Estudantes que prestaram o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em Viçosa – MG, acompanhados de pais e de um advogado, entraram com pedido nesta segunda-feira (20) para que o Ministério Público Federal (MPF) entre com ação para suspender o prazo de inscrição no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) até a resolução de todos os problemas das correções das provas.
O Ministério da Educação (MEC) admitiu o erro em “apenas” seis mil provas que foram realizadas em novembro de 2019. Segundo o governo, os estudantes de Viçosa foram alguns dos mais afetados pelo erro na impressão dos gabaritos.
A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), do Ministério Público Federal (MPF), enviou ofício ao ministro da Educação do governo Bolsonaro, Abraham Weintraub, solicitando que a abertura do Sisu seja suspensa até que as falhas na correção do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2019 estejam solucionadas.
O pedido busca evitar que as “inconsistências na correção do Enem, já admitidas pelo MEC, venham a prejudicar milhares de estudantes” que tentam uma vaga nas universidades e institutos federais do país pelo sistema.
Entidades estudantis criticam erro e incompetência do governo
A União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), a União Nacional dos Estudantes (UNE), e a União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (UMES) se manifestaram sobre os erros nas correções do Exame Nacional do Ensino Médio e criticaram a gestão de Abraham Weintraub no Ministério da Educação (MEC).
A UNE e a Ubes entrarão com um pedido de ação civil pública no Ministério Público Federal (MPF) por danos morais após erros no Enem.
O presidente da UBES, Pedro Gorki, pede o Ministério da Educação investigue melhor os erros de correção antes de sair divulgando que se trata de um problema restrito a um grupo pequeno de candidatos. “Acho que admitir a culpa reforça a necessidade de se ter apuração rigorosa. É muito cedo para o MEC dizer que é apenas um fato isolado”, afirmou ele. “Na verdade, isso pode ser a ponta do iceberg de uma falha na organização do MEC”, salientou.
“Estamos atentos aos fatos que envolvem o #erronoenem. Se não houver correção de todas as provas ainda hoje vamos nos mobilizar e vamos à justiça pedir adiamento do SISU. E ingressaremos os no MPF com pedido de ação civil pública por danos morais, o prejuízo já é irreversível”, afirmou a UNE em seu perfil no Twitter.
Para a União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (UMES), “mais uma vez, Weintraub demonstrou a completa incompetência deste governo que não possui qualquer compromisso com os jovens e com a educação brasileira”.
“A UMES defende a realização de nova correção das provas dos estudantes que se sentiram lesados pelo ato do governo e que seja realizada uma apuração séria e imparcial sobre o problema”, destaca a entidade.
CONTRAMÃO
A Frente Parlamentar pela Valorização das Universidades Federais emitiu nota, nesta segunda-feira (20) relembrando outros erros desta edição do Enem e cobrando do MEC esclarecimentos.
“Erros acontecem, mas a ocorrência deles pode ser minimizada com gestão e responsabilidade. As mudanças no comando do Inep, órgão responsável pela elaboração e aplicação do Enem (foram três trocas de presidentes em menos de um ano), vai na contramão do cuidado que deve pautar a realização de Exame tão complexo. Cabe ressaltar também que a excessiva preocupação com suposta “ideologia” nas provas, que permeou o debate sobre o tema, não contribuiu para o principal: o aprimoramento dos procedimentos e para impedir erros”, diz a nota.
Assinada pelos deputados Alice Portugal (PCdoB), Danilo Cabral (PSB), Edmilson Rodrigues (PSOL) Túlio Gadelha (PDT) e Margarida Salomão (PT), a nota ainda cobra que “governo esclareça o que aconteceu e os motivos que levaram a essa falha, identificar sua abrangência, e indicar claramente de que forma será feita a correção das notas, de modo que não haja prejuízo aos candidatos afetados, o mais rápido possível”.
Weintraub afirmou nesta segunda-feira que a falha de correção do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) atingiu seis mil provas e reforçou que o Sistema de Seleção Unificada (Sisu) abrirá nesta terça-feira, conforme previsto inicialmente. Entretanto, levantamento do jornal “Estado de S. Paulo” apontou que mais de 75 mil candidatos pediram nova correção da prova e que todos os casos foram analisados, mas os erros só foram constatados para seis mil pessoas.
Os pedidos para uma nova correção da nota podem ser ainda maiores, já que o prazo, estabelecido pelo para questionar a correção, se encerrou às 10h desta segunda.
Pesquisadores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) disseram ter encontrado mais de um tipo de falha na correção. Inicialmente, o governo disse que o problema ocorreu por erro na identificação dos cartões de resposta dos candidatos e da respectiva cor das provas que fizeram. A falha teria ocorrido na gráfica, a empresa Valid: os arquivos com essas informações foram repassadas ao Inep com divergências. Ou seja, o aluno fez a prova de uma cor, mas a nota foi corrigida como se fosse de outra.
Segundo os servidores também houve problema com a utilização de um cartão de respostas reserva. Eles afirmam que essas falhas poderiam ter sido identificadas antes da divulgação das notas.
O Inep começou a atualizar as notas do Enem 2019 de estudantes que foram prejudicados por falha na correção. Duas candidatas e um candidato que fizeram a prova na Universidade Federal de Viçosa (UFV), onde o problema foi identificado originalmente, confirmaram que suas notas foram aumentadas no sistema do Inep.
“Mandaram no grupo do Whatsapp que haviam atualizado, fui conferir. Eu tinha acertado 36 de 45 questões de Matemática e tirado 376,3 pontos. Passou para 833,2. A de Ciências da Natureza também aumentaram 300 pontos”, disse a estudante Lívia Fialho, de 19 anos, de Viçosa.