Diante da paralisia do governo federal, o governador defende que estados possam adquirir vacinas aprovadas em outros países. Paulo Câmara e Wellington Dias apoiam. “Situação de emergência permite a medida”
Diante das evidências cada vez maiores de que o governo Bolsonaro não está fazendo os esforços necessários para garantir a imunização da população brasileira contra a Covid-19, os governadores já se movimentam para garantir que suas populações sejam protegidas.
O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), informou que entrou no STF com uma ação para garantir que os estados possam vacinar suas populações.
“Ingressei ontem com ação judicial no Supremo. Objetivo é que estados possam adquirir diretamente vacinas contra o coronavírus autorizadas por Agências sanitárias dos Estados Unidos, União Europeia, Japão e China. Com isso, estados poderão atuar, se governo federal não quiser”, informou o governador, nesta terça-feira (08), em suas redes sociais.
O governo de São Paulo anunciou na segunda-feira (07) que a vacinação em massa vai se iniciar no estado em 25 de janeiro.
Numa demonstração clara de que pretende seguir sabotando a vacinação da população brasileira, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), instituição que deveria ser técnica, mas que vem sendo aparelhada por Bolsonaro, divulgou nota questionando o anúncio do governo de São Paulo e dando sinais de que pretende retardar ou mesmo impedir o uso da CoronaVac, a vacina que está em fase final de testes.
A nota da Anvisa foi divulgada em seguida ao anúncio do governo paulista de que o Instituto Butantan, em parceria com a empresa chinesa Sinovac, está em condições de iniciar a vacinação em 25 de janeiro.
Esta é a segunda vez que a Anvisa divulga uma nota com posicionamento a respeito de anúncios feitos pelo governo de São Paulo. Na primeira vez, após uma entrevista do governador João Doria, afirmou que a “aprovação de vacina por autoridade regulatória da China” não libera aplicação no Brasil.
A Anvisa alega que ainda faltam “vários passos” para a liberação da CoronaVac. A agência disse que o Butantan ainda não enviou todos os dados da fase três de testes e que o relatório da inspeção na fábrica da SinoVac pode ficar para depois de 11 de janeiro.
O secretário-executivo do Centro de Contingência contra a Covid-19 de SP, João Gabbardo, disse que o anúncio não é precipitado. “Como nós teremos 40 dias entre a entrega do resultado da fase 3 e o prazo para iniciar a campanha de vacinação no estado de São Paulo, entendemos que seja o suficiente para que a Anvisa possa fazer as suas análises”, disse o secretário-executivo.
Na segunda-feira, após o anúncio de São Paulo, governadores se reuniram com o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, para cobrar o plano de vacinação do governo federal. No entanto, o nível de desorganização do governo Bolsonaro é tal que, desde agosto, o Ministério da Saúde não se encontra com fabricantes de seringas. As três fabricantes no país ainda não receberam encomenda para produção de uma leva grande.
Antes do encontro com Pazuello, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, foi questionado se os estados poderão aplicar vacinas que não tenham passado pela aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Câmara respondeu que a legislação aprovada no Congresso no início da pandemia com regras para agilizar o combate à Covid-19 prevê a possibilidade de se usarem vacinas que já tenham sido aprovadas por agências internacionais, mesmo antes do aval da Anvisa.
“Tem que avaliar caso a caso, e a própria legislação aprovada este ano já prevê essas cooperações entre as agências reguladoras no mundo tudo”, disse o governador. “Onde tiver vacina que tenha eficácia, que tenha registro, verifique se esse registro está adequado com a normas brasileiras e vamos vacinar a população. É isso que a gente vai pedir aqui hoje ao ministro”, acrescentou.
Wellington Dias, governador do Piauí, também se manifestou a favor do uso de vacinas já aprovadas em outros países. O governador do Piauí ainda cobrou o governo federal para que as vacinas sejam aplicadas no Brasil inteiro ao mesmo tempo.
“Se um estado começar isoladamente a fazer vacinação, o Brasil inteiro vai correr para lá, vai ter uma situação gravíssima. Ou seja, tem que pensar um plano nacional”, afirmou Dias.
Diante da paralisia do governo, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), também se posicionou e disse que o Legislativo definirá o plano de vacinação contra a Covid-19, caso o Executivo demore muito.
Segundo ele, a sociedade “entrará em pânico” se não houver planejamento definido. Até hoje, o governo tinha acordo só com a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford, do Reino Unido, e a farmacêutica AstraZeneca. No entanto, esta vacina apresentou problemas durante os testes e deverá se atrasar.