“Está vendo que vai ser derrotado, resolveu extremar. Estamos numa democracia representativa, vamos pressionar nossos representantes no Congresso. O caminho legítimo é esse”, apontou
O economista Edmar Bacha, diretor do Instituto de Estudos de Política Econômica/Casa das Garças, afirmou que a postura que vem sendo adotada por Jair Bolsonaro constitui uma ameaça à democracia e que, se os ataques do presidente às instituições não cessarem, o caminho será defender a abertura de um processo de impeachment contra o chefe do executivo.
“Ele chegou a um ponto que realmente virou uma ameaça à democracia brasileira. Está desafiando as instituições democráticas, não somente o Judiciário, mas o sistema eleitoral”, disse Bacha em entrevista ao jornal “O Globo”.
Ex-diretor do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e um dos signatários do manifesto lançado por empresários, intelectuais, economistas, lideranças políticas e religiosas em defesa do sistema eleitoral, o economista advertiu que, além das ameaças ao Estado Democrático de Direito, a postura de Bolsonaro oferece risco para o crescimento do país, que vai precisar de investimento e tecnologia quando a economia se recuperar da crise da pandemia.
“Havia a crença de que a Faria Lima (avenida que abriga o centro financeiro do país, na cidade de São Paulo) não iria fazer nada. Enquanto a Bolsa estiver subindo e a economia estiver crescendo, os empresários vão ficar satisfeitos. Tem um ministro que se diz a favor do mercado. Mas nós sabemos distinguir os nossos interesses empresariais do que é fundamental, que é o Brasil, o valor da democracia, o valor supremo. Temos lei, regras, respeito à Humanidade”, disse.
Segundo Edmar Bacha, a adesão maciça ao manifesto em apoio à democracia – que já reúne mais de 17 mil assinaturas, mostra que a expectativa no meio empresarial é que a retomada do crescimento só vai acontecer com um governo que sabe o que está fazendo.
“Este está demonstrando que está perdido. Um presidente que não se concentra em questões fundamentais e está criando instabilidade nesse nível. Se não há investimento, não haverá crescimento”, observou.
Bacha avaliou ainda como “inaceitável” o desafio de Bolsonaro às instituições democráticas. Ele opinou que, se a pressão da sociedade não surtir efeito no comportamento do presidente, o jeito será mesmo pressionar o Congresso para votar o impeachment.
“Ele não pode continuar na presidência. Está vendo que vai ser derrotado, resolveu extremar. Estamos numa democracia representativa, vamos pressionar nossos representantes no Congresso. O caminho legítimo é esse”, pontuou.
Sobre um eventual envolvimento das Forças Armadas em uma aventura antidemocrática, o ex-diretor do BNDES pontuou: “Não é crível que o Exército de Caxias se comporte dessa forma. Está perdendo prestígio com a população”.