A queda na produção e emprego em junho “vem em linha com a perda do ritmo de crescimento devido à política monetária”, segundo a economista da entidade, Paula Verlangeiro
Os empresários da indústria qualificam as taxas de juros elevadas e demanda interna insuficiente como os principais problemas enfrentados pela indústria brasileira no segundo trimestre deste ano, de acordo com a pesquisa “Sondagem Industrial” da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgada na segunda-feira (19). Ao todo foram ouvidos 1.599 empresários de pequenas, médias e grandes indústrias, entre 1º e 11 de julho.
“Em junho de 2023, a indústria apresentou piora em seu desempenho, com registro de queda na produção e no emprego industrial”, destacou a entidade, que ressalta no comunicado da pesquisa que “os estoques ficaram acima do planejado pelas empresas” no período. “A queda desses indicadores vem em linha com a perda do ritmo de crescimento devido à política monetária” do Banco Central, criticou a economista da CNI, Paula Verlangeiro.
A insatisfação dos empresários da indústria com os juros altos no Brasil, que avança desde 2022, se intensificou neste ano com a demanda interna fraca causada pelos juros em níveis inacessíveis do Banco Central, que, ao travar o consumo de bens e serviços e os investimentos, está desacelerando a economia do país.
No segundo trimestre, o índice da CNI que mensura a facilidade de acesso ao crédito apresentou alta de 2,8 pontos, passando de 38,0 pontos para 40,8 pontos, acima da média da série histórica (39,8 pontos). “Não obstante, o índice segue distante da linha de 50 pontos, o que sinaliza dificuldade do empresário industrial em obter crédito”, destacou a CNI.
Com a redução das compras do varejo, os fabricantes estão vendo o volume de suas mercadorias se abarrotarem em seus armazéns. De acordo com a CNI, o índice que mede o nível de estoque efetivo em relação ao planejado aumentou 1,3 ponto em junho, registrando 52,6 pontos. “O que significa que o excesso de estoques se ampliou na passagem de maio para junho”, ressaltou também a entidade.
Em maio deste ano, as vendas do comércio varejista registaram quedas na modalidade restrita (-1,0%) e na modalidade que inclui as vendas de veículos, motos, partes e peças e material de construção (-1,1%), segundo dados do IBGE. Com o resultado, o comércio varejista está 3,6% abaixo do patamar recorde registrado em outubro e 2021.
Os juros altos também estão sendo apontados pelos comerciantes como fator limitante para tocar os negócios, segundo um levantamento feito pela Fundação Getulio Vargas (FGV), que demonstra que, em maio, 23,8% dos comerciantes culparam os juros altos neste quesito, o maior resultado do levantamento para todos os meses de maio desde 2016.
No mês passado, após o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciar que manteve a Selic em 13,75% ao ano, a CNI emitiu uma nota criticando a decisão do colegiado alertando que tal decisão “é equivocada e impõem riscos à economia”. Conforme cálculos da entidade, entre a reunião de 2 e 3 de maio e a última reunião do órgão (21 de junho), a taxa de juros real – que desconsidera os efeitos da inflação esperada – subiu de 8,1% ao ano para 9,2% ao ano.
Em junho, de acordo com o IBGE, o IPCA registrou deflação de 0,08%, elevando a pressão pela derrubada dos juros do BC.
“É importante lembrar que a Selic em nível elevado foi um dos principais fatores de desaceleração da atividade econômica no final de 2022 e continua comprometendo significativamente a atividade em 2023”, diz trecho da nota.
De acordo com o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) do BC, divulgado no início desta semana (17), a atividade econômica do país recuou 2% em maio, frente ao resultado de abril (0,56%). Esse é o maior tombo registrado pelo IBC-Br desde março de 2021, quando a economia recuou 3,6%. O IBC-Br é considerado uma “prévia” do Produto Interno Bruto (PIB), oficialmente divulgado pelo IBGE.