Miami, Flórida, no dia 15 de outubro, e em Nashville, Tennessee, uma semana depois.
No primeiro debate, os temas acertados com os dois presidenciáveis são: histórico dos candidatos; Suprema Corte; economia; racismo e violência nas cidades e integridade das eleições. Cada tópico será discutido por 15 minutos.
O aperitivo servido no domingo pelo New York Times – a revelação de que o bilionário presidente não pagou imposto de renda durante dez anos e só pagou US$ 750 em 2016 e 2017 – serviu para apimentar o debate.
Como provocação, Trump andou encenando ‘exigir’ que Biden fizesse um exame antidrogas antes do debate – uma forma de achar uma explicação para o fiasco de sua caracterização do candidato opositor como “Joe Sonolento”, que não emplacou, ao contrário do que ele conseguira, há quatro anos atrás, com o “Hillary vigarista”, que pegou como uma tatuagem.
O que interessa a Biden é colocar no centro da discussão o enorme fracasso de Trump no enfrentamento da pandemia, que tornou o país mais rico do mundo em recordista em mortes da covid, com 4% da população mundial e 20% dos óbitos, e ainda a devastação econômica ligada à pandemia, só comparável à Depressão de 1930 em número de desempregados.
Quando um dos debatedores é Trump, cujo estilo foi definido à agência Efe como “insultos e provocações no pátio da escola” pelo especialista em debates televisionados e professor emérito, Alan Schroeder, a discussão não deve se pautar, propriamente, pela sobriedade.
“Beligerante” foi a palavra escolhida por Schroeder para descrever o debate das próximas horas. O desafio para Biden, acrescentou, “é não perder a calma”.
Aliados de Biden concordam. “Quando você entra na lama com um porco, o porco se diverte, e você acaba coberto de lama”, alertou o senador democrata Chris Coons.
E já tem muita lama a caminho, segundo o jornal Washington Post, que assinalou como estratégia de debate de Trump partir para ataques pessoais contra Biden, especialmente em relação ao filho Hunter, que virou diretor de uma empresa privada de gás ucraniano após a derrubada de Yanukovich em 2014.
Em 2018, quando começaram os rumores sobre Hunter, Biden chegara a dizer que “perguntaram-me se eu debateria com este cavalheiro, e respondi: ‘se estivéssemos no colegial, eu o levaria para trás do ginásio e o espancaria”.
Já num evento virtual neste mês, Biden disse que esperava “não morder a isca e entrar em uma briga com este cara”. “Vai ser difícil, porque acho que ele vai estar aos gritos”.
E como – depois da revelação de que o bilionário presidente paga menos imposto do que uma garçonete ou um imigrante.
A campanha republicana preparou “17 perguntas que Biden deve responder”. Analistas consideram que esse primeiro debate não deve alterar substancialmente as tendências de voto, já que a proporção de indecisos é menor agora do que em 2016. Há ainda o fato de que muitos norte-americanos já começaram a votar de forma antecipada.
Nas últimas semanas, Trump tem mantido de forma persistente uma campanha de desinformação questionando a votação pelo correio, que nos EUA é tradicional mas chama de “fraude”, ao mesmo tempo em que nos comícios diz que só perde se houver fraude e ameaça nas entrevistas não reconhecer o resultado.
Tornou-se também explícito que a sofreguidão para nomear uma juíza substituta de Ruth Bader Ginsburg não era explicada apenas pela disposição de surrupiar direitos futuramente, mas principalmente em criar condição para uma virada de mesa numa Suprema Corte de maioria reacionária de 6 a 3, para repetir o roubo cometido por W. Bush nas eleições de 2000.
Para tentar reduzir o desgaste na questão da pandemia, Trump segue com tuitadas prometendo que a vacina está logo ali na esquina e na segunda-feira anunciou o envio de 150 milhões de testes rápidos para os Estados, para a reabertura das escolas e para os centros de idosos. Ele também tem buscado se apresentar como o ‘presidente da lei & ordem’, em contrapartida ao “caos nas ruas” provocado pela “esquerda radical” que supostamente faria Biden de joguete – a descrição fantasiosa de Trump sobre os meses de protestos nos EUA contra o racismo e impunidade da polícia institucionalizados.
Até aqui, as pesquisas vêm dando Biden na frente, inclusive nos Estados campo de batalha, que são os que decidem o resultado no colégio eleitoral, isto é, quem será o novo inquilino da Casa Branca.