Pazuello prometeu 38 milhões de doses de vacinas em março. Depois, reduziu para 30, depois, para 28 milhões. Agora, a última informação é de que talvez esse número chegue a 22 ou 25 milhões
Seguindo a sua máxima de que o capitão Bolsonaro é quem manda e ele apenas obedece às ordens do chefe, o general Eduardo Pazuello não convence mais ninguém de nada do que diz ou promete.
Já garantiu que o Ministério ofertaria 38 milhões de doses de vacina contra a Covid-19 no mês de março. Depois, reduziu a previsão para 30 milhões, depois, para 28 milhões, e a última informação é que talvez esse número chegue a 22 ou 25 milhões no máximo. Por conta da sabotagem do governo federal, o país foi o 57º país a iniciar a vacinação e só imunizou até agora pouco mais de 4% da população.
Vários Estados já estão interrompendo a vacinação por falta de doses dos imunizantes. O Rio de Janeiro é um deles. A semana vai começar sem vacina no Estado do Rio. Por trás do cinismo com que Pazuello trata os governadores, os prefeitos e o país, está o trabalho sistemático, conduzido por Bolsonaro, não só contra a compra das vacinas e a imunização da população, mas também contra todas as medidas de distanciamento social, de higiene e até o uso de máscaras.
O desgaste de Pazuello também é por conta dos cortes de verbas do Ministério da Saúde para manter os leitos de UTI abertos nos Estados em pleno agravamento da pandemia. A União está repassando apenas 15% da verba enviada no ano passado. Vários Estados estão entrando no STF para garantir os recursos que foram cortados. O Maranhão inclusive já ganhou a ação, mas, mesmo assim, o governo federal não está cumprindo e decisão judicial. A ministra Rosa Weber, do STF, deu um prazo de 48 horas para que o Ministério da Saúde libere os recursos para o pagamento dos leitos de UTI.
Além de reter as verbas dos Estados, Bolsonaro voltou a ameaçar, nesta quinta-feira (11), os governadores e prefeitos que estão tomando medidas emergenciais contra a expansão do vírus. Mesmo diante da piora da pandemia, ele estimulou aglomerações e disse que os governadores estão causando problemas econômicos ao tomarem as medidas para conter o avanço do vírus. A reação dos governadores foi imediata.
Houve uma união ainda mais forte entre eles para tomarem as providências urgentes que o governo federal não está tomando. Foi firmado um pacto nacional reunindo 22 governadores em torno das medidas sanitárias e outras ações de combate ao vírus. “Estamos tentando achar caminhos. Todo dia surge um problema com a vacinação. Não tem metas que sejam confiáveis, muda todo dia o cronograma”, disse o governador Flávio Dino (PCdoB-MA).
Flávio Dino comentou a formalização do pacto nacional lançado pelos governadores na quarta-feira (10). “Em mais de um ano de crise, é a primeira vez que temos um esforço de coordenação nacional como foi adotado em outros países. É um passo extraordinário, já que até agora estávamos no cada um por si e Deus por todos”, afirmou o governador do Maranhão sobre as iniciativas para a tomada de decisões sanitárias conjuntas e até compra de vacinas pelos Estados.
APELO DO GOVERNADOR
O governador da Bahia, Rui Costa (PT-BA), também criticou o comportamento irresponsável do governo federal diante do agravamento da crise. “Já mudou tantas vezes que, confesso, parei de acompanhar”.
“Não está dando para acreditar no que o Ministério diz, está muito difícil”, diz o senador Izalci Lucas (PSDB-DF). Segundo Izalci, “a pressão pela instalação da CPI da Covid está crescendo ainda mais”.
“Nesse momento da crise, o foco absoluto é na solução. Apontar culpados agora mais atrapalha do que ajuda. Vamos deixar o julgamento para depois”, resumiu o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB).
Diante da sabotagem do governo federal, o Consórcio do Nordeste também anunciou que vai comprar doses da Sputnik V. Eles advertem que o governo federal está demorando para assinar o contrato. Por isso estão tomando todas essas medidas. Rui Costa diz já ter acordo para 6 milhões de doses prontinho para ser assinado e o pedido feito na Anvisa.
O senador Eduardo Braga (MDB-AM) foi outro que mobilizou o seu gabinete para esmiuçar a resposta do Ministério da Saúde ao Congresso sobre o cronograma de vacinação. “Diz que está mantido, mas ele mesmo se contradiz. Se o Butantan já disse que não vai cumprir, Fiocruz também, como ele diz que é possível?
O governo é tão cínico nesta sua sabotagem às vacinas que, apesar de todos os apelos para agilizar os procedimentos para aprovar os imunizantes, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) informou que simplesmente devolveu o pedido de autorização de uso emergencial da Sputnik V. A vacina russa já está em uso em diversos países do mundo. No Brasil, ela será produzida pela empresa brasileira União Química.
Além dessa má vontade, o órgão, que foi aparelhado por Bolsonaro, aprovou o registro definitivo da vacina da Pfizer, que não está no programa de vacinação. Mais do que isso, a Anvisa autorizou também o registro do remédio Remdezivir, que custa R$ 20 mil a dose, tem pouca eficácia contra a Covid-19 e não altera a mortalidade pela doença. Na prática, a Anvisa faz tudo menos o que é importante e urgente para o país: é aprovar vacinas que podem ser entregues rapidamente. A Sputnik V é uma delas.
O mais grave é que, em plena falta de vacinas, o Planalto decidiu mandar uma delegação, chefiada pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, para ir a Israel, não para adquirir imunizantes, como era o esperado, mas na tentativa de trazer para o Brasil um spray nasal contra a Covid-19 que nem os israelenses estão usando em sua população.
Esse é mais um exemplo, entre tantos, que demonstra que o governo gasta dinheiro público para buscar toda a charlatanice que existe no mundo, mas, vacina que é o que interessa, Bolsonaro e seu ministro da Saúde não compram.