Pasta requisitou todas as 6 milhões de doses da CoronaVac que estão disponíveis. “Importação da Índia” foi conversa fiada. Governo paulista pretende ir ao STF para garantir doses proporcionais à população do Estado
O Ministério da Saúde enviou um ofício ao Instituto Butantan, nesta sexta-feira (15), exigindo o entrega de todas as seis milhões de doses da vacina CoronaVac, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o órgão paulista, após o governo da Índia confirmar que não enviará as 2 milhões de doses da vacina AstraZeneca que foram prometidas por Bolsonaro.
O ofício foi encaminhado pelo Ministério da Saúde ao presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas. Nele, o diretor do Departamento de Logística em Saúde, Roberto Ferreira Dias, exige a disponibilização de todas as 6 milhões de doses importadas e que foram objeto do pedido de autorização de uso emergencial perante a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
“Ressaltamos a urgência na imediata entrega do quantitativo contratado e acima mencionado, tendo em vista que este Ministério precisa fazer o devido loteamento para iniciar a logística de distribuição para todos os estados da federação de maneira simultânea e equitativa, conforme cronograma previsto no Plano Nacional de Operacionalização da vacinação contra a covid-19”, diz trecho do documento.
Em resposta o Instituto Butantan concordou em fornecer as doses, após aprovação da Anvisa, deixando em São Paulo a parcela de imunizantes proporcional à população do Estado, como acontece com todas as outras vacinas distribuídas nacionalmente pelo Instituto.
“Cumprimentando-o damos por cientes da solicitação de V. Senhoria, contida no ofício supra referenciado, atinente ao fornecimento imediato de 6 milhões de doses importadas da vacina contra COVID-19. Informamos, a esse respeito que estamos providenciando o faturamento da quantidade mencionada das vacinas, com a respectiva emissão da nota fiscal. Entregaremos a totalidade das doses requeridas; e solicitamos que vossa senhoria nos informe o quantitativo a ser destinado ao estado de São Paulo para que o mesmo seja entregue diretamente ao CDL-SES-SP como de praxe para as demais vacinas produzidas pelo Instituto Butantan. Aguardamos orientação de vossa senhoria quanto ao início da campanha de vacinação, com confirmação de data e horários definidos, considerando que deverá ocorrer simultaneamente em todos os estados do Brasil. Por fim, ressaltamos que a disponibilização deverá ocorrer tão logo seja concedida a autorização pela agência reguladora”, afirmou o Instituto Butantan.
Mais cedo, em coletiva de imprensa, o governador João Doria (PSDB), afirmou que as 6 milhões de doses da vacina estão prontas e disponíveis para vacinação e que 4,5 milhões de doses serão encaminhadas, a partir de segunda-feira (18/1), para um centro de distribuição e logística do ministério, no Terminal de Cargas do Aeroporto Internacional de Guarulhos.
Na coletiva, Doria disse que planeja encaminhar 75% das doses ao Ministério porque o restante cabe proporcionalmente ao estado de São Paulo, devido à quantidade de habitantes. “Não faz sentido encaminhar vacina ao Ministério da Saúde para depois o ministério encaminhar de volta a São Paulo”.
Segundo ele, as doses que ficam representam “a cota proporcional daquilo que sempre foi feito no sistema de imunização”. “O mínimo critério é o de proporcionalidade de população, acrescentando a isso São Paulo é o estado mais casos e óbitos da doença”, disse.
Após a tentativa de confisco, o governo de São Paulo pretende ir ao Supremo Tribunal Federal (STF) para garantir que as doses do imunizante de direito do Estado permaneçam em São Paulo, da mesma forma que fez no caso das seringas.
Pouco depois da chegada do ofício ao governo de São Paulo, Jair Bolsonaro reagiu às declarações do governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Mais cedo, Doria havia se referido ao chefe do Executivo federal como “facínora”, após ser questionado sobre a atuação do presidente diante da crise que o Amazonas vive, com o avanço da Covid-19 na região.
Com internações batendo recordes, unidades de saúde de Manaus ficaram sem oxigênio. O estado amazonense está sendo obrigado a enviar pacientes para outros estados.
“Será que o Brasil que você deseja para seus filhos e seus netos é o Brasil de Jair Bolsonaro? É o país de alguém que fala ‘E daí’, ‘Pressa pra quê?’ ‘Já fiz o que pude’, ‘O Brasil está quebrado’. Não, esse não é o Brasil que eu amo, esse não é o Brasil que eu gosto, esse não é o Brasil que eu defendo”, respondeu o governador, em referência a algumas declarações polêmicas de Bolsonaro.
Após o pronunciamento do chefe do Executivo paulista, Bolsonaro concedeu uma entrevista ao Brasil Urgente, da TV Band. Na ocasião, o presidente da República disse que Doria é um “pilantra”, que o governador “não tem coragem moral” e que ele “não é homem”.
“Um dos estados que tem mais infectados [pela Covid-19] é o Estado de São Paulo. Eu sei que aí tem também o maior número de habitantes. Ele quer jogar a responsabilidade pra cima de mim? Será que ele tem coragem moral, porque homem ele não é, nós sabemos que esse pilantra aí não é homem, de criticar o Supremo Tribunal Federal, que falou que eu não posso interferir? Eu tô cometendo um crime, Datena, por interferir, por ajudar. E não o contrário”, disse Bolsonaro, em tom irritado.