Nesta segunda-feira (31), o Comitê de Cultura do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) da capital paulista realiza encontro entre os trabalhadores do carnaval com a deputada estadual e ícone do samba, Leci Brandão, junto com o deputado federal Orlando Silva, para debater os impactos do adiamento do carnaval e a grave situação por que passam os trabalhadores do samba que atuam na maior festa brasileira. A atividade tem como objetivo pensar caminhos para aplacar os impactos do adiamento dos desfiles nas vidas destas pessoas.
Os Desfiles das Escolas de Samba de São Paulo estavam marcados, inicialmente, para os dias 25, 26, 27 e 28 de fevereiro, com o desfile das campeãs no dia 5 de março. Com o agravamento da pandemia, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) anunciou, na noite da sexta-feira (21), o adiamento dos desfiles para o feriado prolongado de Tiradentes, a partir 21 de abril, uma quinta-feira.
O presidente da União das Escolas de Samba Paulistas (UESP), Alexandre Magno, afirma que os sambistas estão “preocupados com os repasses financeiros programados antes do adiamento do carnaval, pois caso também sejam adiadas as datas das parcelas da subvenção e da programação do pagamento da infraestrutura, toda a cadeia produtiva será afetada”.
Magno afirma que fevereiro é fundamental para toda a cadeia produtiva do carnaval, uma vez que é o mês em que está programada “a entrega da maioria dos produtos e serviços na realização do evento, gerando assim, uma anomalia no fluxo de caixa das agremiações carnavalescas e nas empresas do setor do carnaval”.
“Os profissionais que estão trabalhando ativamente nos barracões, ateliês e outros serviços diretos e indiretos, terão seus pagamentos interrompidos, já que o mês de fevereiro é fundamental economicamente”, alerta o presidente da UESP.
Antes do adiamento, a orientação do governo do Estado de São Paulo, do dia 12 de janeiro, era para que os municípios reduzissem em 30% a presença de público em eventos esportivos, musicais e atividades em geral que possam provocar aglomerações. A mudança se deu em momento de alta no número de casos de Covid-19, mas não foram divulgadas medidas para socorrer os trabalhadores do carnaval que estão na iminência de ver perdida sua renda com a mudança de data.
É para pensar nos caminhos de superação desse impasse que tem colocado essas pessoas em maior estado de apreensão e vulnerabilidade que a atividade foi convocada. A reunião começa às 18 horas na Rua Doutor Jorge Miranda, 691 – no Bairro da Luz e é aberta a todos os trabalhadores do carnaval.
Para Candinho Neto, dirigente da Banda do Candinho Musical Brasil Internacional e jornalista Carnavalesco, o adiamento atinge a empregabilidade direta e indireta desde as costureiras, artesãos, aderecistas e até mesmo profissionais artistas, acarretando perda no ganho financeiro no sustento de famílias inteiras que sem o Carnaval perigam passar por necessidades básicas desde alimentos ao pagamento de aluguéis, condomínios e outras despesas do cotidiano”.
“Os carpinteiros, pintores e serralheiros da construção civil estão trabalhando. Os das escolas de samba, não. As costureiras da alta muda, estão trabalhando, as das escolas de samba, não. Os músicos de todos os seguimentos estão trabalhando, os das escolas de samba, não. Os artistas de modo geral estão trabalhando, os das escolas de samba, não. Enfim, o mundo está trabalhando, o mundo das escolas de samba, não”, ressalta o compositor Aquiles da Vila.
O Carnaval paulistano gera cerca de 25 mil empregos, diretos e indiretos, durante todo o ano e principalmente no período de pré-Carnaval, em trabalhos temporários ou pontuais nos dias de evento. As agremiações (14 do grupo especial, 8 do grupo de Acesso e 12 do grupo de Acesso II) contratam individualmente, para preparação e execução dos desfiles, profissionais da economia criativa para a criação e execução de alegorias e fantasias e para o elenco que desfila. Emprega-se, também, profissionais para transporte, produção, alimentação.
Isso sem contar com os inúmeros blocos de carnaval que, a cada ano, crescem na cidade em número e em participação de público, gerando empregos diretos e indiretos com a produção dos desfiles, com os inúmeros ambulantes que comercializam, entre outras coisas, comidas e bebidas.
Os desfiles no Anhembi levam cerca de 120 mil espectadores ao sambódromo do Anhembi para assistir a 34 escolas de samba em quatro dias. Alexandre firma que a UESP é favorável ao adiamento do carnaval devido ao aumento de casos provocado pela variante Ômicron, e defende que a medida visa defender a vida das pessoas.
“Entretanto, sabemos que existe um ataque, sincronizado, para responsabilizar o carnaval pela disseminação da Covid-19 no Brasil, por uma parte da sociedade, que se manifesta através de argumentos infundados, covardes, falaciosos, carregados por uma fala de ódio e preconceito que esconde mais uma das faces do racismo estrutural no país. Inclusive, são essas mesmas pessoas que frequentam ou estão frequentando outros eventos, neste exato momento, e esquecem do princípio da isonomia porque sabem que podem pregar a desigualdade em um país totalmente tolerante à injustiça”, diz Magno.