Depois de quatro anos celebrando o Dia da Consciência Negra sob um governo da intolerância e do racismo, a palavra “esperança” voltou a ser pronunciada pela comunidade negra do país e pelo próprio presidente eleito, que no dia de ontem (20) homenageou os negros e negras lembrando que a “data da morte de Zumbi dos Palmares marca uma triste página do Brasil que não podemos esquecer. Mas também recorda a luta do povo negro por sua libertação”, disse Lula.
Lula afirmou que “ainda hoje, existe um racismo silencioso e cúmplice, que se expressa nas oportunidades negadas à maioria do povo pela cor da pele”, e que “o racismo é filho do ódio e da intolerância e desumaniza a todos nós. E por isso é uma luta de todos”.
Para o presidente eleito, só podemos construir um Brasil sem racismo, “cultivando o amor e o respeito, com igualdade de direitos e oportunidades”. “Se quisermos um futuro de justiça e democracia, precisamos ser antirracistas”, completou Lula.
O pensamento de celebração e esperança na mudança é corroborado pelo vice-presidente nacional do CNAB (Congresso Nacional Afro-Brasileiro), Irapuan Santos, ao falar sobre o Dia da Consciência Negra.
“O nosso contingente populacional negro é o que mais tem sofrido com a falta de emprego, com os cortes na educação, o fechamento das escolas, com o fosso social das desigualdades que se aprofundou nesses quatro anos. Portanto, o momento em que conseguimos unir o conjunto das forças políticas e sociais, respaldadas pela mobilização popular, e derrubamos esses muros e castelos, para restabelecer a democracia ameaçada e reconstruir a Nação através de um programa nacional de desenvolvimento, é um momento de celebração”.
“Perdemos centenas de milhares de vidas. Milhares de famílias foram dilaceradas. A fome voltou a assolar o país, mas, nós, negros, que representamos a maioria do povo brasileiro, votamos maciçamente pela mudança”, disse Irapuan.
“Agora é hora de nos unirmos numa grande frente nacional para colocar novamente o Brasil nos eixos, com emprego, aumento do salário mínimo, investimentos em saúde, educação, infraestrutura, cultura”.
Para Ubiraci Dantas de Oliveira (Bira), vice-presidente nacional da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e também vice-presidente nacional do CNAB, agora que “derrotamos Bolsonaro, é abrir caminho para a melhoria de vida”. Segundo Ubiraci, “a luta contra o racismo passa por a gente conseguir uma liberdade plena onde o povo tenha vez, onde os trabalhadores tenham vez. Quanto mais o país for desenvolvido, quanto mais estiver crescendo, mais a comunidade negra terá condições de viver com dignidade”.
“Por isso, a questão central é a democracia, o desenvolvimento e crescimento do país com a política voltada para o mercado interno, desenvolver o mercado interno, reduzir drasticamente as taxas de juro e aumentar o investimento público”, afirmou Ubiraci.
Conforme Bira, precisamos “de uma política de saneamento básico nos locais onde mora a imensa maioria do povo negro, que mora em bairros em que há esgoto a céu aberto, onde as crianças ficam expostas a doenças. Precisamos de escolas de qualidade para que nossa juventude não fique servindo de alvo para a polícia militar. Para isso é preciso ter uma política de educação ampla. Necessitamos de uma política de emprego, com valorização dos salários, para poder dar melhores condições de vida aos nossos filhos. Isso passa pelo fortalecimento da indústria nacional, acabando com esse tripé macroeconômico e reduzindo juros para aumentar o investimento na produção. Não podemos ficar imobilizados por esse negócio de teto do gasto”.
