A Eletrobrás realizou, no último dia 27, leilão de participação em Sociedades de Propósito Específico (SPEs) de geração eólica e de transmissão. Dos 18 lotes de ativos colocados à venda pela empresa, foram vendidos 11 lotes. A estatal arrecadou R$ 1.296 bilhão, dos 3,1 bilhão que esperava arrecadar com a venda de todos os ativos.
Abaixo, publicamos artigo do engenheiro Eduardo Mota Silveira, publicado no site ILUMINA, onde ele questiona e analisa, entre outras coisas, o “açodamento” da estatal em realizar esse tipo de operação às vésperas da eleição presidencial, e o valor do lance fixado pela empresa, que ele classifica de “aberração”.
“(…) Se trata de um conjunto de parques eólicos EM OPERAÇÃO, de construção recente. Por que foi fixado um valor tão baixo para o lance mínimo, se para construir um projeto novo teria que ser investido mais que o dobro?”
ENGENHEIRO EDUARDO MOTA SILVEIRA*
Na data de 27/09/2018, ocorreu o leilão concebido pela Eletrobrás, para vender suas participações em Sociedades de Propósito Específico – SPEs, empresas com foco em parques eólicos e linhas de transmissão.
De início, é importante notar que estamos a dez dias das eleições presidenciais, o que significa que um novo gestor da nação pode discordar in totum da ação hoje empreendida pelo MME/Eletrobrás. A boa prática recomendaria cautela no processo, deixando-o para data futura mais adequada, evitando-se assim, inclusive, a reclamação de interessados que se queixaram do pouco tempo que tiveram para avaliar os projetos. Daí, a ocorrência de vários lotes vazios, sem nenhum lance. O açodamento dos gestores do Setor Elétrico propiciou essa condição.
Do leilão, como um todo, faço a seguir um rápido comparativo sobre o emblemático caso das eólicas que eram partilhadas pela Chesf, subsidiária da Eletrobrás, com o grupo Brennand.
Foram vendidos no leilão de hoje (27/9) 49% do controle das SPEs referentes a um conjunto de eólicas pertencentes aos sócios Brennand e Chesf, perfazendo este parque uma potência total de 250 MW.
Em outras palavras o setor estatal ELB/Chesf abriu mão da posse de 122,5 MW de potência eólica instalada na região Nordeste, mais precisamente nas proximidades do rio São Francisco, e o valor da venda foi o próprio preço mínimo fixado para o Leilão, qual seja, R$ 232 milhões. Nenhum centavo a mais.
Daí compõe-se um preço unitário de R$ 1.893.877,60 por MW para a potência descartada pela ELB/Chesf. Atenção, não descurar que se trata de um conjunto de parques eólicos EM OPERAÇÃO, de construção recente.
Saindo do Leilão de hoje, conforme dados que podem ser consultados na página da ANEEL, no 28º Leilão de Energia Nova A-6 ocorrido recentemente, no dia 31/08/2018, os projetos eólicos totalizaram uma potência vendida de 1.250,7 MW. O investimento total estimado correspondente é igual a R$ 5.834.750.180,00. Ou seja, constatou-se nesse leilão um valor médio unitário estimado de R$ 4.665.187,64/MW, para construção, montagem e colocação em operação de cada um dos novos projetos,
Daí, caberia ao investidor o seguinte questionamento: por que vou correr o risco de começar um projeto do zero, se vem o gestor máximo da Eletrobrás e coloca no tabuleiro do jogo um projeto pronto, em perfeitas condições operacionais, para ser vendido a risco zero, por menos da metade do preço de um novo?
Como se explicaria isso? O argumento de que se faz necessário reduzir o endividamento geral da Empresa para algo em torno de 3 vezes a relação entre a sua dívida líquida e o seu EBITDA não pode ser usado indiscriminadamente, sob pena de se cometer uma aberração como esta acima descrita.
Cabe repisar a dúvida: por que foi fixado um valor tão baixo para o lance mínimo, se para construir um projeto novo teria que ser investido mais que o dobro? As variáveis financeiras prevalecem sobre a lógica da engenharia e da venda de parte de um patrimônio de uma empresa de estado?
Nenhum agente do judiciário ou dos tribunais de conta, ambos os setores com atividades tão em voga nos dias presentes, se interessaria em aprofundar uma análise sobre uma questão como essa, que deixa transparecer um cheiro de fumaça no ar? Eis a questão.
O ILUMINA pede licença ao autor para acrescentar mais uma informação sobre as incríveis coincidências que ocorrem no Brasil:
Mozart Siqueira Campos Araujo – Senior Electrical Engineer at Brennand Energia (a empresa que ganhou o lance das eólicas baratinhas).
Conselho de Administração da Eletrobrás
Membro / Cargo
José Luiz Alquéres / presidente
Carlos Eduardo Rodrigues Pereira / conselheiro representante dos empregados
Mozart de Siqueira Campos Araújo / conselheiro independente
Wilson Ferreira Junior / conselheiro e diretor-presidente (executivo)
José Pais Rangel / conselheiro representante dos acionistas
* Publicado em http://www.ilumina.org.br