Os entregadores de aplicativos, que durante a pandemia do Covid-19 se tornaram essenciais e uma das categorias mais expostas à contaminação, convocam uma paralisação nacional na próxima quarta-feira, 1º de julho.
Segundo a categoria, com o aumento da demanda pelo serviço de entregada em meio à pandemia do coronavírus, o lucro dos aplicativos aumentaram, mas nenhum reajuste foi repassado aos trabalhadores.
Uma pesquisa feita por integrantes da Rede de Estudos e Monitoramento da Reforma Trabalhista (Remir Trabalho) da Unicamp apontou que, durante a pandemia, a categoria teve uma piora significativa nas condições de trabalho, com queda na remuneração e ainda tendo que arcar com os custos dos equipamentos de prevenção ao coronavírus.
Segundo a pesquisa, 68,9% dos entregadores tiveram queda de ganhos. Os que ganhavam em torno de um salário mínimo (R$ 1.045,00) antes da pandemia eram 17%. Agora essa proporção dobrou (34%). Ou seja, 1/3 desses trabalhadores ganham até um salário mínimo por mês.
Antes da crise, 51% dos entregadores afirmavam ganhar acima de dois salários mínimos (R$ 2.090,00). Agora, esse índice caiu para 26,7%. Quem informou ganhar acima de 4 salários mínimos (R$ 4.180,00) eram 9% e caiu para 3%.
Ao mesmo tempo em que a remuneração cai, aumenta a carga horária. Segundo a pesquisa, 62% dos entregadores afirmaram trabalhar mais de 9 horas por dia durante a pandemia.
Uma remuneração mínima também é reivindicação da categoria. “Até os caminhoneiros fizeram greve para reivindicar uma tabela de frete mínimo. É preciso garantir um mínimo para a subsistência e que garanta o direito ao descanso”, defende Guilherme Feliciano, especialista em direito do trabalho, e autor do livro Infoproletários e a Uberização do Trabalho.
Diante dessa situação, a categoria se mobiliza para a greve nacional. Os entregadores reivindicam reajuste nas taxas, mais segurança, alimentação durante a jornada de trabalho, licença remunerada em caso de acidentes, além do fim do sistema de pontuação e de bloqueios indevidos e o fornecimento em número suficiente de equipamentos de proteção.
De acordo com o entregador Paulo Lima, em vídeo de convocação da greve divulgada nas redes sociais, “tem entregador que pedala, pedala, pedala o dia inteiro. O cara está tão preocupado em sobreviver, que quando chega 23h ele esquece que tem que voltar para casa. Sabe o que ele faz? Ele dorme na rua porque não aguenta pedalar 30km para voltar para casa!”.
“Se querem crescimento, expansão, isso deve ser feito com responsabilidade”, disse cobrando melhores condições de trabalho para entregadores de aplicativos delivery, como Rappi, iFood, UberEats, Loggi e James.
Desde o início da pandemia, uma nota técnica do Ministério Público do Trabalho exige que as empresas garantam algum tipo de segurança aos entregadores de aplicativos, como o fornecimento de álcool em gel, lavatórios com sabão e papel toalha, espaços para higienização dos veículos e água potável para o consumo próprio, mas, segundo eles, a distribuição não é suficiente, fazendo com que os custos desses itens saiam do próprio bolso.