“Guru” do bolsonarismo, Olavo de Carvalho mentiu como de costume e negou à Polícia Federal manter relação com o presidente Jair Bolsonaro e seus filhos Eduardo e Carlos, respectivamente deputado federal e vereador na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
Em depoimento prestado no bojo do inquérito das milícias digitais, o misto de ideólogo e astrólogo também tentou minimizar vínculos com seus discípulos no Brasil, notórios integrantes das milícias que disparam fake news e ataques à democracia pelas redes sociais, como o blogueiro Allan dos Santos.
Sobre Bolsonaro, ele disse que somente conversou com o chefe do Executivo em quatro ocasiões: três delas por telefone, com duração de cerca de dois minutos a ligação, “por motivo de data festiva ou congratulações”, e uma presencialmente na Embaixada do Brasil nos EUA.
Com relação aos filhos do presidente, Olavo disse não se lembrar se chegou a conhecer pessoalmente Carlos e citou Eduardo apenas como um dos alunos de um curso de cinco dias ministrado em 2019 nos Estados Unidos. Essa última indicação também foi feita quanto ao blogueiro bolsonarista Allan dos Santos.
Olavo afirmou, entretanto, ter sido convidado por Bolsonaro para ocupar o cargo de ministro da Educação ou da Cultura. Ele disse que recusou o convite, mas indicou os nomes de Ernesto Araújo para as Relações Exteriores e Ricardo Vélez para a Educação. Os dois foram nomeados e depois exonerados dos cargos, após destruir os órgãos que ocuparam.
O “guru” negou ainda ter saído do país para fugir do depoimento marcado com a PF. Em novembro, o astrólogo viajou de carro do Brasil para o Paraguai evitando passar pela imigração, depois de ter sido intimado a dar explicações no inquérito que investiga as milícias digitais. No país vizinho, ele embarcou em um voo para os Estados Unidos, onde mora e produz seus vídeos para o YouTube.
No depoimento à Polícia Federal, realizado em 24 de novembro por meio de videoconferência, ele apresentou uma versão com contradições sobre sua saída do Brasil para o Paraguai.
Olavo disse que viajou até o país após receber um convite de um suposto aluno chamado Pedro, amigo de seu filho Luiz Conzaga de Carvalho Neto, para que conhecesse seus alunos paraguaios, bem como a cidade de Assunção.
O dublê de vidente sustentou que “Pedro” enviou um carro para São Paulo com dois motoristas paraguaios para pegar ele e sua esposa. O ideólogo disse ainda que não conseguiu se encontrar com seu filho e, em razão de a viagem ter sido “mais cansativa do que imaginava”, quis voltar logo para os Estados Unidos.
Em um primeiro momento, Olavo disse que as passagens de Assunção para Miami foram pagas por ele, compradas diretamente no aeroporto, em dinheiro. No entanto, a versão acabou sendo desmontada pela PF, que conseguiu documentos mostrando que a compra foi realizada pela esposa, em São Paulo, em uma agência de turismo.
O ideólogo ainda foi confrontado pelos investigadores sobre sua alta da clínica onde estava internado no Brasil. O “professor” bolsonarista estava no Brasil desde julho, tendo vindo para fazer um tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS).
Olavo chegou a dizer que não obteve alta, mas seus médicos teriam dito que ele estava em condições de viajar e assim “teria aproveitado a oportunidade”.
A corporação contestou a informação, indicando que, segundo a clínica, a alta se deu por “evasão do paciente”.