Em uma carta aberta enviada ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, o Centro das Indústrias de Curtume no Brasil (CICB) diz que 18 marcas internacionais cancelaram a compra de couro do Brasil.
Segundo a entidade, as empresas cancelaram a compra de couro brasileiro por conta das notícias que relacionam as queimadas na Amazônia ao agronegócio e à irresponsabilidade ambiental do governo Bolsonaro.
Entre as marcas que já solicitaram a suspensão de compra de couro estão Timberland, Dickies, Kipling, Vans, Kodiak, Terra, Walls, Workrite, Eagle Creek, Eastpack, JanSport, The North Face, Napapijri, Bulwark, Altra, Icebreaker, Smartwoll e Horace Small.
“Recentemente, recebemos com muita preocupação o comunicado de suspensão de compras de couros a partir do Brasil de alguns dos principais importadores mundiais. Esse cancelamento foi justificado em função de notícias relacionando as queimadas na região amazônica ao agronegócio do país. Para uma nação que exporta mais de 80% de sua produção de couros, chegando a gerar US$ 2 bilhões em vendas ao mercado externo em um único ano, trata-se de informação devastadora”, afirmou José Fernando Bello, presidente executivo do CICB.
Bello afirmou que a entidade está tentando reverter o quadro, mas pede “ao ministério uma atenção especial sobre a realidade que já nos é posta, com a criação de barreiras comerciais por importantes marcas ao produto nacional”.
Segundo a CICB, baseadas em dados do ministério da Economia, as exportações de couros e peles referentes ao mês de julho de 2019 atingiram o valor de US$ 84,2 milhões (R$ 350 milhões), um aumento de 8,4% em relação ao mesmo mês do ano passado.
Entre janeiro de julho, o principal destino do produto foi a China, com 23,7% do total das exportações, seguido pela Itália, com 17,3%, e Estados Unidos, com 16,6%.
QUEIMADAS
A Amazônia, do início do ano até esta terça-feira (27), já sofreu 43.421 focos de incêndio neste ano. Somente neste mês foram 27.497, sendo um valor mais alto que a média para o mês inteiro registrada nos últimos 21 anos, que foi de 25.853 focos, segundo dados do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Para o bioma, este é o mais número de focos de incêndio para o mês desde 2010, quando houve 45.018. Mas aquele foi um ano de seca histórica na região.
FRIGORÍFICOS
Não é a primeira vez que a política de Bolsonaro coloca em risco as exportações brasileiras e as relações comerciais com outros países. Em janeiro deste ano, a Arábia Saudita, maior comprador de carne de frango do Brasil, desabilitou a importação de cinco frigoríficos brasileiros. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o país árabe descredenciou 33 unidades habilitadas a exportar o produto, de um total de 58.
O ex-secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa, afirmou em Davos, que a decisão da Arábia Saudita é uma retaliação ao governo de Jair Bolsonaro, em função da decisão de transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém. “O mundo árabe está enfurecido (com o Brasil)”, disse o diplomata.
“Essa é uma expressão de protesto contra uma decisão errada por parte do Brasil. Muitos de nós não entendemos o motivo pelo qual o novo presidente do Brasil trata o mundo árabe desta forma”, acrescentou.
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Vice-presidente diz que carta foi “equivoco”
Após a repercussão da carta do Centro das Indústrias de Curtume no Brasil (CICB), José Fernando Bello, presidente-executivo da entidade, negou que empresas importadoras de couro do Brasil vão suspender compras do produto. Segundo ele, o anúncio da suspensão se tratou de um “erro de pré-avaliação” da entidade: “A carta foi divulgada (pelo próprio CICB) antes da checagem com a empresa importadora. Esse importador estaria supostamente suspendendo as compras. Foi um equívoco nosso. Vamos corrigir a informação junto ao governo federal”.
Empresas confirmam fim da compra
Na noite de quarta-feira (28) a VF Corporation, proprietária das marcas, confirmou que não vai mais comprar couro do Brasil.
Segundo a companhia, a medida vale “até que haja a segurança” de que os materiais usados em seus produtos “não contribuam para o dano ambiental no país”.
A empresa, com sede nos Estados Unidos, disse que a decisão resulta de estudos que foram aprimorados a partir de 2017 para garantir que os fornecedores estejam de acordo com seus requisitos (leia a nota na íntegra ao fim da reportagem). No entanto, não foi detalhado por que o material brasileiro não atende a essas regras e nem desde quando a medida está em vigor.
Leia a íntegra da nota da VF Corporation
Em nossos negócios, a VF desenvolve e implementa políticas para alinhar nossas decisões de negócios com o Propósito da VF de empoderar movimentos de estilo de vida ativo e sustentável para a melhoria das pessoas e do planeta.
Por muitos anos, a VF Corporation e nossas marcas implementaram políticas de abastecimento que mantém os valores da VF a respeito de matérias primas. Desde 2017, nós aprimoramos nosso abastecimento global de couro através de estudos para garantir que os fornecedores de couro estejam de acordo com nossos requisitos de abastecimento responsável.
Como um resultado desse estudo detalhado, não conseguimos assegurar satisfatoriamente que nossos volumes mínimos de couro comprados de produtores brasileiros sigam esse compromisso. Sendo assim, a VF Corporation e suas marcas decidiram não seguir abastecendo diretamente com couro e curtume do Brasil para nossos negócios internacionais até que haja a segurança que os materiais usados em nossos produtos não contribuam para o dano ambiental no país.