Sem defesas contra os gringos, Brasil foi devastado
Em plenária nacional realizada pelas centrais sindicais, no último dia 27, mais de 200 dirigentes sindicais condenaram de forma inédita e explícita o dogma do neoliberalismo: “o tripé macroeconômico”.
De acordo com a carta unitária aprovada, “sabemos que a retomada do crescimento econômico, baseada em uma política desenvolvimentista que resgate a capacidade de investimento do Estado, precisa romper com o famigerado tripé macroeconômico neoliberal: câmbio flutuante, juros altos, metas inflacionárias subestimadas e superávit primário. Se impõe também uma corajosa política de taxação das grandes fortunas, tributação do capital rentista e revisão da tabela de imposto de renda que incide sobre os salários”. E segue: “Outro entulho neoliberal que precisa ser removido é a Lei Kandir que anistia o agronegócio com isenções fiscais nas operações de exportação. Sem essas medidas não teremos os recursos necessários para financiar um novo ciclo desenvolvimento e de políticas públicas inclusivas”.
A plenária, realizada de forma virtual, faz parte do Fórum Social das Resistências 2022 (FSR2022). A carta unitária foi referendada, divulgada neste domingo e lançada sob desígnio de construir “uma frente programática para as eleições de 2022 e derrotar Bolsonaro”.
O desastre neoliberal brasileiro
Segundo a carta, a pandemia agravou ainda mais a economia brasileira. O PIB caiu 4,1%, encerrando a década iniciada em 2011 com declínio anual do produto per capita de 0,6%, de acordo com a FGV. O pior desempenho em 120 anos. Estima-se que mais de 7 milhões de postos de trabalho foram destruídos e quase a metade da população em idade ativa (49%) não encontra ocupação. O exército de desempregados, desalentados e subocupados ronda 29 milhões de pessoas.
O encontro teve como palestrantes Clemente Ganz Lúcio, sociólogo e assessor do Fórum das Centrais Sindicais e Altamiro Borges (Miro), jornalista e presidente do Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé.
A reconstrução nacional
Para Clemente, “o sistema produtivo nacional foi completamente destruído por um modelo econômico que prioriza o rentismo e o neoliberalismo. É uma situação de calamidade semelhante à de um país destroçado por uma guerra. O projeto de reconstrução nacional deve primar pela proteção laboral”, destacou. Também apontou a importância do processo eleitoral. “2022 é um ano fundamental. Temos a tarefa de convencer a sociedade para que façam uma outra escolha, para que a sociedade possa se transformar numa sociedade desenvolvida”.
Para Altamiro Borges são fundamentais os movimentos que o ex-presidente Lula vem fazendo em busca de uma unidade que contemple setores amplos da sociedade, e que caberá à Classe Trabalhadora ser protagonista e levar adiante esse processo histórico. Segundo Miro, como é conhecido, “mais do que nunca, o sindicalismo precisa fazer política de classe. “2022 será o ano da política. Será o ano da batalha da barbárie contra a civilização, do fascismo contra a democracia”.
A Unidade
Segundo Guiomar Vidor, presidente da CTB/RS, “a Plenária de Convergência, organizada pelas centrais sindicais, demostrou a disposição de unidade e luta da classe trabalhadora na construção de um projeto de reconstrução nacional, para garantir o desenvolvimento econômico, a geração de empregos, a distribuição de renda, a democracia e o reestabelecimento dos direitos retirados pelos governos de Temer e Bolsonaro”.
Para o presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci, o documento tem como propósito entender qual é o “nosso lugar neste momento da história”. Conforme destacou o dirigente, o texto visa a unidade numa frente de luta com eixos centrais, com a centralidade no mundo do trabalho e do trabalhador, seja ele formal, seja ele informal. “Precisamos ter a perspectiva de incluir esses milhões de precarizados. Não podemos perder isso de vista”, destacou.
“Ir para as cabeças”
Adilson Araújo, presidente nacional da CTB, afirmou que os sindicalistas precisam ocupar espaços de opinião para além das redes sociais e envolverem-se de maneira muito forte em todo o processo eleitoral deste ano, apresentando candidaturas, formando comitês de campanha, debatendo a situação nacional nas igrejas, nas associações de bairro e, principalmente, nos locais de trabalho. Concluiu destacando a necessidade urgente de realização da CONCLAT (convocada pelas centrais para 11 e 12 de abril) de modo que o conjunto das entidades sindicais possam construir a unidade necessária para enfrentar esse enorme desafio que é a reconstrução do Brasil.
Segundo o presidente nacional da CUT, Sergio Nobre, as eleições desse ano podem definir o que será do país nos próximos 20 anos. “Se a gente vencer é a nossa oportunidade de ressuscitar o Brasil e retomar o caminho do desenvolvimento. Avançar para uma sociedade organizada, com sindicatos fortes. Não vai ser uma batalha fácil. Não é só ganhar o governo. É preciso ter uma base forte organizada para avançar”, advertiu. Esse é o ano da nossa vida. Não tem tarefa mais importante para a classe trabalhadora do que derrotar o Bolsonaro”, destacou Sérgio Nobre.