Mirando na memorável campanha das “Diretas Já!”, que enterrou a ditadura que Bolsonaro quer de volta, o movimento pretende unir todo o Brasil em defesa da democracia
Oposicionistas de todo o espectro político democrático anunciaram que estarão presentes às manifestações contrárias ao fascsmo de Bolsonaro, contra seus arroubos golpistas e em defesa da democracia. A principal delas será na Avenida Paulista, na capital de São Paulo, mas outras 15 capitais também anunciaram que realizarão atos pelo “Fora Bolsonaro”.
Inicialmente os atos estavam sendo convocados pelo Movimento Brasil Livre (MBL), mas os violentos ataques às instituições da República, as ameaças abertas à democracia por parte de Bolsonaro, no 7 de Setembro, e as arruaças feitas na esplanada e nas estradas brasileiras por caminhões de algumas empresas ligadas ao agro, transformaram os atos do domingo, dia 12, em amplas manifestações democráticas contra o fascismo.
Unificando-se na palavra de ordem “Fora Bolsonaro!”, o ato deste domingo na Avenida Paulista já começa a ser visto como um caminho para a viabilização de movimentações semelhantes à vitoriosa Campanha da Diretas Já!, da década de 80, liderada por entidades como ABI, OAB, CNBB e outras, além dos partidos políticos, que colocaram por terra a ditadura que Bolsonaro insiste em querer reimplantar no país.
A UNIDADE QUE DERROTOU A DITADURA
BRASIL SE LEVANTA CONTRA O FASCISMO DE BOLSONARO
Segundo o Instituto Datafolha, 75% dos brasileiros repudiam a ideia de volta da ditadura e o impeachment de Bolsonaro passou a ser considerado por diversos setores como uma alternativa política para barrar os intentos golpistas e antidemocráticos de Bolsonaro e suas milícias. Setores importantes da imprensa e do empresariado, inclusive a Febraban (entidade dos bancos) já se manifestaram recentemente contra os ataques à democracia.
Depois do pronunciamento firme do presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, que mostrou bem a Bolsonaro quais são os limites impostos pela Corte Constitucional, o presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, afirmou, em entrevista à rádio CBN, um dia após as ameaças de Bolsonaro, que a postura golpista do presidente “foi um sequestro do 7 de Setembro” e que “a sociedade espera, do Senado e da Câmara, uma atitude firme em defesa da democracia”.
ESTUDANTES MOBILIZADOS CONTRA A VOLTA DO ARBÍTRIO
Em entrevista ao HP, Bruna Brelaz, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), afirmou que o ato de domingo “pode ser o momento de conseguir ampliar o diálogo para que outros setores façam parte das mobilizações pelo Fora Bolsonaro”. “A UNE, nas resoluções de seu último congresso, aprovou a campanha pelo Fora Bolsonaro. Então toda e qualquer manifestação que tenha esse objetivo precisamos dar força”, completou Bruna.
Lucca Gidra, diretor da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (UMES-SP), afirmou que “é fundamental que todos participem dos atos contra o governo Bolsonaro, não apenas os estudantes, mas toda a sociedade. A gente não pode ter medo da amplitude. Só é possível fazer um real combate contra o fascismo, contra esse governo obscurantista, ampliando nossas forças nas ruas”.
CRESCE A OPÇÃO PELO IMPEACHMENT DE BOLSONARRO
Diversos partidos de oposição e independentes se reuniam nesta semana e concluíram por unanimidade que Bolsonaro cometeu “crime de responsabilidade”, portanto passível de abertura, por parte do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de processo de impeachment. Os presidentes dos partidos de oposição PSB, PDT, PT, PCdoB, Psol e Rede —, os líderes destas legendas na Câmara dos Deputados e, ainda, os presidentes e líderes do Cidadania, Solidariedade e PV estavam na reunião e discutiram iniciativas comuns diante da gravidade da situação política nacional.
PSB, PDT, PCdoB, Cidadania, Rede, Solidariedade, PV, Novo, parlamentares e representantes do PSDB, MDB, DEM, do Novo, do Avante, do Psol, do Patriota, do PL e PSL já confirmaram presença. Estarão no palanque: o ex-governador Ciro Gomes (PDT), a senadora Simone Tebet (MDB), o senador Alessandro Vieira (Cidadania), o deputado Orlando Silva (PCdoB), a deputada Isa Penna (Psol), o deputado Marcelo Ramos (PL), vice-presidente da Câmara, o ex-ministro Henrique Mandetta (DEM), o deputado Kim Kataguiri (DEM), um dos organizadores do ato, João Amoedo, presidente do Novo, Alessandro Molon (PSB), Tábata Amaral (PDT), André Janones (Avante), Artur do Val (Patriota) e outras lideranças políticas.
Apesar do Psol não ter confirmado presença no ato, a deputada estadual Isa Penna usou as redes sociais para falar das manifestações. A parlamentar afirmou que vai participar dos atos. “É HORA DE SE UNIR NAS RUAS CONTRA BOLSONARO! Punho levantado No dia 12 de setembro estão programados atos “Fora Bolsonaro” em todo o país. Eu vou. E nós, da esquerda, precisamos estar presentes”, escreveu.
O presidente do PSDB municipal, Fernando Alfredo, informou que o partido está unido em São Paulo pelo palavra de ordem “Fora Bolsonaro” e que toda a militância da capital está sendo convocada a comparecer ao ato da Paulista neste dia 12. Ele disse também que o partido a nível estadual também e nacional está unido na oposição a Bolsonaro.
GOVERNADOR JOAO DORIA APOIA O MOVIMENTO EM DEFESA DA DEMOCRACIA
O governador João Doria manifestou apoio à luta pela democracia após os ataques de Bolsonaro. “Como cidadão, como brasileiro, defendo e apoio todos que se manifestarão, seja em São Paulo, seja em qualquer outra cidade do país, no próximo dia 12, a favor da democracia, a favor da liberdade, a favor da Constituição, e favor, principalmente, da maioria expressiva dos brasileiros”, disse. Doria não confirmou se estará presente na manifestação. De acordo com ele, sua presença ou não, “ainda está em avaliação”.
O presidenciável Ciro Gomes afirmou que vai ao ato. “Irei à manifestação do dia 12 na Avenida Paulista e sempre tentarei ir a outras manifestações que forem convocadas contra Bolsonaro. Seja qual for o sacrifício e risco que isso represente, há algo maior que tudo: o futuro do Brasil e da nossa democracia”, disse o ex-governador. O partido de Ciro, inclusive, anunciou que irá distribuir 2 mil rosas na Paulista durante a manifestação.
O Presidente Nacional do Cidadania, Roberto Freire, postou um vídeo em que o deputado federal Alex Manente convoca as pessoas para os atos, inclusive dando as localizações das manifestações em São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro. “O líder do Cidadania, deputado Alex Manente convocando para a manifestação do próximo domingo 12 de setembro na Avenida Paulista. A unidade das oposições nas redes e nas ruas . Impeachment já!”, disse Freire.
O deputado Orlando Silva (PCdoB) defendeu a ampliação da luta contra Bolsonaro. “Não podemos cair na armadilha de 2022. A lógica não pode ser se os atos vão fortalecer ou enfraquecer determinado candidato. O nosso problema é enfrentar Bolsonaro hoje. Se eu for subordinar a disputa que fazemos hoje em defesa da democracia, contra o Bolsonaro, à disputa eleitoral, eu vou diminuir a dimensão do debate. Então, a minha expectativa é que as lideranças de esquerda possam participar da manifestação que tem como núcleo a defesa da democracia”, argumentou.
CENTRAIS SINDICAIS CONVOCAM TRABALHADORES A DAREM UM BASTA A BOLSONARO
Cinco das maiores centrais sindicais do país decidiram convocar as manifestações pelo impeachment de Jair Bolsonaro marcadas para 12 de setembro. Força Sindical, CTB, UGT, CSB e Nova Central tomaram a decisão de convocar seus filiados após os discursos do presidente no Sete de Setembro.
Com as presenças dos deputados federais Orlando Silva (PCdoB) e Kim Kataguiri (DEM), as centrais sindicais se reuniram com o Movimento Brasil Livre (MBL), na sexta-feira (11) para fechar a participação dos trabalhadores no ato deste domingo, 12 de setembro, pelo impeachment de Bolsonaro.
Em nota, as centrais afirmam que a participação de Bolsonaro nos atos desta terça-feira (7) foi deplorável. “É inquestionável que o objetivo do Presidente e de seus apoiadores é dividir a Nação, empurrar o país para a insegurança, o caos e a anarquia, resultado da reiterada incitação ao rompimento da legalidade institucional, do descumprimento dos preceitos contidos na nossa Constituição democrática”, diz o texto.
“Seu único interesse é permanecer aferrado ao poder mesmo que isso signifique romper a legalidade democrática, visto que é cada vez mais evidente seu isolamento político e a perda de apoio popular, em suma, seu projeto de reeleição escorre entre os dedos”, completa o texto, assinado por Miguel Torres (Força), Adilson Araújo, Ricardo Patah (UGT), Antonio Neto (CSB) e José Reginaldo Inácio (Nova Central).
O presidente da CTB, Adilson Araújo, afirmou que a central está convocando os trabalhadores para a manifestação do dia 12 para defender os seus direitos e a democracia. “Devemos acompanhar, não somente esta manifestação, como as muitas que virão. O que nos move é ganhar as ruas contra a alta da inflação, o crescimento do desemprego e da miséria, o custo de vida”, disse ele.
Para o dirigente da CTB, o movimento em defesa da democracia e dos direitos exige mais amplitude a cada dia. “Precisamos de algo muito maior para imprimir uma derrota ao desgoverno Bolsonaro. Depois do dia 12, teremos também o dia 18, uma iniciativa do Fórum Direitos Já”, adianta o sindicalista. “Penso que tudo isso reforça o sentimento que, com Bolsonaro, não dá mais”, completa Adilson.
O cantor Tico Santa Cruz também afirmou que irá para as ruas contra o presidente da República, mesmo não concordando com algumas pautas do MBL: “Estarei nas manifestações do dia 12 de setembro, organizadas pelo MBL pelo ‘VemPraRua’ – não significa que apoio às pautas ideológicas que dentro do campo democrático devem ser debatidas. Significa que sou capaz de deixar as diferenças de lado para pedir FORA BOLSONARO”, disse o músico.
A presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), a deputada pelo Paraná Gleisi Hoffmann, diz que não foi procurada pelo MBL para falar sobre a manifestação. “Eu espero que o movimento do dia 12 possa ser realizado, e tem toda legitimidade para ser. Nós não fomos procurados para participar da construção desses atos. Nem por isso vamos falar mal, eles têm que acontecer”, afirmou a parlamentar.
Assim como nas campanha das Diretas Já, na década de 80, houve, no início das mobilizações, certa dificuldade de compreensão por parte de algumas forças políticas da importância que tinha a ampliação daquele movimento para que se pudesse colocar um fim à ditadura. Mas, assim como este problema acabou sendo resolvido lá atrás, certamente ele o será também agora, quando o fascismo bate às porta do Brasil. É só manter firme o leme da luta.