O primeiro assunto do debate entre os candidatos Wilson Witzel (PSC) e Eduardo Paes (Dem), ocorrido na quinta-feira (25), na Rede Globo, foi o que mais interessava à população do estado. Afinal, o candidato do PSC, desconhecido da sociedade até o final do primeiro turno, venceu a primeira fase do pleito apresentando-se como um juiz que tinha um forte passado de combate à corrupção.
Uma reportagem da revista Veja, com depoimentos e trocas de mensagens, comprovaram uma ligação íntima e estreita de Witzel com Luiz Carlos Azenha, um comparsa do Nem, o maior traficante do Rio de Janeiro, que foi preso por tentar dar fuga ao traficante e tentar também subornar a Polícia Federal. Azenha, que foi flagrado escondendo Nem no porta-malas de seu carro, informou na reportagem que era coordenador da campanha de Witzel. Ele mostrou várias fotos e as diversas trocas de mensagens, onde aparece um pedido do candidato para que ele passasse em sua casa [de Witzel] para pegar o dinheiro. Toda esta documentação, assim como os depoimentos de Azenha, foi publicada pela revista e as informações não foram contestadas judicialmente.
Eduardo Paes pediu para que ele explicasse esses fatos. Witzel desconversou solenemente e não falou uma palavra sobre o tema. Tentou mudar de assunto e falar sobre segurança pública. O adversário, é claro, insistiu. “O senhor não respondeu”, disse Paes. “Está tudo lá na revista, tem, fotos, tem trocas de mensagens, as declarações do Azenha se dizendo seu amigo, o senhor não pode deixar de responder que dinheiro era aquele para pagar o comparsa do traficante, que foi preso tentando subornar a polícia”, disse Paes.
A dúvida da população, se tinha realmente escolhido alguém confiável, certamente aumentou muito com a segunda negativa de Witzel em explicar, como queria o seu adversário, suas relações, a troca de mensagens, as fotos, juntos abraçados, e o pagamento ao comparsa de Nem, o maior traficante do Rio. Até porque, lembrou Paes, a imagem de que Witzel tinha experiência no combate ao crime organizado era falsa.
Ele era juiz no Espírito Santo e, “quando foi ameaçado por criminosos de lá, pediu transferência para um Vara e Fazenda aqui no Rio”. “Teve uma atuação muito apagada na justiça. Ficou conhecido ao aparecer num vídeo ensinando como extrair mordomias do Judiciário com manobras imorais. Apesar de ter residência própria, o ex-juiz, que costuma dar carteirada, recebeu meio milhão de auxílio moradia”, denunciou Paes.
Duas outras questões não esclarecidas, que já vinham provocando a queda mais recente de Witzel nas pesquisas do segundo turno, foram levantadas no debate e também não respondidas por ele. A primeira é o fato dele falar da Lava Jato como se tivesse cumprido algum papel de destaque nas investigações sobre corrupção na Petrobrás. Ao contrário disso, “ele mostrou ligações com elementos integrantes do crime organizado, como é o caso do advogado do Nem”.
A outra questão levantada no debate foi a ligação de Witzel com o Pastor Everaldo, presidente do PSC. Quando Paes foi caracterizado como ‘candidato de Cabral e Pezão’, o ex-prefeito informou à população que Witzel era ‘candidato do pastor Everaldo’, chefe do PSC. Até aí, isso não comprometia muito, apesar de Witzel ter escondido esse fato, essa ligação estreita dele com o pastor Everaldo. Mas, o que é mais significativo é que, Witzel fala tanto em Lava Jato, etc, mas, o seu chefe, o Pastor Everaldo é investigado pela Lava Jato por ter recebido R$ 6 milhões da Odebrecht para ajudar o tucano Aécio Neves, outro alvo da Lava Jato, nas eleições de 2014. Fernando Reis, ex-diretor da Odebrecht Ambiental, afirmou, em depoimento à Polícia Federal, que a empresa pagou e orientou o chefão do PSC, e de Witzel, a fazer perguntas ‘inócuas’ ao tucano em debates de TV em 2014.
SÉRGIO CRUZ