“O que eu me preparo? Não vou entrar em detalhes, [mas é para] um caos no Brasil. O que eu tenho falado: essa política, lockdown, quarentena, fica em casa, toque de recolher, é um absurdo isso aí”, disse Bolsonaro
Em sua viagem a Manaus na sexta-feira (23), Bolsonaro confirmou sua intenção de insistir em atrapalhar o combate à pandemia do novo coronavíirus para criar confusão no país. Ele afirmou, em entrevista à TV A Crítica, que se prepara para um eventual “caos no Brasil”.
Acusa os governadores, que estão aplicando as orientações das autoridades sanitárias para conter a pandemia, de serem os causadores da crise. Ele disse que pode determinar uma ação das Forças Armadas contra essas orientações. Bolsonaro foi recebido com protestos em Manaus.
Mas, o caos sanitário está sendo criado e mantido não pelos governadores e prefeitos, como irresponsavelmente afirma Bolsonaro, mas pela falta de vacinas, que o Planalto demorou para comprar, pela falta de insumos para intubação que o Ministério da Saúde não planejou, por falta de oxigênio que o ex-ministro Pazuello, protegido de Bolsonaro, não garantiu para os amazonenses, a crise está muito grave, mas por falta de uma coordenação nacional que Bolsonaro não fez, pelo desestímulo ao uso de máscara e pelo excesso de aglomerações, que ele estimulou de todas as formas possíveis.
“O pessoal fala do artigo 142 [da Constituição], que é pela manutenção da lei e da ordem. Não é para a gente intervir. O que eu me preparo? Não vou entrar em detalhes, [mas é para] um caos no Brasil. O que eu tenho falado: essa política, lockdown, quarentena, fica em casa, toque de recolher, é um absurdo isso aí”, disse ele. “Se tivermos problemas, nós temos um plano de como entrar em campo. Eu tenho falado, eu falo ‘o meu [Exército]’, o pessoal fala ‘não’… Eu sou o chefe supremo das Forças Armadas”, ameaçou.
“As nossas Forças Armadas podem ir para a rua um dia sim, dentro das quatro linhas da Constituição, para fazer cumprir o artigo 5º. O direito de ir e vir, acabar com essa covardia de toque de recolher, direito ao trabalho, liberdade religiosa e de culto; para cumprir tudo aquilo que está sendo descumprido por parte de alguns governadores e alguns poucos prefeitos, mas que atrapalha toda a sociedade. Um poder excessivo que lamentavelmente o Supremo Tribunal Federal delegou, então qualquer decreto, de qualquer governador, qualquer prefeito, leva transtorno à sociedade”, reclamou.
Mais uma vez Bolsonaro afronta as Forças Armadas brasileiras, insinuando que poderia jogá-las em suas aventuras autoritárias. “Se tivermos problemas, nós temos um plano de como entrar em campo. O nosso Exército, a nossa Força Armada, se precisar, iremos para as ruas – não para manter o povo dentro de casa, mas para restabelecer todo o artigo 5º da Constituição. E se eu estabelecer isso, vai ser cumprido esse decreto”, ameaçou o espalha-vírus. Ele disse que tem conversado com todos os 23 ministros sobre o que fazer caso a situação de “caos” se concretize. “Eu não posso extrapolar”, afirmou.
Bolsonaro afirmou que o Exército pode ir “para a rua” para, segundo ele, reestabelecer o “direito de ir e vir e acabar com essa covardia de toque de recolher”. A declaração foi dada em entrevista ao apresentador Sikêra Jr., do programa Alerta Nacional, da RedeTV!. Sikêra, que é um bolsonarista, disse ao chefe do Executivo federal que seus eleitores esperam uma atitude “mais enérgica do presidente da República”. Ou seja, Bolsonaro volta a agradar seus seguidores fanáticos com ameaças ao país e aos governadores. Faz isso não só para insuflar suas milícias, mas também para ajudar a disseminação do vírus.
As medidas de redução de circulação da pessoas, tomadas pelos governadores e prefeitos, juntamente com a aceleração da vacinação são consideradas no mundo todo como medidas essenciais para reduzir a disseminação do vírus. Quando Bolsonaro ataca essas medidas, como o fez de forma rasteira em Manaus, ajuda a disseminar o coronavírus e aumentar o número de mortos, que já passa de 380 mil, desde o início da pandemia.
Bolsonaro disse que as medidas de isolamento são um “poder excessivo que lamentavelmente o STF delegou [aos governadores e prefeitos]“. O capitão cloroquina citou o artigo 142, para ameaçar intervir pela Lei e a Ordem.” Especialistas lembraram que não é este o espírito do artigo e que não é o presidente da República, chefe supremo das Forças Armadas, quem decide sobre uma suposta intervenção em casos relacionados ao artigo 142 da Constituição. “São os comandantes militares.”
Recentemente, os três comandantes militares do país – Exército, Marinha e Aeronáutica – pediram demissão de seus cargos exatamente porque Bolsonaro tentou sem sucesso arrastar os militares para suas aventuras golpistas. Ele recebeu uma clara resposta dos comandantes, segundo os quais nada vai afastar as Forças Armadas de sua condição de instituições de Estado e não de governo. Agora, mais isolado e ansioso para defender o coronavírus, ele novamente repete suas bravatas golpistas. Não por outro motivo, a rejeição a Bolsonaro segue crescendo aceleradamente.
PAZUELLO, GOVERNADOR, A PIADA PRONTA…
A viagem de Bolsonaro a Manaus serviu para inaugurar um centro de convenções inacabado com capacidade para 10 mil pessoas. A visita virou um ato de desagravo ao ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, que é de Manaus. Ovacionado cinco vezes por alguns poucos simpatizantes de Bolsonaro aglomerados em um dos cantos do centro de convenções, o general foi elogiado por Bolsonaro e pelo ministro do Turismo, Gilson Machado. Ao final, os simpatizantes gritaram “Pazuello governador”.
O ex-ministro é dos principais alvos da CPI da Covid, que será instalada no Senado na próxima terça-feira (27) e que irá apurar ações e omissões do governo federal na pandemia. As declarações, feitas na região mais afetada pela pandemia, são uma demonstração inequívoca de que o capitão cloroquina vai continuar com sua campanha a favor do vírus.
Quanto ao “Pazuello governador”, parece piada pronta… Mas Bolsonaro fez coro com os apupos ao desastrado ex-ministro da Saúde. Do palco, afirmou: “Cadê o general Pazuello? Cadê ele? Venha cá. Eu fui testemunha da luta desse homem pela erradicação da doença no nosso país”.
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