A economista aposentada Maria Eduarda Marques de Carvalho denunciou o ex-marido, o ex-secretário de Justiça de Pernambuco, Pedro Eurico, pelas violências, agressões e estupros sofridos ao longo dos 25 anos de casamento.
Em entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo, exibida no domingo (12), ela afirmou que foi vítima de estupros recorrentes e contou detalhes da rotina de agressões: “ele cuspia em mim”.
A defesa de Maria Eduarda afirmou que o que ex-secretário foi indiciado por cinco crimes: estupro consumado, lesão corporal, perseguição, violência psicológica e descumprimento de medida protetiva.
Na entrevista, Maria Eduarda lembrou a série de violências sofridas durante o relacionamento com Pedro Eurico. A primeira aconteceu quando os dois ainda eram namorados, três anos após o início do relacionamento, que começou quando ela tinha 29 anos e ele, 45.
“Ele me disse que não aceitava que eu não quisesse viver com ele, casar com ele, morar com ele. E ele me pega pela cabeça, pelo pescoço, puxa meu cabelo e mete a minha cabeça no armário do quarto e eu caio desfalecida”, afirmou a economista sobre a primeira agressão que sofreu.
Isso aconteceu em 2000, quando Maria Eduarda prestou queixa contra Pedro Eurico pela primeira vez. Foram dez boletins de ocorrência em 21 anos.
“Foi quando eu fui à delegacia, prestei a primeira queixa, fiz o laudo do IML [Instituto de Medicina Legal], que eu tenho até hoje, e passei muito tempo sem falar com ele [Pedro Eurico], com muito medo dele, evitando, fui para a casa de um irmão meu que morava no Janga, em Paulista, e passei um tempo em estado de choque, porque eu nunca tinha sofrido violência física”, afirmou Maria Eduarda.
Depois do primeiro caso de agressão, segundo a vítima, Pedro Eurico mudou de atitude por um tempo, o que a fez pensar que as violências não ocorreriam novamente. No entanto, foram duas décadas de agressões e ameaças de morte, que resultaram em dez boletins de ocorrência.
“Durante o dia inteiro, ele me monitorava. E eu não aceitava, não aceitava. Foi quando começaram as primeiras agressões. […] Nós reatamos, ele demorou, me mandava muitas flores, muito gentil, demorou muito para ele retornar, começar”, declarou Maria Eduarda.
Ela disse, ainda, que foi vítima de estupros recorrentes e contou detalhes da rotina de agressões. Questionada sobre a violência mais chocante durante os 25 anos de relacionamento, Maria Eduarda afirmou que foram as violências sexuais.
“O que mais me chocou? O estupro, a violência sexual, ele me forçar a ter relações na hora que ele quisesse. Várias vezes. Ele me puxava violentamente, tirava minha roupa violentamente. Eu fazia: ‘Mas eu não quero agora, eu não quero’, e ele dizia que dava mais vontade dele ter naquela hora. Eu chorava na hora, durante o ato, eu chorava. Para mim, foi o que mais me amedrontou, mais me violentou”, disse.
TESTEMUNHAS
Além das denúncias e das provas, as agressões sofridas por Maria Eduarda tinham testemunhas. Também em entrevista ao Fantástico, o filho do primeiro casamento de Maria Eduarda, Geraldo José Carvalho Cisneiros, relembrou as vezes em que o ex-padrasto usava ele para chantagear a própria mãe.
“Me pegava na escola e ia dar a volta comigo. Durante esse período, ligava pra ela para dizer que estava comigo, queria que ela [mainha] voltasse para ele. Usava a gente, usava. Sempre”, disse.
A empregada doméstica que trabalhava para o casal, Jordânia Dias Pontes, relatou, em entrevista, as diversas agressões que presenciou. Em depoimento à polícia, a empregada contou que Pedro Eurico trancava ela dentro do apartamento para que não impedisse as surras.
“Ele vivia o tempo todo correndo atrás dela dentro de casa pra bater nela. Eu gritava. Sempre gritava”, disse.
Jordânia se recorda da maior agressão que presenciou. “Ele deu tanto nela, mas tanto nela, que o aparelho, na época ela usava aparelho, os lábios dela estavam grudados no aparelho e sangue descendo. Eu chorava junto com ela”, relembrou.
Em outra ocasião, Maria Eduarda estava com uma crise de dor causada pela fibromialgia. Jordânia recordou que Pedro Eurico xingou a então esposa e mandou que ela se levantasse para ir trabalhar. “Aí ele chegou perto dela e chutou ela e cuspiu na cara dela”, completou.
GOVERNADOR PROMETE APURAÇÃO
Com a repercussão das denúncias, Pedro Eurico pediu exoneração do cargo, que ocupava há seis anos. A defesa dele vai pedir que novas testemunhas sejam ouvidas ainda na fase de inquérito. O ex-secretário negou as acusações.
Sobre o caso, entidades de defesa dos direitos da mulher e a Ordem dos Advogados do Brasil pediram investigação e punição rigorosa a Pedro Eurico, que também já foi secretário da Criança e Juventude. Após o inquérito ser concluído pela Polícia Civil, o governador Paulo Câmara se pronunciou e prometeu celeridade ao caso.