Bolsonaro tentou parar as pesquisas com a CoronaVac no Brasil. Covas afirmou que Boulos se comporta como o “engenheiro de obras prontas”
O assunto mais importante das eleições deste ano, que é a forma como foi enfrentada a pandemia do coronavírus, foi tema do primeiro bloco do debate, realizado nesta segunda-feira (16), entre Bruno Covas (PSDB) e Guilherme Boulos (Psol).
Este assunto fez com que Jair Bolsonaro, que desdenhou a sua gravidade, sabotou as medidas de proteção e atrapalhou os governadores e prefeitos, particularmente de São Paulo, levasse seus candidatos a derrotas em todo o Brasil.
Boulos preferiu atribuir as dificuldades vividas pelo país, e, em particular, pela cidade de São Paulo, a Bruno Covas e João Doria. Disse que se fosse ele à frente da prefeitura, faria investimentos nas unidades de saúde e nas equipes de vigilância epidemiológica, e abriria hospitais da periferia que estão fechados.
Covas rebateu dizendo que Boulos estava se comportando como o “engenheiro de obras prontas”, aquele que tem soluções prontas, mas só aparece depois que o problema já foi enfrentado. “Você só sabe falar. Assim é fácil, o difícil é fazer certo no meio da crise”, afirmou.
RESPEITO AOS SERVIDORES DA SAÚDE
O prefeito acusou Boulos de desrespeitar os servidores da saúde do município de São Paulo que, segundo ele, tiveram um comportamento exemplar no enfrentamento da pandemia. Covas lembrou que foram criados 1.000 leitos a mais na cidade e que ninguém ficou sem atendimento na maior metrópole da América Latina. O prefeito disse que o pior já passou, mas que a pandemia ainda não acabou.
Sobre a questão da vacina, que Bolsonaro atacou, tentando parar os seus estudos e a sua produção, por ser uma parceria do Instituto Butantan, de São Paulo, com a empresa chinesa Sinovac, Boulos disse que o problema estava nos dois lados. “Houve politização de ambos os lados”, disse ele.
Boulos desconsiderou que Bolsonaro, com seu obscurantismo e sua arrogância, aparelhou a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), e, por puro preconceito com os chineses e por submissão aos EUA, tentou parar as pesquisas com a vacina desenvolvida pelo governo de São Paulo. Todo o Brasil repudiou essa atitude retrógrada.
Covas disse que, em sua administração, quem decide sobre o assunto da vacina é a ciência. Ele lamentou a manipulação, por parte do adversário, da questão da vacina, que é a grande esperança da população brasileira, e de todo o mundo, para se livrar da tragédia do coronavírus.
APOIO DE LULA E DORIA
A apresentadora falou sobre uma pesquisa. mostrando que o ex-presidente Lula e o governador João Doria não eram bons cabos eleitorais em São Paulo e perguntou sobre isso aos candidatos.
Boulos preferiu não falar nada sobre o apoio de Lula à sua candidatura e afirmou que Covas estaria incomodado com o apoio de Doria, porque este teria deixado a prefeitura para disputar o governo do estado em 2018. O prefeito disse que, pelo contrário, estava muito satisfeito com o apoio do governador e reafirmou que a sua política de frente ampla e de diálogo foi vitoriosa no primeiro turno, com 1,7 milhão de votos.
Na discussão sobre impostos, Covas denunciou que a proposta do governo Bolsonaro de reforma tributária, que está em discussão no Congresso Nacional, ao aumentar a taxação dos serviços, trará um grande prejuízo para a cidade de São Paulo. Ele disse que, como prefeito, vai lutar contra essa proposta que, se for aprovada, vai retirar de São Paulo R$ 10 bilhões em quatro anos.
SÃO PAULO TEM DINHEIRO
Boulos disse que, em São Paulo, “dinheiro tem” e destacou que tem que ter a prioridade certa. Criticou a Prefeitura por não estar tendo a prioridade certa.
Nesta hora, o candidato do Psol disse que tinha conversado com técnicos do governo e que haveria disponibilidade de R$ 19 bilhões, que estariam em caixa e que não estariam sendo usados – segundo ele, esse dinheiro podia ter sido aplicado na pandemia.
Bruno Covas respondeu que “essa é a diferença entre quem tem e quem não tem experiência em administrar os recursos públicos”. “Fala-se o que vem à cabeça sem conhecimento de causa”, apontou.
“Nem todo o dinheiro que está em caixa é para sair gastando, como defende o candidato Boulos. Depois, vai faltar para o salário do servidor”, observou.
“Orçamento não é manipulado só pela cabeça do prefeito. Tem o parlamento, o Tribunal de Contas, etc”, acrescentou Bruno Covas. “Como Boulos é chefe de movimento, ele acha que é só mandar e os outros obedecem”, completou.
DERROTA DOS RADICAIS
Os bolsonaristas, sobretudo os bolsonaristas “radicais”, realmente foram derrotados nesta eleição. Bolsonaro não fez praticamente nenhum prefeito de capital. Bruno Covas registrou este fato em sua declaração de domingo, dia do primeiro turno das atuais eleições. Aliás, não só ele, mas a maioria dos políticos, lideranças e analistas brasileiros.
Mas, o candidato do Psol disse, no debate, que era sobre ele [Boulos] que Covas estava falando ao se referir aos “radicais derrotados” – e insinuou que o prefeito estava tentando “agradar o bolsonarismo”.
Covas não respondeu. Até porque o ódio bolsonarista, e sua campanha histérica contra Bruno Covas e João Doria, é público e notório. As dezenas de micro-manifestações realizadas em São Paulo nos últimos tempos, foram todas puxadas pelos seguidores de Bolsonaro contra o governador e o prefeito.
A última, inclusive, foi contra a própria “vacina chinesa do Doria”, como dizem os seguidores de Bolsonaro. Acusar Bruno Covas de ser um bolsonarista, como tentou Boulos, chega a ser algo cômico.
Boulos afirmou que, após se reunir com membros do Tribunal de Contas de São Paulo, ficou sabendo que teriam havido vários contratos superfaturados no município. Covas nessa hora, como poucas vezes acontece, levantou a voz para Boulos. Chamou o adversário de leviano ao falar em contratos superfaturados e não apresentar provas.
NÃO VENDO MEUS VALORES
Bruno repudiou a acusação. Boulos rebateu dizendo que era natural empresas financiarem campanhas e depois cobrarem benesses do governo. Covas refutou e disse que se outros partidos tinham esse tipo de prática apontada pelo candidato do Psol, ele não tinha. “Não vendo os meus valores e meus princípios. Não compram o meu jeito de pensar, que eu aprendi dentro de casa”, afirmou.
BOULOS PROMETEU CASAS E RENDA SOLIDÁRIA DE R$ 200
Na questão da habitação, Boulos disse que a saída para o problema da moradia está nos mutirões. Segundo ele, os mutirões só não prosperaram porque atrapalham as construtoras. Ele disse que vai construir 100 mil casas em mutirão em quatro anos, defendeu também os subsídios para os financiamentos habitacionais, e a utilização de prédios abandonados no centro da cidade.
Covas afirmou que recuperou a capacidade de investimento público da Prefeitura e que já garantiu no orçamento R$ 4,5 bilhões para investimentos, “o maior volume em oito anos”, disse ele.
Bruno ressaltou que com cada um bilhão de investimentos, são criados 28 mil empregos e que os projetos já garantidos projetam a criação de 1,7 milhão de empregos. Disse que sua meta é a construção de 70 mil casas.
Guilherme Boulos defendeu também uma proposta parecida com a de Celso Russomanno, de um auxílio paulistano, com o nome de “renda solidária”. O valor seria de R$ 200, que a prefeitura garantiria. Boulos falou também em frentes de trabalho.
SÉRGIO CRUZ