“A contratação de Moro por essa empresa é um pouco mais grave do que simplesmente lamentável”, afirmou o senador Randolfe Rodrigues
A decisão de Sérgio Moro de se tornar sócio-diretor da consultoria norte-americana Alvarez & Marsa, empresa que atua como administradora judicial do Grupo Odebrecht, empreiteira que em várias ações foi condenada por Moro com base nas acusações da Lava Jato, revela inabilidade política do ex-ministro e o coloca mais distante do cenário político de 2022.
Esta é a avaliação de políticos que viam em Moro uma das alternativas a Bolsonaro para a próxima disputa presidencial. Um dos mais entusiasmados com a possível candidatura de Moro, o senador Álvaro Dias, do Podemos, foi cauteloso ao analisar a decisão do ex-juiz. “Não sei qual será o trabalho, se haverá alguma relação com o interesse da empresa comum”, opinou. “Segundo soube, ele prestará serviço em outra área da empresa que não terá relação com o caso”, disse ele.
Já o senador Major Olímpio (PSL) foi mais enfático na crítica à decisão de Moro de aceitar participar de uma empresa que administra os interesses da Odebrecht. “Não conheço os termos, mas acho que ele deu um tiro no próprio saco e não no pé”, disse Olímpio, ao site de notícias UOL.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) também criticou a decisão. “Hoje, o maior algoz da Lava Jato chama-se Sergio Moro”, destacou.
Rodrigues tem críticas à condução das investigações pela força-tarefa do Ministério Público Federal e de algumas decisões judiciais do caso, mas reconhece a importância da Lava Jato ter desvendado grandes esquemas de corrupção.
“A contratação de Moro por essa empresa é um pouco mais grave do que simplesmente lamentável”, argumenta o senador amapaense. “O doutor Sergio Moro entrou em rota descendente desde que aceitou ser ministro do governo Bolsonaro e essa é só mais uma contradição gravíssima com a trajetória que ele tinha construída”, acrescentou Randolfe.
Insistindo na inabilidade política que o levou a assumir o Ministério da Justiça de Bolsonaro, Moro minimiza o estrago e tenta se defender, dizendo não haver conflito de interesses em seu novo cargo como sócio-diretor da consultoria americana Alvarez & Marsal.
A empresa atua no processo de recuperação da Odebrecht – empreiteira que fechou acordo de leniência com a Lava Jato e viu 77 de seus executivos fecharam acordo de delação premiada, entre eles o patriarca Emílio Odebrecht e seu filho Marcelo Odebrecht, que foi condenado por Moro em diferentes ações penais.
Do ponto de vista legal, o ex-ministro realmente encontra quem sustente sua decisão. O problema apontado por seus aliados é que o tema não está restrito apenas à esfera legal, mas principalmente refere-se à esfera da política.
O professor de Direito Penal do Mackenzie Humberto Fabretti, afirma não há ilegalidade em Moro aceitar o trabalho. “Como ex-juiz, ele só não pode advogar por três anos perante o tribunal ao qual pertencia. Como ex-ministro, não poderia exercer a advocacia por seis meses, segundo decisão do Conselho de Ética da Presidência da República”, afirmou.
O procurador aposentado Carlos Fernando dos Santos Lima, ex-integrante da Lava Jato, avalia que não há nada de errado no novo emprego de Sergio Moro. “É uma falsa discussão, não vejo ligação da atividade dele com a administração da Odebrecht”, disse Carlos Fernando, em resposta ao UOL.
“É um escritório de consultoria grande e Moro tem o direito de trabalhar”. Para o procurador, é a essência da democracia que cada um tenha liberdade de fazer o que a lei não proíbe. “A menos que queiram que Moro vire asceta e vá viver de luz do sol. Ele tem direito a trabalhar honestamente”, defendeu.
Também professor de Direito Penal da PUC-SP, Paulo Cunha Bueno disse não haver qualquer infração legal. “Ele já não é mais magistrado, não tem jurisdição ou influência alguma sobre o processo. Além disso, não exerce qualquer função pública e está sendo contratado por uma atividade no âmbito privado. Não há qualquer impedimento legal que inviabilize a aceitação da função”, afirmou Cunha Bueno.