O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, anunciou que pediu demissão ainda nesta segunda-feira (29).
Ele deixa o cargo depois de ter fracassado nas relações com outros países para agilizar a aquisição de vacinas e insumos, além de ter indisposto o país contra o maior parceiro econômico do Brasil, a China.
O comunicado de que vai deixar o Ministério foi passado por Ernesto Araújo para seus subordinados, na segunda-feira (29). A informação é do jornal O Globo. O governo ainda não confirmou a demissão de Ernesto Araújo.
Mesmo com a pressão, Bolsonaro insistia em dizer que Ernesto Araújo era um bom ministro. Para ele, Araújo é uma “boa pessoa”, “bem intencionado” e “leal ao governo”. Discípulo do astrólogo Olavo de Carvalho, ele era prestigiado pelo presidente.
As idéias esdrúxulas de Ernesto Araújo eram inspiradas por Bolsonaro, entre as quais a repulsa às vacinas, à ONU (Organização das Nações Unidas), à OMS (Organização Mundial da Saúde), a defesa da cloroquina, a hostilidade à China, a subserviência a Donald Trump, ex-presidente dos EUA, o negacionismo, etc.
Até mesmo aliados de Jair Bolsonaro, como os presidentes do Senado e da Câmara, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e Arthur Lira (PP-AL), já estavam pedindo a demissão de Ernesto Araújo. Parlamentares, governadores e prefeitos ecoaram nos últimos dias suas vozes pela demissão de Ernesto Araújo, cuja permanência no cargo ficou insustentável.
Rodrigo Pacheco disse que “a política externa do Brasil ainda está falha, precisa ser corrigida, é preciso melhorar a relação com os demais países, inclusive com a China, porque é o maior parceiro comercial do Brasil”.
As relações com a China foram estremecidas depois de diversas provocações de Ernesto Araújo e outros ministros do governo Bolsonaro, como Abraham Weintraub, ex-ministro da Educação, contra o país. Some-se ainda o filho de Bolsonaro, Eduardo, que hostilizou a China repetidas vezes, em suas redes sociais.
Em abril de 2020, um mês depois do coronavírus chegar ao Brasil, Ernesto Araújo chamou-o de “comunavírus” e disse que sua propagação era parte de um “projeto globalista” da China, que, em sua visão, quer dominar o mundo.
À frente do Ministério, Araújo conseguiu, com seus ataques constantes, atrapalhar a importação de insumos para a vacina da China e da Índia.
No sábado (27), mais de 300 diplomatas divulgaram uma carta pedindo a saída do chanceler, afirmando que sua permanência poderia causar “graves prejuízos para as relações internacionais e a imagem do Brasil”.
“A crise da Covid-19 tem revelado que equívocos na política externa trazem prejuízos concretos à população”, afirmaram.
No domingo (28), Ernesto Araújo publicou em seu Twitter uma conversa que teve com a senadora Kátia Abreu (PP-TO), presidente da Comissão de Relações Exteriores, sobre a tecnologia 5G no Brasil. Segundo Araújo, Kátia Abreu falou que ele seria “o rei do Senado” se trouxesse a tecnologia.
O episódio causou mais uma onda de revolta entre os parlamentares, que voltaram a pressionar por sua saída. Agora, quando anuncia sua demissão, os congressistas comemoraram.
Marcelo Freixo (PSol-RJ), líder da minoria na Câmara, disse que Ernesto Araújo “vai tarde, muito tarde. O próximo passo é responder na Justiça por boicotar a vacinação ao gerar conflitos com a China, nosso principal fornecedor de insumos”.
O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) ironizou e disse que Ernesto Araújo “caiu da terra plana”.
O youtuber Felipe Neto acredita que Araújo foi “o pior chanceler que o Brasil já teve. O desastre que ele causou na imagem internacional do país levará um bom tempo para consertar”.
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